O ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, disse hoje que gestão da água exige uma agenda “política clara” permanente e avisou que a seca em Portugal é estrutural, sendo que as reservas asseguram pelo menos dois anos para abastecimento público.
Duarte Cordeiro transmitiu esta posição na abertura do simpósio de alto nível sobre a Água, realizado no âmbito da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas (UNOC, sigla em inglês), que hoje começou em Lisboa.
“Temos de ser cada vez mais parcimoniosos no uso da água”, afirmou o ministro, acrescentado: “Temos de a poupar, em casa”, “de a preservar, nas suas fontes”, “de a usar regradamente” na agricultura, bem como de “a reutilizar para finalidades que não exijam a sua potabilidade”.
Para enquadrar a questão da necessidade de utilização parcimoniosa e de preservação deste recurso, o ministro do Ambiente e da Ação Climática referiu que Portugal está a enfrentar o segundo ano mais seco desde 1931, e que a conjugação de baixa precipitação com elevadas temperaturas diminuiu de forma drástica a água armazenada nas barragens e disponível no solo.
“Graças a uma cuidada gestão da água, as reservas portuguesas asseguram, pelo menos, dois de anos de água para abastecimento público. Mas temos de viver com restrições ou com elevados custos, em certas zonas do país, para assegurar a disponibilidade em certos reservatórios ou em certos perímetros de rega”, disse o ministro para sublinhar que não deve haver ilusões porque “em Portugal, a seca não é conjuntural, é estrutural”.
Sublinhando que as alterações climáticas “já afetam o nosso presente e condicionam decisivamente o nosso futuro”, Duarte Cordeiro precisou que, em Portugal, a precipitação diminuiu cerca de 15% nos últimos 20 anos e que até ao final do século os estudos indicam que a chuva se reduzirá ainda mais, entre 10% a 25%.
“Tal terá um efeito devastador na quantidade de água que afluirá às barragens e aos aquíferos, os nossos principais reservatórios para abastecimento humano e para a agricultura: uma redução entre 20% a 50%”, disse.
Lembrando a escassez da água doce (que representa apenas 2,5% da água) e que a seca é hoje um fenómeno global, o ministro afirmou não ter a menor dúvida sobre a necessidade de que “melhorar a governança deste recurso, a nível local, nacional, regional e transnacional é um dos […] grandes desafios”.
“Seja doce, dessalinizada ou salgada, à superfície ou em aquíferos, a água e a sua gestão exigem-nos uma agenda política clara. Não de forma circunstancial, mas permanente. A gestão da água exige reflexão, concertação e negociação”, afirmou Duarte Cordeiro, sinalizando que os desafios que se colocam hoje a Portugal e ao mundo exigem “novos modelos de cooperação entre instituições, mais agilidade na execução das políticas públicas e mais e melhor inovação partilhada”.
Neste contexto, sublinhou a vontade de Portugal em reforçar e acelerar a inovação e a cooperação a nível mundial e apontou alguns dos “desafios importantes” que se colocam, nomeadamente ao nível de uma efetiva complementaridade de origem de águas convencionais e não convencionas, do desenvolvimento da reutilização de água para fins não potáveis e da evolução para infraestruturas inteligentes.
“Em particular, a indústria do saneamento, que é, por excelência, a indústria da circularidade, tem de estar centrada na geração de valor. Podemos aproveitar o tratamento de água como fonte de matéria-prima que se pode transformar em fertilizantes, energia, bioplásticos, materiais de construção, produtos químicos diversos e, também, água para várias finalidades”, apontou.
Num simpósio que conta com a participação de governantes de vários países, Duarte Cordeiro lembrou que o investimento efetuado nos últimos anos permite que cerca de 99% da água consumida em Portugal seja segura e de qualidade, reforçando a mensagem de que, sendo a água essencial e escassa, é necessário tratá-la mais e melhor.
A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas decorre este ano em Lisboa (no Altice Arena), copresidida por Portugal e pelo Quénia, entre hoje e sexta-feira, e conta com a presença de chefes de Estado e de governo de todos os continentes.
São esperados mais de 7.000 participantes de mais 140 países, 38 agências especializadas e organizações internacionais, mais de mil organizações não-governamentais, 410 empresas e 154 universidades.