O projeto da ‘startup’ moçambicana Agriview, de transformar cascas de milho em loiça biodegradável, venceu o Prémio África de Inovação em Engenharia, atribuído pela Royal Academy of Engineering de Londres, colocando Moçambique “no mapa da inovação sustentável global”.
“O prémio atribuído valida o propósito de transformar um mau hábito num gesto positivo para o ambiente, onde cada prato biodegradável dá origem a uma árvore e contribui para remover até 25 quilogramas de dióxido de carbono da atmosfera, por ano”, disse Joaquim Rebelo, cofundador da empresa, citado num comunicado da Agriview.
O projeto, concebido pelos moçambicanos Rui Bauhofer e Joaquim Rebelo, propõe-se a substituir o plástico descartável por loiça feita de resíduos agrícolas, num processo que permite que as peças, após o uso, se decomponham e libertem sementes capazes de germinar, criando novas plantas.
De acordo com a mesma informação, a Agriview arrecadou o prémio “One to Watch” do Africa Prize, a maior distinção do continente dedicada à engenharia, reconhecendo soluções inovadoras e escaláveis para desafios ambientais e sociais, após uma disputa que envolveu 30 países africanos.
A ideia da Agriview nasceu em 2022, quando Rui Bauhofer, natural de Maputo, observou cascas de milho descartadas nas ruas e plásticos acumulados na berma das estradas. Inspirado por um documentário sobre pratos biodegradáveis feitos de folhas de abacaxi na América central, decidiu testar o potencial do milho moçambicano.
“Acreditamos que somos os primeiros a fazer placas biodegradáveis usando cascas de labirinto. Vimos o potencial de um produto abundante e desperdiçado para gerar uma nova vida para pequenos agricultores que perderam os seus meios de subsistência após inundações devastadoras”, afirmou Bauhofer, citado numa nota da Royal Academy of Engineering, lembrando que os ciclones Idai e Kenneth destruíram mais de 780 mil hectares de culturas agrícolas no país.
O protótipo do projeto foi feito manualmente pelos criadores, que agora planeiam usar o fundo do prémio para adquirir maquinaria industrial, permitindo aumentar a escala de produção. A meta é levar o produto também para os mercados europeu, asiático e americano, além de ampliar a presença em África.
Segundo os fundadores, a iniciativa também tem impacto económico direto nas zonas rurais, permitindo que os agricultores recuperem entre 10% e 20% do valor perdido nas colheitas, graças ao reaproveitamento das cascas.
“Este prémio traduz-se num atestado internacional do trabalho que fomos desenvolvendo ao longo dos últimos três anos, validando assim o potencial e a genialidade das inovações nacionais. Estamos a colocar Moçambique no mapa da inovação para Resiliência Climática em África e no mundo”, afirmou Rui Bauhofer.
A Agriview, criada em 2021, é uma ‘startup’ moçambicana dedicada à economia circular e à sustentabilidade ambiental, desenvolvendo produtos biodegradáveis e germináveis a partir de resíduos agrícolas. O projeto está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e promove a redução da poluição plástica e a preservação do meio ambiente.
O Africa Prize for Engineering Innovation, lançado em 2014 pela Royal Academy of Engineering de Londes, é considerado o maior prémio dedicado à engenharia em África, reforçando o papel da inovação na melhoria da qualidade de vida e no desenvolvimento económico da África subsaariana.











































