Indivíduos com elevado património líquido (HNWIs) estão cada vez mais a olhar para propriedades produtoras de vinho e olivais como uma oportunidade de investimento estratégica e duradoura.
A procura por estas propriedades rurais em destinos europeus de excelência, onde a tradição vinícola e oleícola se alia ao desejo de preservar um legado familiar, tem registado um aumento significativo.
As conclusões são da Quintela + Penalva | Knight Frank que, em parceria com o seu associado Knight Frank em Londres, realizou o European Lifestyle Report.
De acordo com o relatório, um número crescente de compradores está a substituir os escritórios corporativos por quintas vinícolas e olivais mediterrânicos, transformando a ideia romântica de “viver da terra” numa realidade concreta e financeiramente vantajosa.
Para Alexander Hall, diretor do departamento dedicado a propriedades vinícolas Internacionais da Knight Frank, “já não se trata apenas do charme rústico. Trata-se de uma fusão entre paixão, negócio e património tangível que valoriza ao longo do tempo”.
Do Douro à Toscana
A análise também avança que a Europa mantém a liderança no setor, respondendo por mais de 65% da produção mundial de azeite e 60% da produção de vinho, com destaque para países como Espanha, Itália, França, Portugal e Grécia. De acordo com o relatório, cada um destes países oferece vantagens únicas para os investidores.
Em Portugal, a Knight Frank destaca o Alentejo e o Douro, não apenas pela excelente relação qualidade/preço dos vinhos e azeite, mas também pelo clima seco e ensolarado e, no caso dos vinhos, pelas castas emblemáticas como a Touriga Nacional e o Aragonez.
Já em Itália, regiões como a Toscânia e o Piemonte são conhecidas pelas suas colinas onduladas e vilas de prestígio, onde se cultivam vinhos icónicos como Sangiovese e Nebbiolo, além dos olivais de Frantoio e Leccino, que representam tradição e excelência.
“O Alentejo e o Douro são hoje polos de interesse estratégico para investidores nacionais e internacionais. A combinação entre produtos de excelência — como o vinho e o azeite —, um clima privilegiado e preços ainda competitivos, reforça o seu potencial de valorização, tanto no setor imobiliário como no desenvolvimento de projetos ligados ao turismo e à agricultura sustentável”, explicou Francisco Quintela, sócio fundador da Quintela + Penalva | Knight Frank.
Em França, são destacadas as regiões de Bordéus e Provença, conhecidas pelos seus territórios icónicos, clima influenciado pelo Atlântico e pelo Mediterrâneo, e o cosmopolitismo das suas cidades e vilas, repletas de lojas de moda e marcas internacionais de renome.
Em Espanha, as regiões da Andaluzia e das Baleares sobressaem pela produção em grande escala de azeite, com destaque para as variedades Picual e Arbequina, mas também com um espaço crescente para marcas artesanais e para o enoturismo.
A Grécia também merece destaque, especialmente a ilha de Corfu, onde as propriedades com produção biológica estão em expansão, cultivando as variedades Koroneiki e Kalamata no caso do azeite. No setor vinícola, a região é conhecida pelo seu terroir distinto.
Mesmo a Suíça, tradicionalmente fora do radar agrícola, surge como referência, com pequenos produtores experimentais ao longo do Lago Genebra e em Ticino, onde os microclimas alpinos favorecem colheitas limitadas, mas de elevada qualidade.
Relatório destaca o potencial económico destas propriedades
No que diz respeito ao potencial económico, o European Lifestyle Report destacou a rentabilidade e o potencial produtivo do azeite, avançando que os olivais produzem entre 15 e 50 kg de azeitonas por ano, com um rendimento que varia entre 15% e 25%, resultando num potencial de produção por hectare de 300 a 700 litros de azeite.
A primeira colheita ocorre entre o 5.º e o 7.º ano após a plantação. As produções biológicas, embora apresentem rendimentos mais baixos, possuem maior valor de mercado, podendo alcançar até €30 por litro, especialmente quando associadas a origens certificadas e experiências turísticas.
No que se refere ao setor do vinho, o relatório enfatizou que uma vinha no seu pleno potencial produtivo gera entre 2 a 10 kg de uvas por videira, o que resulta em uma produção de 5.000 a 12.000 litros por hectare.
O tempo até à primeira vindima rentável varia entre 3 e 5 anos. Por outro lado, os vinhos de produção limitada e com identidade regional podem alcançar preços entre €30 e €150 por garrafa, especialmente quando associados a práticas orgânicas, hospitalidade e enoturismo.
Apesar do potencial económico e de rentabilidade, Alexander Hall afirmou ainda que “investir numa propriedade vinícola europeia é menos sobre margens industriais e mais sobre criar um ativo tangível com retorno emocional e patrimonial”, e acrescenta que se trata de “um investimento onde a valorização inclui tanto o rendimento líquido como a vista da varanda”.
Mercados em valorização desde 2024
Segundo o estudo, as variações anuais nos valores das vinhas refletem a resiliência e maturidade do setor. Em Itália, as regiões de Barolo e Brunello di Montalcino destacam-se pelo crescimento de 5%. Em França, as regiões do Loire (+5%) e Champagne (+2%) são as que mais crescem, enquanto Bordéus (-4%) e Rhône (-10%) passam por um reajuste, após anos de alta. Em Espanha, a Rioja estabiliza (0%), refletindo um equilíbrio entre oferta e procura.
“Em Portugal, a procura por propriedade no Douro, no Alentejo ou na região dos vinhos Verdes, continua em alta e a atrair investidores estrangeiros”, referiu Francisco Quintela, sócio fundador da Quintela + Penalva | Knight Frank.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.












































