Plantação e exploração no terreno, transformação de matérias-primas em mobiliário ou papel e comércio de cortiça ou madeira são exemplos das atividades que fazem da floresta um importante dinamizador dos sectores primário, secundário e terciário por todo o território português. Esta importância é particularmente evidente pelo número de empresas e pela dimensão do emprego no sector florestal: perto de 20 mil empresas e mais de 100 mil pessoas ao seu serviço, em 2023.
As estatísticas nacionais indicam que o emprego habitualmente associado à floresta representou 2,25% do total nacional em 2023: cerca de 105 mil pessoas diretamente ao serviço da silvicultura, das indústrias de base florestal, do comércio grossista de madeira e cortiça e dos sapadores florestais. Nesse ano – o último sobre o qual existe, à data, informação oficial – só a silvicultura e a indústria florestal somaram mais de 98 mil pessoas ao serviço.
Os valores divulgados pelo INE – Instituto Nacional de Estatística para os indicadores “número de empresas” e “pessoal ao serviço” tradicionalmente associados à floresta apresentam, no entanto, um retrato incompleto das empresas e do emprego no sector florestal. Deixam de fora as pessoas ao serviço das empresas de comércio grossista e retalhista de papel, cartão e mobiliário. Não incluem as que se dedicam à apanha e venda de produtos florestais não lenhosos, nem às culturas de frutos de casca rija e aos materiais de viveiro que permitem a florestação e reflorestação.
Atividades como a caça, a pesca em águas interiores, as culturas agroflorestais ou os serviços ambientais – que estão, em grande parte, dependentes dos ecossistemas florestais – também não são habitualmente consideradas. Estes dados encontram-se dispersos em estatísticas de outros sectores ou não estão acessíveis para consulta, como acontece com as empresas e empregos relacionados com a produção de cogumelos.
Se considerarmos o emprego associado às atividades relacionadas com a floresta que têm dados oficiais acessíveis, mas não são habitualmente considerados nas estatísticas do sector, há mais de 8 mil empregos adicionais a somar aos já referidos, num total que ultrapassa os 115 mil postos de trabalho. Acresce que o perfil de trabalho florestal, à semelhança de outros tipos de trabalho rural no terreno, é muitas vezes sazonal e mesmo informal. Parte do emprego no sector florestal permanece, assim, como uma atividade de apoio ao rendimento familiar e, com frequência, sem registo oficial. O conjunto de dados disponibilizados nas estatísticas oficiais é, por isso, apenas uma parte da real empregabilidade florestal.
A representatividade das empresas que se dedicam aos trabalhos florestais no terreno estará numa situação similar, com várias áreas de atividade a ficarem de fora das estatísticas que traçam habitualmente este retrato do tecido empresarial.
As indústrias de base florestal totalizavam 9206 empresas (0,66% de todas as empresas portuguesas). Seguia-se a silvicultura e exploração florestal, atividades a que se dedicavam 8211 empresas em 2023 (0,54% do total). O comércio fecha este ‘triângulo da floresta’, com os dados disponíveis sobre a atividade grossista de madeira e de cortiça em bruto a totalizar 1699 empresas em 2023.
No total e considerando os dados disponíveis, a economia da floresta estava assente, em 2023, em 19830 empresas, ou seja, cerca de 1,31% do tecido empresarial nacional.
Indústria: Norte lidera empresas e emprego no sector florestal
É nas indústrias de base florestal que se concentra a maioria das empresas e do emprego no sector. Em 2023, estas indústrias eram constituídas por quase 10 mil empresas que tinham ao serviço mais de 80 mil pessoas.
Considerando o total das empresas e do emprego no sector florestal, a indústria representava metade das empresas e contava com 75% das pessoas ao serviço.
Estas indústrias englobam quatro áreas de atuação muito distintas: pasta e papel, cortiça, madeira e mobiliário (excluindo o fabrico de colchões), que têm realidades igualmente diferentes. Em 2023, a maioria dos empregos e empresas vinha das indústrias ligadas ao mobiliário, com 34,7 mil empregos em 4,4 mil empresas. Seguia-se a indústria da madeira, com 22 mil empregos em 4,1 mil empresas.
Já o subsector da pasta e papel tinha menos empresas, um total de 576, mas empregava mais de 14,8 mil pessoas, uma relação que traduz a maior dimensão (e produtividade) das empresas nesta atividade. Também as empresas dedicadas à transformação da cortiça apresentam um elevado número de pessoas ao serviço (8568) em proporção ao número de empresas (784).
Em termos geográficos, a região Norte e a região Centro contavam com, respetivamente, 5632 e 1697 empresas industriais. Juntas, estas duas regiões representam quase 74% das indústrias de base florestal.
Silvicultura: 40% das empresas, 17% do emprego
As atividades da silvicultura e exploração florestal, que englobam a gestão e exploração florestal, a extração de cortiça, resina e outros produtos florestais, representam mais de 41% das empresas do sector florestal (8211 empresas de um total de 19830). Os postos de trabalho que geram correspondem a uma percentagem menos representativa: cerca de 17% do emprego no sector florestal (18011 de um total de 106487 empregos).
Não é demais frisar que o trabalho de silvicultura (assim como o trabalho agrícola) é muitas vezes sazonal e informal, pelo que estas estatísticas podem estar aquém da realidade no terreno.
The post Retrato do emprego no sector florestal appeared first on Florestas.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.