Stefano Mancuso, um dos maiores especialistas em neurobiologia vegetal, defende, em entrevista à Lusa, que se todos reduzirem o consumo de alimentos de origem animal em 25% poderiam ser salvas um incrível número de florestas.
O botânico italiano e cientista foi um dos oradores da conferência de sustentabilidade do grupo Jerónimo Martins, que decorre hoje em Monsanto.
Questionado sobre a razão porque o número de florestas está a diminuir, Stefano Mancuso aponta: “Primeiro, porque não temos ideia do que estamos a fazer”.
Ou seja, “estamos a desmatar florestas sem ter a noção das consequências disso”, lamenta, sublinhando que “tudo depende da floresta, do clima, do aquecimento global, da alimentação, de tudo”, a água, os remédios.
“É difícil listar todos os benefícios que vêm de uma floresta” e o facto é que “estamos a desmatar principalmente para dar espaço aos animais, para a produção de alimentos para os animais”.
De acordo com o especialista, entre 95% a 96% das florestas são desmatadas para dar espaço ao cultivo de plantas necessárias para alimentar os animais.
Para reduzir este impacto, primeiro é preciso “educar, dizer às pessoas o que está a acontecer”, prossegue Stefano Mancuso, que na sua intervenção abordou a ideia de que as plantas também brincam.
De acordo com o botânico, que publicou livros onde fala sobre a inteligência das plantas, há pequenas mudanças que se forem feitas por todos poderão mudar a situação.
Por exemplo, “se todos – e não estou a dizer que precisamos todos de ser vegetarianos – reduzirmos o consumo de alimentos de origem animal em 25%, o que é insignificante, salvaríamos um incrível número de florestas”, sugeriu, quando questionado sobre uma solução.
Até porque se alguém ao preparar uma refeição reduzir em 25% os alimentos de origem animal sem dizer nada, “nunca perceberá isso”, diz.
Quanto aos movimentos que negam a existem de aquecimento global, Stefano Mancuso salienta que “há unanimidade na ciência”.
Ou seja, de que o aquecimento global está relacionado com as atividades humanas, produção de gases de efeito estufa pelos humanos.
“Portanto, não há dúvida disso”, salienta, recordando que se os seres humanos estão a viver o dobro do que viviam há apenas um século, tudo se deve à ciência.
Na sua intervenção, o cientista apontou que não há planeta sem plantas, contudo os seres humanos estão a destruir o meio ambiente.
Por isso, classifica esse comportamento como “insano”, até porque “não há outro ser vivo, nenhuma outra espécie no planeta que esteja a destruir o meio ambiente do qual dependa a sua sobrevivência”.
“Somos os únicos, é por isso que é insano”, reforça o especialista italiano.
Questionado sobre se vê alguma luz que leve a uma mudança, Mancuso refere que comparando com há 20 anos, “a situação está muito melhor”.
“Quero dizer, há mais educação e as pessoas sabem o que está a acontecer e o que é preciso de ser feito”, acrescenta.
E mesmo os países “estão a começar a fazer algo”, aponta.
Atualmente “estamos numa situação em que os EUA estão a ser liderados por alguém” que não acredita nas mudanças climáticas.
Mas a China, por exemplo, “que foi por muitas décadas a maior produtora de CO2, está a mudar”.
O país está a fazer “muitas mudanças para reduzir o CO2 nos próximos anos”, diz, por isso Mancuso tem “quase a certeza” que algo está a mudar para melhor.