O projeto NOTS-Nitro Organic to Soils – financiado pelo (PRR) Programa de Recuperação e Resiliência – decorreu entre 2022 e 2025 com o objetivo de contribuir para a sustentabilidade do setor agrícola, promovendo a melhoria da qualidade dos solos e uma gestão mais eficiente dos nutrientes, em especial do azoto/nitrogénio. A iniciativa procurou transformar os sistemas agrícolas e alimentares, incentivando práticas de produção e padrões de consumo mais sustentáveis.
Desenvolvido em cinco zonas de baixa densidade e desfavorecidas em Portugal – Portugal Continental (Beja, Évora, Leiria, Santarém) e Região Autónoma dos Açores (Ilha Terceira) – o projeto NOTS foi coordenado pelo ISA-UL-Instituto Superior de Agronomia. Teve, igualmente, a participação da UAc- Universidade dos Açores, do INIAV-Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (Polo de inovação de Elvas), do CCTI-Centro de Competências para o Tomate Indústria, da AABA-Associação de Agricultores do Baixo Alentejo, de uma empresa de nutricionismo (Nutrialma) e de vinte produtores e empresas agrícolas portuguesas.
O ponto de partida do NOTS assentou na valorização das leguminosas como estratégia para aumentar a eficiência da utilização do azoto e promover o sequestro de carbono. O projeto incidiu em regiões de média e grande dimensão agrícola, particularmente expostas aos efeitos das alterações climáticas, caracterizadas por um clima mediterrânico propenso à depleção da matéria orgânica dos solos e pela redução progressiva da precipitação.
Para Cláudia Marques-dos-Santos, coordenadora do NOTS-Nitro Organic To Soils: “A sustentabilidade da agricultura portuguesa e europeia enfrenta um desafio duplo: a adaptação e a mitigação das alterações climáticas, através da melhoria da gestão dos nutrientes e da reversão da degradação dos solos.” Continua: “Foi para endereçar esta complexa matriz de desafios que o projeto NOTS foi concebido. O consórcio, de 26 entidades, propôs-se a desenvolver novos modelos de produção de baixa Pegada de Azoto, fundamentados na redução dessa pegada, aumentando o sequestro de carbono e otimizando a ciclagem do azoto e dos outros nutrientes no sistema solo-planta-atmosfera.”
A metodologia do projeto NOTS assentou num trabalho de campo intensivo, de natureza científica e de demonstração. As equipas envolvidas percorreram mais de onze mil quilómetros, do norte ao sul de Portugal Continental e Açores, para implementar e monitorizar uma rede de ensaios. Nessas zonas, foram testadas diferentes práticas agrícolas em vários sistemas de produção, nomeadamente a introdução de leguminosas em rotação com monoculturas intensivas (como milho e tomate de indústria) e a sementeira de pastagens biodiversas para o enriquecimento de sistemas agrossilvopastoris. Foi ainda realizada uma monitorização, com mais de 500 amostras de solo submetidas a análises laboratoriais, para quantificar a evolução da matéria orgânica, do azoto total e de outros nutrientes determinantes para a produtividade e sustentabilidade dos ecossistemas agrícolas. Em paralelo, um levantamento florístico – no qual foram identificadas mais de 100 espécies de plantas – permitiu caracterizar a biodiversidade das pastagens.
O projeto apostou na sensibilização da sociedade em geral, através de várias iniciativas de comunicação que procuraram aproximar a agronomia à saúde pública e à consciência ambiental das pessoas. Entre essas ações, destacam-se o desenvolvimento de uma plataforma digital para calcular a Pegada de Azoto® e o sequestro de carbono, a publicação de um livro com 30 receitas e respetivo cálculo de Pegada de Azoto® por receita (incluindo uma versão infantil), bem como a criação de um jogo de tabuleiro e de um baralho de cartas para identificação florística.
O NOTS acrescentou valor à produção nacional ao promover a inclusão de leguminosas em diferentes sistemas de produção, ao utilizar pastagens biodiversas e ao valorizar as leguminosas como base de uma alimentação humana mais saudável, em consonância com a dieta mediterrânica. O projeto traduziu ainda o conceito de “Pegada de Azoto®” numa métrica de sustentabilidade de fácil compreensão.
O NOTS-Nitro Organic to Soils procurou ainda criar novos sistemas de produção mais resilientes. E, após a conclusão do projeto, é possível saber que a inclusão de leguminosas nas rotações, em sistema de cobertura em culturas permanentes e na melhoria de pastagens em sistemas agrossilvopastoris, é altamente benéfico. Nos campos de ensaio do projeto, observou-se que essa integração de leguminosas – e a aplicação de resíduos orgânicos – deu origem a aumentos médios de 70% a 80% no azoto total e de 30% a 40% na matéria orgânica do solo na camada arável, promovendo a regeneração da base da produção agrícola.
Fonte: Instituto Superior Agronomia














































