Com a ambição de dar resposta à problemática da contaminação por fungicidas na baga de sabugueiro, arrancou este mês o SambucuSafe. O projeto, que tem no radar a região do Varosa, resulta dos esforços de inovação de um consórcio liderado pela Regiefrutas, contando com a INDUMAPE, UTAD, IPB e o MORE CoLAB na lista de parceiros.
Graças ao projeto, financiado no âmbito do PT2030, o Varosa – que se prepara para mais uma colheita – conta agora com um importante aliado no processo de transformação de uma das culturas com crescente contributo para a economia local.
Desafios ambientais e de segurança alimentar
Ainda que o setor agrícola dependa frequentemente da utilização de produtos químicos para garantir o rendimento das culturas, os seus resíduos podem permanecer no solo, penetrar nas águas subterrâneas e dispersar para outras culturas pela ação do vento, colocando em risco o ambiente e a segurança alimentar.
No sabugueiro, normalmente localizado na bordadura de outras culturas, há uma elevada probabilidade das bagas serem contaminadas com produtos como a captana, um fungicida de largo espectro utilizado mundialmente na agricultura para o controlo de doenças e aplicado noutras árvores de fruto.
No caso concreto da baga de sabugueiro, a aplicação de captana em pomares de macieiras, numa altura próxima da apanha da baga, poderá não permitir um intervalo de segurança suficiente e, consequentemente, poderão detetar-se pontualmente em alguns lotes valores de captana acima dos limites máximos permitidos nos mostos e concentrados de baga de sabugueiro. Por outro lado, o processamento de diferentes frutos em simultâneo na mesma unidade fabril, com limites máximos de resíduos de pesticidas distintos, poderá incrementar a presença de captana por contaminação cruzada.
Mais-valia económica para o Varosa
Tal situação “poderá pôr em causa, no futuro, a valorização da comercialização de alguns lotes de mostos e concentrados da baga de sabugueiro, sendo que o sabugueiro representa uma mais-valia económica importante para os agricultores da região de Varosa”, começa por explicar Alexandre Gonçalves, coordenador técnico-científico no MORE CoLAB. “O desafio lançado pelas entidades empresariais, Regiefrutas e INDUMAPE, foi encontrar uma equipa multidisciplinar capaz de encontrar uma solução inovadora e sustentável que permitisse manter os elevados níveis de qualidade deste fruto. O Compete 2030 identificou este projeto como relevante e decidiu cofinanciar a sua execução”, acrescenta.
“As práticas tradicionais usadas para eliminação de fungicidas, pesticidas e outros compostos químicos, como a lavagem, não se adequam ao setor, uma vez que se trata de um fruto com pele fina e que se deteriora com facilidade. Para inverter essa situação, surge a necessidade de desenvolver um processo industrialmente viável, que permita reduzir a concentração de captana e/ou metabolitos no mosto e concentrado de baga de sabugueiro”, esclarece Fernando Nunes, professor do departamento de química da UTAD.
A baga do sabugueiro é uma fonte rica em diversos compostos bioativos, aos quais são atribuídos efeitos benéficos para a saúde e bem-estar. Atualmente, é utilizada para fins diversos, sendo exportada para Alemanha e Países Baixos, sobretudo como corante natural alimentar.
“A Regiefrutas, enquanto motor de desenvolvimento sustentável da baga de sabugueiro regional, considera o projeto uma mais-valia para os produtores, permitindo a redução de perdas comerciais e contribuindo para a obtenção de um produto seguro”, reforça César Pereira, responsável de qualidade e produção da Regiefrutas.
O projeto SambucuSafe surge assim com o objetivo de desenvolver uma tecnologia inovadora e “clean label” para a redução de captana e dos seus metabolitos em mostos e concentrados de baga de sabugueiro, reforçando as características de qualidade destes produtos, contribuindo deste modo para uma motivação adicional para as novas plantações de sabugueiros no nosso país.
Fonte: MORE – Laboratório Colaborativo Montanhas de Investigação