A produção nacional de trigo correspondeu a 6,3% da utilização interna deste cereal em 2021, contra 59,9% em 1990, segundo o INE, que aponta que Portugal “regista uma forte dependência externa em relação ao abastecimento de trigo”.
De acordo com o documento sobre a economia do trigo, hoje divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a balança comercial de trigo em Portugal “tem sido deficitária”, apontando que era de “cerca de 48 milhões de euros” no primeiro ano da série disponível de informação homogénea (1988), tendo-se agravado para 286 milhões de euros em 2021.
O documento assinala ainda que Ucrânia e Rússia têm pesos residuais (0,5% e 0,3%, respetivamente, numa média entre 2012 e 2021) na estrutura nacional de importações de trigo, com o INE a argumentar que a suspensão das importações deste cereal com origem nestes países “dificilmente poderá afetar o abastecimento interno” de trigo.
Ainda assim, sublinha que a instabilidade resultante da intervenção militar da Rússia na Ucrânia se refletiu n cotação internacional do trigo, o que “irá muito provavelmente aumentar o desequilíbrio da balança comercial”.
Neste contexto, “mantendo-se o consumo interno ao nível de 2021 e admitindo, como hipótese técnica, que o preço de exportação do trigo no porto de Rouen se manteria, até ao final de 2022, ao nível registado a 18 de maio passado (443 euros por tonelada)”, o INE calcula “um agravamento do défice próximo de 60%” em 2022 face a 2021, para cerca de 165 milhões de euros.
Segundo o INE, no primeiro trimestre deste ano, as importações nacionais de trigo aumentaram 90,0%, face ao mesmo período de 2021, resultante das variações positivas no índice de preço unitário (34,3%) e no índice de volume (41,5%).
O INE prevê ainda uma redução da área de trigo semeado este ano, com -10% no trigo mole (para 23.000 hectares) e -5% no trigo duro (para 5.000 hectares) face à campanha anterior.