O diretor-geral Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) disse hoje à Lusa que o retalho especializado registou nas últimas semanas um crescimento “bastante significativo”, enquanto no alimentar há pressão “em alguns segmentos”, manifestando-se apreensivo para janeiro.
“Estamos apreensivos em relação ao mês de janeiro, que é um mês tipicamente onde os fornecedores apresentam novas tabelas de preço” e se “juntarmos a isto o fim do IVA zero, acho que temos que olhar” para o primeiro mês de 2024 “com algum receio”, afirmou Gonçalo Lobo Xavier.
Relativamente ao comércio especializado, “temos assistido ao longo do ano a um crescimento moderado nas vendas”, o que pode ser “confirmado pelos centros comerciais que cresceram as vendas moderadamente em valores”, prosseguiu.
Este ano, nos centros comerciais, que tem grande parte dos associados da APED no retalho especializado, “estamos a ter um crescimento superior” a 2022 e “já a superar anos pré-pandemia, onde estávamos realmente a crescer bastante”, salientou Gonçalo Lobo Xavier.
Em suma, “em 2023 vamos ter um crescimento das vendas em valor, que já podemos dizer que é melhor que 2022″, em segmentos como a eletrónica de consumo, material de desporto, música, mobiliário”.
Agora, “especialmente nas últimas três semanas, tivemos um crescimento já bastante grande, bastante significativo não só em valor, mas também em volume”, o que representa uma variação de 4% a 5% face a 2022.
“Isto dá-nos algum alento, porque, de facto, estávamos preocupados” que o impacto da atual conjuntura política e dos níveis de confiança dos consumidores, já que os últimos dois meses do ano são os “mais importantes para as vendas do retalho especializado”, apontou.
Também no têxtil, que teve um período de queda, “já vemos sinais de recuperação nestas últimas três semanas e, portanto, entramos no mês de dezembro com um certo otimismo e, tendo em conta que ainda faltam quase duas semanas até ao Natal, estamos esperançados de que vai ser um ano bastante positivo”.
“Se, por um lado, numa grande parte do ano o crescimento era em valor, o que se explica também pela inflação e pelo aumento de preços de alguns segmentos de produto, agora nas duas/três semanas, este aumento de valor está a ser acompanhado por um aumento do volume de vendas do produto”, reforçou.
Já no caso do retalho alimentar, foi um ano “difícil, errático, em que na maioria das insígnias estávamos a identificar um crescimento de vendas em valor, mas que não tinha correspondência ao volume de vendas, isto mais uma vez explica-se pela inflação e pelo aumento do preço de muitos produtos”, continuou.
Nas últimas semanas, o retalho alimentar registou uma “relativa estabilização” e o segmento ‘premium’ de produtos “está em linha com os anos anteriores, talvez um bocadinho abaixo”, disse Gonçalo Lobo Xavier.
Os consumidores continuam a procurar as promoções, o que “tem sido uma constante ao longo deste ano” e assiste-se também a “algum ‘downgrade'” na escolha de produtos, o que se traduz no aumento das vendas das marcas próprias por oposição às vendas de marca de fabricante, relatou.
“Vê-se isso muito na carne e no peixe”, sendo que a primeira continua a ser trocada por carnes brancas e por outras proteínas, como ovo, salientou, o que “não é bom, porque, aumentando a procura destes produtos, também há uma certa, não diria escassez, mas aumentando a procura, o mercado também funciona e aumenta também os preços”.
Além disso, realça que no mercado do retalho alimentar continua a existir “muita pressão em alguns segmentos”.
O aumento do preço do peixe e da carne está ligado com escassez, no caso do primeiro, enquanto na carne resulta do impacto do mercado dos cereais e das rações que apresentam ainda “sinais de muita pressão”.
O caso do azeite, sublinhou, é “amplamente conhecido” e resulta da escassez, “sobretudo em Espanha e mesmo nas campanhas em Portugal”, sendo que o mercado espanhol veio comprar o produto a Portugal e isso “deu aqui uma perturbação no mercado e está a ter consequências no preço final”.
Além disso, “estamos a ver muito também muitos consumidores a substituírem a gordura do azeite por outras gorduras tendo em conta o preço, o que nos deixa algo apreensivos”, concluiu o diretor-geral da APED.