Está a nascer na Europa, mais precisamente em Itália, a primeira quinta aquopónica da Europa, onde se vão utilizar águas residuais tratadas para a criação de peixe e vegetais, implementando o conceito de economia circular. A investigação é liderada por um consórcio europeu de 20 parceiros de oito países, no qual se integram duas instituições de ensino superior Portuguesas: o Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF), da Escola Superior de Biotecnologia (ESB), da Universidade Católica Portuguesa no Porto, e o Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) da Universidade do Porto.
O objetivo do AWARE (Aquaponics from WAstewater REclamation) é criar a primeira quinta na Europa que utiliza águas residuais num sistema aquapónico, ou seja, que combina a aquacultura com a hidroponia (cultivo de plantas fora do solo). O projeto piloto vai ser instalado na estação de tratamento de águas residuais de Castellana Grotte, em Itália, onde os investigadores esperam observar os primeiros resultados em 2026.
Este projeto vai permitir uma gestão mais sustentável da água enquanto recurso, aumentando a capacidade de produção de peixe e vegetais a um nível local e municipal, sem recorrer ao solo, a água doce e sem emissão líquida de gases com efeito de estufa. O projeto inovador envolve uma multiplicidade de áreas, que incluem a engenharia, a biotecnologia, a segurança alimentar e a ciência do consumidor.
“O nível de inovação do AWARE vai permitir que as estações de tratamento de águas residuais se transformem em locais com uma nova função, a produção de peixe e vegetais. Existe o potencial de dinamizar e dar um impulso, sobretudo, à área da aquacultura europeia, mas também criar uma maior independência regional ao nível da produção alimentar, com um grande foco na sustentabilidade”, menciona Célia Manaia, investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina da Escola Superior de Biotecnologia.
Segundo dados do projeto, a aquacultura tem estado estagnada devido à falta de inovação, variedade e parco retorno económico, num momento em que 50% do peixe consumido deriva da pesca. Ao mesmo tempo, os regulamentos europeus permitem a utilização de águas residuais na agricultura, mas não na aquacultura e na aquaponia. “O AWARE é, desta forma, um projeto pioneiro que pode ser o ponto de partida de um novo cenário para a aquacultura e demonstrar a viabilidade deste processo nesta cadeia alimentar”, acrescenta Célia Manaia.
Fonte: Universidade Católica Portuguesa no Porto