O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) prevê que a produção de vinho em Portugal para a campanha 2025/2026 se situe em 6,2 milhões de hectolitros, o que representa uma quebra de 11% face ao ano anterior e 12% abaixo da média das últimas cinco campanhas.
De acordo com o relatório divulgado, as quebras mais acentuadas concentram-se em três das principais regiões produtoras: Douro (-20%), Lisboa (-15%) e Alentejo (-15%). Em conjunto, estas regiões representam uma redução de cerca de 679 mil hectolitros em comparação com a campanha de 2024/2025.
Em contraste, as regiões do Dão, Beira Interior, Algarve e Açores antecipam um aumento na produção. Já nas regiões da Bairrada e de Távora-Varosa, as previsões apontam para uma manutenção dos níveis registados na campanha anterior.
A quebra prevista deve-se principalmente à instabilidade meteorológica durante a primavera, com precipitação intensa e temperaturas amenas que favoreceram o surgimento de doenças fúngicas, especialmente o míldio, afetando o potencial produtivo das vinhas. Até à vindima, as condições climáticas — nomeadamente o risco de escaldão — serão determinantes para a quantidade e qualidade da colheita, apontam as estimativas.
Previsões por região
Na região dos Vinhos Verdes, a produção deverá registar uma quebra de cerca de 5%, com o documento a referir que o início do ciclo vegetativo foi “regular e uniforme”, com alguns focos de míldio antes da floração, principalmente em vinhas mais antigas, enquanto as mais recentes apresentam um desempenho produtivo mais consistente.
Além disso, é ainda apontado que a produtividade média “não deverá ser afetada de forma relevante”, graças à entrada em produção de novas vinhas. Caso não se verifiquem ondas de calor até à vindima, prevê-se uma colheita de uvas de “excelente qualidade”.
Na região de Trás-os-Montes, prevê-se uma redução de cerca de 5% na produção, com a quebra a estar associada a dificuldades durante o vingamento e a alguns episódios isolados de míldio.
Já no Douro, a produção de vinho deverá registar uma queda de 20%. Segundo o relatório, as condições meteorológicas da primavera favoreceram o desenvolvimento do míldio, que causou perdas significativas, especialmente nas vinhas onde os tratamentos não foram aplicados atempadamente. A intensa precipitação comprometeu a floração e o vingamento, enquanto a floração tardia e concentrada, aliada ao escaldão provocado pelo calor, agravou o impacto na produção.
Na Bairrada, a produção deverá manter-se estável em relação à campanha anterior. As vinhas apresentam um “bom desenvolvimento vegetativo”, embora tenham ocorrido ataques de míldio durante a primavera, sobretudo em castas precoces e de maior vigor, devido à combinação de elevada humidade e temperaturas amenas.
No que toca à região do Dão, as vinhas mostram um “bom desenvolvimento vegetativo”, apesar de alguns episódios localizados de míldio e desavinho, principalmente nas castas Encruzado e Tinta Roriz. A produção deverá aumentar cerca de 15% face à campanha anterior, com previsões de boa qualidade. Estima-se ainda uma antecipação das vindimas em aproximadamente sete dias na zona sul da região.
Relativamente à região da Beira Interior, o impacto do míldio foi desigual entre sub-regiões, prevendo-se um aumento de produção entre 5% e 10% no Riba Coa, uma quebra de cerca de 15% na Cova da Beira e um acréscimo de 25% a sul da serra da Gardunha.
Tendo em conta o peso relativo de cada zona, estima-se um crescimento global da produção na ordem dos 10%. O início das vindimas está previsto para a primeira semana de setembro.
No que diz respeito a Távora-Varosa, a produção deverá manter-se em níveis semelhantes aos da campanha anterior. As uvas apresentam, de forma geral, um “bom estado sanitário”, sendo expectável uma colheita de “boa qualidade”.
Na região do Tejo, estima-se uma redução de 5% na produção. A campanha foi marcada por desafios meteorológicos e fitossanitários, como chuvas persistentes que favoreceram o míldio e episódios de calor intenso que causaram escaldão em algumas vinhas. Ainda assim, as vinhas apresentam “bom vigor e sanidade”, com uvas equilibradas em açúcares e acidez. Prevê-se uma colheita mais reduzida, mas de elevada qualidade.
Na região de Lisboa, prevê-se uma quebra de produção na ordem dos 15%. A campanha tem sido marcada por um ano especialmente chuvoso, com condições favoráveis ao desenvolvimento do míldio, sobretudo nas zonas costeiras. Verificam-se ainda ataques localizados, mas severos, de oídio em castas mais sensíveis. A redução produtiva resulta principalmente de um fraco vingamento e de um menor número de cachos por cepa.
Em relação à Península de Setúbal, estima-se uma redução de produção de cerca de 5%. A quebra deve-se ao impacto do míldio e da bagoinha, resultantes da chuva entre janeiro e maio, bem como ao escaldão no final de junho, que afetou principalmente as castas Castelão e Moscatel de Setúbal.
No entanto, as uvas apresentam, em geral, boa sanidade, e a menor incidência da cigarrinha-verde contribuiu para um melhor estado vegetativo da vinha. A vindima deverá iniciar-se com um atraso de uma a duas semanas face ao ano anterior.
Na região do Alentejo, a instabilidade meteorológica durante o ciclo vegetativo — com períodos de chuva e temperaturas elevadas — favoreceu o desenvolvimento do míldio.
Segundo o relatório, apesar disso, as vinhas mantêm um “bom estado sanitário”, embora apresentem um ligeiro atraso fenológico de 5 a 10 dias. Com base no número de cachos observados, prevê-se uma quebra de produção de cerca de 15% face à campanha anterior. As condições climatéricas até à vindima, em particular o risco de escaldão, serão determinantes para a quantidade e qualidade da colheita.
No território do Algarve, prevê-se um aumento de produção de cerca de 4%. De acordo com o documento do IVV, a campanha tem decorrido em condições favoráveis, beneficiando de uma pluviometria mais generosa no inverno e primavera, em comparação com o ano anterior. O crescimento deve-se, sobretudo, à entrada em produção de novas vinhas. Embora o estado de maturação esteja menos avançado, a qualidade das uvas é considerada boa, apesar de alguns focos pontuais de míldio, oídio e ataques de cigarrinha.
E nas regiões autónomas?
Na região da Madeira, estima-se uma redução da produção na ordem de 8% em relação ao ano anterior. A campanha foi marcada por uma primavera e início de verão chuvosos, combinados com temperaturas amenas, que favoreceram o desenvolvimento de míldio, oídio e podridões. O desenvolvimento vegetativo apresenta um atraso de 10 dias face a 2024.
Nos Açores, prevê-se um aumento significativo da produção, estimado em 105%. As condições climatéricas foram, no geral, favoráveis ao vingamento e ao desenvolvimento das uvas, resultando numa quantidade substancialmente superior de uva vingada. Caso não ocorram fenómenos climatéricos adversos durante a fase de maturação, espera-se uma colheita de boa qualidade.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.