Vivemos numa época onde, mais do que nunca, a capacidade de adaptação a novos contextos é decisiva para o sucesso. Darwin explicará melhor, mas parece que é assim desde sempre, a velocidade é que mudou.
Na área agrícola esta premissa é crucial. Os agricultores têm sabido acomodar as diferentes culturas, contextos, tecnologias de produção, mercados, políticas e procurar conhecimento que lhes permite compreender e tomar decisões de gestão acertadas, com vista à rentabilidade necessária e à sustentabilidade mandatória. Mas esbarram com uma resistência à utilização de algumas tecnologias disponíveis que não podem usar, pelo menos na Europa, por falta de autorizações.
A Europa tem medo. Tem medo de organismos geneticamente modificados, suspeita de novas técnicas genómicas, desconfia de drones que pulverizam. A Europa quer ter muitas certezas e ser um exemplo. Mas atropela-se num rol de convicções onde só utiliza a ciência quando lhe convém para suportar as suas ideias perfeitas. A Europa não percebe que está a ficar para trás. Que a sua obsessão por políticas-perfeitas-que-agradam-aos-perfeitos-cidadãos-europeus está a deixar o tecido produtivo irremediavelmente atrasado e a trabalhar em condições de concorrência desleal face a um mundo que, grosso modo, não está permeável a tanta sensibilidade. Isto não quer dizer, de todo, que não seja necessária precaução na autorização e utilização de novas técnicas. Mas há um histórico em outras geografias que nos devia dar confiança e motivação para desbloquear desconfianças. E negar tecnologias sem evidências científicas não é precaução, é pura negação.
“A Europa tem medo. Tem medo de organismos geneticamente modificados, suspeita de novas técnicas genómicas, desconfia de drones que pulverizam. A Europa quer ter muitas certezas e ser um exemplo.”
Sim, os agricultores europeus precisam de ter acesso às mesmas condições de produção dos seus parceiros no resto do mundo. É possível conviver com imposições de sustentabilidade mais ambiciosas na Europa se as ferramentas tecnológicas, fortes aliadas para uma agricultura mais sustentável, estiverem à disposição de todos. Agora, dizer que temos de ser um exemplo ambiental, social e de governança, mas que não é possível usar tudo o que a ciência oferece, é castrador e injusto.
Se a Europa continuar com medo vai paralisar. É melhor comprar já (ou adotar se for mais politicamente correto) um cão.
#agricultarcomorgulho
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.