Seis tratores, tantos quantos os cêntimos que, em Portugal, o preço do leite está abaixo da média europeia. Os produtores exigem aumentos e a intervenção urgente do governo.
A ministra da Agricultura parou, ouviu. Está solidária, mas lembra que não controla preços. Criou já uma subcomissão para sentar, à mesma mesa, produção, industria e distribuição. Quem vive do leite quer mais e acusa a distribuição de “dumping”.
“O leite vendido abaixo de 40 cêntimos [42 já com IVA], que veio dos Açores, tem um pacote, custa dinheiro a pasteurizar… Alguém está a perder dinheiro, está a fazer dumping, aquilo envergonha-nos, revolta-nos. É gozar com o nosso trabalho!”, explicou à ministra o secretário-geral da Aprolep – Associação dos Produtores de Leite de Portugal, Carlos Neves, apontando o anúncio do Lidl com a promoção. O pequeno grupo de produtores esperava Maria do Céu Antunes à porta da Agros, onde a ministra ia falar num colóquio sobre o leite. Prometeu ouvir. No final, cumpriu.
Maria do Céu Antunes garante que o Ministério da Agricultura “está atento” e também os Açores estão empenhados em encontrar “uma solução de compromisso”. Já quanto à exigida subida de seis cêntimos no preço ao produtor, diz, pouco pode fazer.
“Sobre o preço do leite nós não mexemos. O preço é o mercado que dita. O que nós podemos – e é o que estamos a tentar fazer – é, no âmbito da PARCA (Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agroalimentar), criar uma subcomissão e sentar todos à mesma mesa para encontrar forma de isso acontecer”, frisou.
“A subcomissão já foi criada há mais de um mês. Esses processos são morosos e nós não temos tempo! O setor está a envelhecer, os produtores estão endividados e precisamos de atuação imediata”, atirou a vice-presidente da Aprolep, Marisa Costa.
Na semana passada, uma grande manifestação na Trofa reuniu 500 produtores. Da distribuição, nenhuma resposta. “Em 2000, vendia o leite a 35 cêntimos. Vinte anos depois, vendo a 32,5. Só queremos um preço justo”, afirma José Ferreira, produtor de Barcelos.
Miguel Silva é de Mindelo, Vila do Conde, o mesmo problema. Não fossem os pais ainda a trabalhar e o salário que não se paga a si próprio “pelas 12 ou 14 horas de trabalho”, e já tinha fechado a porta. Desde o início do ano, são as rações a subir e os preços à produção sempre na mesma.
A ministra diz-se atenta à crise, que coloca Portugal com o mais baixo preço do leite dos 27 países europeus, mas os produtores queriam mais. “Pode articular com o governo, com o Ministério da Economia, contactar as grandes superfícies e acabarem com a destruição de valor que tem sido feita no setor do leite. É um leilão negativo do “quem vende mais barato?”, que é feito à nossa custa. É preciso acabar com isso”, remata Carlos Neves, que, depois da conversa com Maria do Céu Antunes, deixou, simbolicamente, um fardo de palha à porta do Lidl, em protesto contra a promoção.
Discussão sobre este post