A Quinta da Cholda, na Azinhaga, Golegã, está a apostar na agricultura de conservação, com redução da mobilização dos solos e criação de zonas de contenção para proliferação de insetos, pelos benefícios económicos e ambientais que a prática representa.
Com uma extensão de 600 hectares de produção de milho, a exploração tem a decorrer um projeto, iniciado há 25 anos, que está a mudar um modelo agrícola baseado na mobilização do solo para uma modalidade mais natural, disse à Lusa João Coimbra, agricultor e gestor da Quinta da Cholda, propriedade da família.
Quando, há 25 anos, foi desafiado por um professor da Universidade de Évora a reduzir o distúrbio no solo, João Coimbra achou “bastante lógico”, até porque as mobilizações representam “um custo enorme” para a atividade, obrigando a “grandes consumos de combustível” e ao uso de “tratores muito grandes”.
“Então, introduzimos estas áreas chamadas de cimenteiras diretas, ou seja, onde não há intervenção das alfaias e onde só colocamos as sementes e depois colhemos o milho. É uma cultura completamente diferente do que fazemos”, explicou.
Apesar das dificuldades, ao fim de 25 anos, a produção começa a aproximar-se da de solos equivalentes mobilizados, com uma redução de custos, o que torna os resultados a nível económico “interessantes”, salientou.
“É uma aprendizagem que estamos a fazer e nesta fase já estamos em expansão”, a começar pelos solos argilosos, onde os resultados são melhores do que nos arenosos, disse.
Os estudos que estão a ser realizados, sobre as transformações que estão a ocorrer nos solos, mostram que, como não são mobilizados, “as matérias orgânicas estão a subir, os solos estão a ficar mais negros e a ter mais capacidade produtiva, mais resistentes às alterações climáticas”.
Como estes solos “nunca ficam nus”, são feitas culturas de cobertura no inverno, que minimizam os impactos das grandes chuvadas e ajudam a fixar nutrientes, além de concederem créditos de captura de carbono que podem ser vendidos.
“É um processo completamente novo, em que migramos das modalidades que conhecíamos toda a vida, para agora termos uma nova era onde tudo é novo, tem de ser experimentado desde o zero. É um desafio enorme, mas sabemos que estamos a melhorar o solo, temos mais biodiversidade e também atraímos mais aves e mais insetos para o ambiente que rodeia estas culturas e estamos a fazê-lo estudando os impactos em termos de melhorias ambientais e aí sim, o impacto é fantástico”, declarou.
A produção, próxima da obtida no modo convencional, faz-se “com um impacto mais reduzido e com muito menos recursos”, ou seja, menos adubos, menos água e menos consumo de combustível e de energia, bem como de mão-de-obra, atualmente um problema “estrutural” no setor, apontou.
Junto às zonas de produção de milho, têm vindo a ser criadas zonas de contenção, com uma faixa de sequeiro e, na área que ainda apanha água da rega, uma faixa florida que permite a presença de “milhares de insetos” e de aves, que ajudam a combater as pragas nas plantações, reduzindo as aplicações de inseticidas e ajudando à biodiversidade.
Numa dessas zonas, uma dezena de colmeias servem de teste ao impacto dos pesticidas, que, salientou João Coimbra, já só são usados a nível residual.
“Vieram agora as análises à qualidade do mel feitas este ano e há zero resíduos” de pesticidas, disse.
Por outro lado, na Quinta da Cholda, os adubos minerais têm vindo a ser substituídos por estrume resultante da produção de aves, no âmbito de uma parceria com empresas do setor do distrito de Santarém.
João Coimbra afirmou que o acordo com os produtores de aves, aos quais a exploração fornece o milho para alimentação animal, fechando o ciclo da economia circular, permitiu dar “uma utilização mais nobre” ao estrume e melhorar os solos, reduzindo as aplicações de adubos minerais, o que tem também impacto nas importações.
“Os adubos minerais são importados de países terceiros, são um grande problema para as nossas emissões” de gases com efeitos de estufa, disse.
O recurso ao estrume, recuperando uma prática do passado, que se revela melhor para a saúde dos solos, resolve, atualmente, cerca de metade das necessidades minerais da exploração, a qual mantém algumas áreas de teste para comparar o desempenho, adiantou.
“Mas, as vantagens são tantas, em termos económicos e em termos ambientais, que temos de generalizar para toda a área”, disse João Coimbra.
“Hoje resolve a minha necessidade de matérias orgânicas e fertilizantes e permite acabar com o problema do que é que se fazia a estes subprodutos da produção pecuária. Tem sido um grande desafio que nos está a ajudar muito no nosso modelo mais ecológico, mais de conservação e de menos impacto da produção de milho”, salientou.
Nos vários projetos que desenvolve, a Quinta da Cholda trabalha com várias universidades, como a de Évora, a de Aveiro e o Instituto Superior de Agronomia, e realiza também estudos próprios, comparativos, aproveitando a tecnologia introduzida na exploração, afirmou.