Os rios portugueses encontram-se “muito ameaçados” por espécies invasoras, quer animais, quer vegetais, devido a “perturbações prévias” que vão desde incêndios a cortes de vegetação, potenciadoras da sua propagação, segundo o ambientalista Paulo Lucas, da associação Zero.
Em declarações à Lusa, o dirigente sublinhou que a situação coloca em causa a biodiversidade dos rios.
“A invasão normalmente é mais eficaz quando há uma perturbação prévia. Aquilo que nós sabemos é que quando há cortes de vegetação ou incêndios, digamos, os espaços ficam à mercê e disponíveis para que essas plantas se instalem. A verdade é que depois, a seguir, é a colonização”, explicou.
Se houver uma “vegetação natural bem instalada”, mais dificilmente haverá a propagação, pelo que a situação acontece mais “em áreas onde houve realmente perturbação”, que pode ser também, por exemplo, a instalação de uma barragem.
As alterações climáticas não estão diretamente relacionadas com o problema, mas podem potenciar as invasões.
Os rios, referiu o ambientalista, possuem, a norte ou a sul do país, mais ou menos correntes e, quando não chove, “a situação da falta de água pode traduzir-se num potencial perigo para as espécies endémicas, sobretudo de peixes de água doce”.
Paulo Lucas alertou também para os problemas de extração de água ilegal e para a implementação das espécies invasoras animais, que “muitas vezes são colocadas pelos pescadores nos rios e são espécies de maior dimensão e muito vorazes”.
Em relação às plantas, nos rios localizados mais a norte do país está a verificar-se “uma substituição da vegetação por espécies invasoras, nomeadamente acácias e jacintos de água”, que não fazem habitualmente parte da vegetação ribeirinha.
Como uma das soluções para controlar, por exemplo, as acácias, há a técnica do descasque do tronco – “funciona relativamente bem porque cessa a produção de sementes” e, dessa forma, eliminam-se os indivíduos adultos nesses espaços, para que a invasão não continue.
O ambientalista da Zero lembrou ainda a necessidade de se “aproveitarem fundos comunitários” para um programa de controlo mais eficaz, com “alocação de fundos anuais” para impedir o avanço das espécies invasoras e não se limitar a resposta a avisos, como tem vindo a acontecer.
Paulo Lucas diz que se deve olhar para o problema não só pela parte dos custos e que podem mesmo vir a ser criados empregos localmente nesta área, com trabalhadores específicos para este tipo de função, aproveitando o Plano Nacional de Restauro da Natureza.