Revisitemos a estrofe da canção popular:
– “Fui ao Douro às Vindimas – Não achei que vindimar –
– Vindimaram-me as costelas – Foi o que lá fui ganhar”.
E nesta estrofe se dá nota do sacrifício brutal que Homens, Mulheres, mesmo Crianças, têm feito, e desde sempre, para granjear os xistos e as terras das encostas do Douro para lá se “espremer” as uvas e obter esse néctar feito Vinho.
Vem este intróito a propósito, dos ataques económicos, políticos e ideológicos que continuam a ser dirigidos aos pequenos e médios Vitivinicultores Durienses, à instituição “Casa do Douro” e à Região Duriense. Estamos outra vez num desses momentos aliás bastante agudo. E está aí mais uma vindima…
Sim, o Douro não é “só” bonitas paisagens. E não é por acaso considerado “Património Mundial”. O Douro é, sobretudo, as suas Gentes, com as vidas que lá são vividas desde logo a trabalhar e a produzir. E também com tudo o que de lá emana para o País e para o Mundo:- principalmente o Vinho Generoso/Porto e também, e cada vez mais, os bons Vinhos Douro de Mesa.
Assim, a actividade vitivinícola deve pois proporcionar melhores condições de trabalho e de vida para os Durienses em primeiro lugar. Para isso finalmente acontecer, é indispensável assegurar escoamento de uvas e Vinhos a melhores preços à Produção e aos pequenos e médios Vitivinicultores em especial.
“Casa do Douro” é uma conquista histórica dos Vitivinicultores Durienses!
E foi para isso mesmo que muitos e muitos Durienses, enquadrados pelo grupo que ficou conhecido como “Os Paladinos do Douro”, lutaram bravamente (de 1907 a 1932) – correu sangue no Douro – para melhor poderem defender-se do “garrote” financeiro, económico e social que lhes aplicavam, e sem dó nem piedade, as grandes empresas sobretudo ligadas à exportação. Ou seja, a instituição “Casa do Douro” – que começou com a designação de “Federação Sindical dos Viticultores do Douro” – não “caiu do céu” nem tão pouco foi um “presente” do Estado Novo aos Vitivinicultores Durienses. Foi, antes, uma dura conquista destes e uma “boa” cedência dos poderes à época instituídos. Claro que as grandes “Casas Exportadoras” de Gaia nunca “engoliram” a instituição “Casa do Douro” que nasceu e se afirmou precisamente para evitar que os “lords” Ingleses e seus “servidores” e os aspirantes a “lords” Ingleses de todas as épocas e idiomas, controlassem o circuito do Vinho Generoso/Porto da “cepa ao cálice”, quiçá até chegar ao estômago e ao sangue de quem o beber. E, também por isso, sempre atacaram a “Casa do Douro” e a continuam a atacar.
E sim, neste momento difícil, muita falta tem feito a “Casa do Douro” a funcionar bem quer dizer, com os seus “poderes públicos” repostos e actuantes. É pois indispensável não se perder mais tempo e avançar, e superar a actual situação anómala e atentatória dos direitos e interesses dos Vitivinicultores e da Região Duriense. Haja vontade política para isso que os Durienses sentem os problemas a agudizar-se.
Os “pruridos” institucionais e ideológicos dos inimigos da “Casa do Douro”.
Atentemos nas questões formais e mesmo práticas que invocam e designadamente :
— A alegada incompatibilidade democrática quanto à obrigatoriedade de inscrição dos Vitivinicultores como “sócios da Casa do Douro”.
Porém, quem assim argumenta (capciosamente aliás), parece querer esconder que, de facto, para se produzir Vinho Generoso/Porto continua a ser obrigatório estar inscrito numa Instituição, no caso pública, uma vez que o “Benefício” (o quantitativo anual, individual, de produção do Vinho Generoso) é distribuído a cada campanha pelos Viticultores devidamente identificados e regularizados.
Por outro lado, é querer ignorar que também é obrigatória a inscrição em várias outras Instituições para ser reconhecida uma determinada profissão ou actividade desta ou daquela pessoa em concreto e, mesmo, a respectiva supervisão profissional. Por exemplo, isso acontece com as várias “Ordens”, dos Médicos aos Advogados. Ora, no caso da “Casa do Douro”, a respectiva função, sobretudo se recuperar os “poderes públicos” – delegados pelo Estado – recomenda e justifica que os Viticultores obtenham, através dela, não só melhores rendimentos mas também, e como “sócios de pleno direito”, uma efectiva “certificação/reconhecimento” da sua qualidade de Viticultores a produzirem aquele tipo de Vinho muito especial, produzido naquela Região Demarcada e que é necessário defender, da Uva, à Garrafa e ao Cálice.
— A alegada “violação das leis do mercado”.
E enquanto propagandeia as “leis do mercado” como uma espécie de lei divina, o “sistema dominante” viola-as continuamente desde que tal lhe convenha ou seja, desde que isso convenha às multinacionais, incluindo as grandes empresas de Exportação de Vinho do Porto.
Pois então os, entre nós, “paladinos de arremedo” do propagandeado “mercado”, pois que nos dizem eles sobre o facto da “Casa do Douro” nunca ter sido autorizada, desde logo a nível nacional, a exportar directamente Vinho do Porto e sabe-se dos valiosos “stocks” que tinha e mantém em sua posse ?
E quanto ao boicote que o grande poder económico e financeiro, apadrinhado pelo poder político, de imediato aplicou à tentativa da “Casa do Douro” para romper o cerco que lhe tem sido montado em termos de acesso ao tal “mercado”, ao comprar (em 1990) 40% das acções da “Real Companhia Velha”, esta uma conhecida empresa privada tradicional exportadora de Vinho do Porto ?
Mais:- os que tanto apregoam a “livre “iniciativa” e a “redução do papel do Estado”, neste particular atiram-se como “gatos a bofes” contra a possibilidade de os Viticultores Durienses se organizarem e tomarem nas suas mãos a gestão dos assuntos que lhes dizem directamente respeito
E sim, muita falta faz à Região Demarcada do Douro e ao País, a “Casa do Douro” a funcionar bem no uso dos seus “poderes públicos” como, por exemplo, dar indicação de preços à produção e fazer “retiradas” de Vinho Generoso pagando-o, aos seus sócios.
Viva a “Casa do Douro“ e os Vitivinicultores Durienses !
Viva a Região Demarcada do Douro !
A luta continua !
Dirigente associativo agrícola e cidadão rural
Agricultores em luta e motivos não lhes faltam. Reflexões a afinar.