A Associação de Agricultores do Distrito de Setúbal (AADS) alertou hoje para o aumento dos custos de produção devido à seca e reclamou ao Governo medidas de apoio perante a falta de pastagens para os animais.
“Os cereais de outono-inverno já eram, todos já percebemos isso, não há simplesmente. As pastagens naturais estão acabadas e, neste momento, estamos a ser pressionados, enquanto movimento associativo, para transportar palha do estrangeiro”, revelou Joaquim Manuel, dirigente da Confederação Nacional de Agricultores (CNA), que integrou a comitiva da AADS, na comissão de Agricultura e Pescas, na Assembleia da República, em Lisboa.
Durante uma audiência parlamentar sobre a situação dos agricultores abrangidos pela Barragem de Campilhas e Alto Sado, o responsável sugeriu que o Estado português “faça a deslocação de palha e de fenos” do estrangeiro para garantir a alimentação dos animais.
“É preciso trazer [a palha] para cá e colocá-la à disposição dos agricultores”, sublinhou.
Para o dirigente, tal como “a seca é estrutural”, também as medidas para minimizar o seu impacto neste território “têm de ser estruturais”, dando o exemplo do abastecimento da água de Alqueva às “diferentes barragens” da região.
“Alqueva tem água por dois anos, conhecemos a história da cota anual que tem de ser consumida, mas, em situações de emergência, têm que se tomar medidas de emergência”, advertiu.
Para a barragem de Campilhas, no concelho de Santiago do Cacém (Setúbal), o dirigente afiançou que “há soluções que passam por um canal que vem diretamente do Roxo e que pode ser colocado à disposição dos agricultores” deste território.
“Com a atual situação alimentar que está em cima da mesa, acho que é arriscado perdermos oportunidades de ter terra parada sem que, por falta de água e com água por perto, não se tomem as devidas medidas e Alqueva tem de ser o pivô deste abastecimento”, observou.
Na audiência com os deputados do PSD, PS, Chega e PCP, o dirigente defendeu que “as medidas de enchimento destas barragens têm de ser feitas de inverno, quando há muita água disponível, que até sobra e vai parar ao mar”.
E também considerou “fundamental” que as entidades responsáveis impeçam “de forma ponderada o recurso aos aquíferos” das bacias das barragens.
“A maior parte das bacias das barragens estão perfuradas à volta para captação de águas subterrâneas que vão parar à rega que necessita. Neste momento, se despejar água em Campilhas, quem paga essa água são os regantes, mas quem a consome são outros”, afirmou.
Também a “anunciada plantação de 500 hectares de citrinos” prevista para a zona de Alcácer do Sal “com 30 ou 40 furos abertos” mereceu duras críticas por parte do dirigente.
“É preciso que as loucuras agronómicas sejam postas no sítio. Não temos nada contra isto, o que achamos é que tem de haver regras claras que impeçam a utilização de recursos que não são de quem os vem explorar e isto tem de ser avaliado com muita ponderação”, concluiu.