A escolha do solo do ano para 2025 recaiu sobre os Barros, um dos solos mais férteis e escassos do país. A decisão parte da iniciativa “O Solo do Ano”, da responsabilidade da Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo (SPCS), que pretende divulgar a diversidade e importância dos solos portugueses.
De acordo com o comunicado de imprensa, os Barros “são solos evoluídos, profundos e ricos em argila, características que lhes conferem uma grande capacidade de retenção de água e nutrientes e um elevado potencial de fertilidade”.
“Em Portugal Continental, os solos com elevada capacidade produtiva são escassos e, entre estes, encontram-se os Barros, que ocupam cerca de 1% do território. Estes solos encontram-se em pequenas áreas na região da Grande Lisboa e no Baixo Alentejo, ocorrendo também em manchas menores espalhadas a sul do Tejo”, lê-se na nota de imprensa.
A comunicação da SPCS dá ainda conta de que, na região da Grande Lisboa, os Barros foram um dos maiores produtores de cereais. No entanto, encontram-se hoje “fortemente ameaçados ou até irreversivelmente degradados devido à urbanização, muitas vezes levada a cabo em zonas sensíveis de escoamento, aumentando o risco potencial de inundações”.
Segundo o comunicado, os Barros são atualmente a base de nichos de produção de hortícolas que abastecem os centros urbanos, um uso com elevado valor socioeconómico e essencial para a preservação das áreas periurbanas.
No Alentejo, o uso tradicional dos Barros para culturas de sequeiro, como cereais, grão-de-bico ou pastagens, tem sido gradualmente substituído por culturas permanentes de regadio, como o olival e o amendoal, que encontram melhor aptidão noutros tipos de solos.
“Devido às suas características únicas, os Barros são uma mais-valia e deverão ser preservados para uma utilização sustentável e orientada para fins nobres, como a produção de alimentos”, explica a comunicação da Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo.
Este tipo de solo tem uma elevada aptidão para o cultivo de cereais, sendo especialmente importantes em Portugal, um país em que o grau de autoaprovisionamento de cereais é dos mais baixos do mundo.
Apesar do elevado potencial agrícola deste solo, o comunicado de imprensa sublinha que as suas características exigem “uma gestão adequada” do seu uso face às várias ameaças a que estão sujeitos, nomeadamente associadas a práticas de regadio intensivo, como a acumulação de sais e destruição da estrutura.
“O planeamento do uso sustentável dos Barros deve ser tratado como uma prioridade, garantindo a preservação do seu potencial produtivo e a sua contribuição para a segurança alimentar, à escala regional ou nacional”, remata a comunicação da SPCS.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.