Quatro organizações alertaram hoje o Governo que “nada tem sido feito” para promover a produção e o consumo de proteínas de base vegetal, como as leguminosas, exigindo medidas urgentes no âmbito da política ambiental.
“A urgência climática exige mudanças urgentes, que ainda não foram feitas, na forma como produzimos e consumimos alimentos”, salientam num comunicado referente à segunda edição do “Plano Nacional de Promoção à Proteína Vegetal”, que se integra no projeto “Proteína Verde”.
As organizações recomendam ampliar o apoio aos agricultores para cultivo de leguminosas, ter em consideração os custos ambientais na concessão de apoios públicos à pecuária, uma maior e melhor disponibilização de refeições de base vegetal nas cantinas públicas, a anulação da taxa de IVA para todas as leguminosas, a atualização das diretrizes alimentares nacionais oficiais e a criação de programas que incentivem o cultivo de leguminosas dirigidos a jovens agricultores.
As quatro entidades que elaboraram o documento – Associação Vegetariana Portuguesa (AVP), Associação Portuguesa da Educação Ambiental (ASPEA), associação Zero e o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), pedem “mais apoios à produção e exploração de leguminosas”.
De acordo com as organizações, as proteínas de base vegetal “contribuem para solucionar os problemas ambientais e climáticos do país, e têm impacto positivo na saúde pública”.
“O ‘Plano Nacional de Promoção à Proteína Vegetal’ desafia Portugal a atingir metas ambiciosas de sustentabilidade ambiental e a ter uma abordagem transparente e clara no que toca ao impacto do sistema alimentar no meio ambiente e ecossistemas, sustentada por um compromisso governamental de longo prazo”, observam.
“Os impactos do sistema alimentar dominante são incontornáveis, por isso é preciso criar condições para caminharmos no sentido de uma transição, que melhor sirva a sociedade, os agricultores e o nosso futuro”, afirma Pedro Horta, da ZERO e que colaborou na elaboração do plano nacional, citado no comunicado.
Na União Europeia, a agricultura é responsável por 10,3% das emissões de gases com efeito estufa e quase 70% dessas provêm do setor animal.
Em Portugal, o consumo de alimentos representa 30% da pegada ecológica do país, sendo que mais de metade desta se deve ao consumo de carne, onde também se inclui o peixe.
“Cada um de nós pode contribuir para a sustentabilidade do planeta alterando maus hábitos alimentares. Mudanças simples, saudáveis, e até mais económicas, podem fazer a diferença no impacto ambiental no solo e na biodiversidade e permitem uma vida mais saudável. O Plano Nacional de Promoção à Proteína Vegetal ajuda nesta transição justa”, sublinha vice-presidente do GEOTA, Patrícia Tavares.
As organizações lembram que as políticas governamentais influenciam hábitos e contextos alimentares e, por isso, devem promover dietas saudáveis entre a população.
“Uma maior predominância da dieta de base vegetal pode gerar poupanças na ordem dos milhares de euros em custos com a saúde”, indica a coordenadora do projeto “Proteína Verde” e vice-presidente da AVP, Joana Oliveira.
Joana Oliveira diz ainda que o “Governo Português desempenha um papel crucial na transformação do sistema alimentar”.
“Numa altura em que tanto se fala do impacto ambiental do que comemos, deve existir um esforço coletivo para garantir um futuro sustentável e saudável para todos os portugueses”, defende.
As quatro organizações destacam a relevância de agir agora para garantir a resiliência do país face às alterações climáticas.
“Num cenário de mitigação e adaptação às alterações climáticas, com todas as consequências inerentes, a ASPEA dedica o seu inteiro apoio a esta medida de promoção à proteína vegetal”, sustenta a presidente da Assembleia Geral da ASPEA, Sara Carvalho.
“Entendemos que a articulação que se propõe, entre os vários setores envolvidos, a par com uma educação continuada será a chave necessária para este novo passo de transição energética e alimentar”, conclui a gestora de projetos da ASPEA, Anabela Pereira.