A repetição da tragédia é um temor comum na região dos grandes fogos de 2017. O ordenamento da floresta ficou na gaveta dos desejos. Muitos dizem que a realidade não se adaptou às leis que foram gizadas nos gabinetes de ministérios. Enquanto isso os eucaliptos e as acácias crescem, dando combustível aos piores pesadelos dos locais.
O fogo aconteceu. Matou. Chocou. E disse-se que nunca mais podia acontecer. Aconteceu logo quatro meses depois, em outubro de 2017. Seguiram-se discursos que prometeram a revitalização do interior e a reforma da floresta. Prometeram-se milhões, mas, passados cinco anos, parece que pouco ou nada mudou e o eucalipto e as infestantes são uma ameaça real.
A ideia de que no terreno estão a crescer as condições para a repetição da tragédia adensa-se entre os locais da região do Pinhal Interior. A frustração misturada com revolta adensa-se e está presente na maioria dos discursos.
“Gostava de fazer um balanço positivo, mas infelizmente não conseguimos. Não tivemos nenhum ordenamento propriamente. O pouco que se fez, foram as associações que têm trabalhado para os proprietários que entendem por bem ordenar alguma parte da floresta. Também algumas grandes empresas, sobretudo de pasta de papel ou ligadas a ela, têm de algum modo, tentado reordenar aquilo que lhes diz mais respeito”, afirma Margarida Guedes, presidente da Apiflor, associação que junta 600 proprietários florestais locais.
Em relação à possibilidade de haver novos fogos de grande dimensão, Margarida Guedes diz que toda a manta florestal é “propícia” a que isso aconteça.
“Vai ser difícil conter. Nunca será como antes, como é óbvio, porque já não temos a mesma mancha. No fundo, as expectativas que nós tínhamos depois do incêndio 2017 foram muito goradas, e eu diria que o foram porque o Estado Central não nos chegou com projetos que fossem exequíveis. Às vezes temos decretos, leis, mas que não chegam para nada”, relata.
As promessas do passado
Ou seja, promessas como a que o primeiro-ministro, António Costa, fez há três anos em Pedrógão Grande quando se assinalavam os dois anos da tragédia parecem uma miragem.
“Gostava de fazer um balanço positivo, mas infelizmente não conseguimos. Não tivemos nenhum ordenamento propriamente”, Margarida Guedes, presidente da Apiflor.
“As causas dos incêndios só serão substancialmente reduzidas quando se ‘vencer o desafio extraordinário de revitalizar estes territórios de baixa densidade’ e se ‘concluir a reforma da floresta’”, afirmou Costa na cerimónia de assinatura de protocolo para a criação do Memorial às Vítimas dos Incêndios de Pedrógão Grande, que decorreu na Câmara de Castanheira de Pera.
E, acrescentou ainda, que “ninguém nos poderá perdoar alguma vez se não fizermos tudo aquilo que está ao nosso alcance para enfrentar estes dois desafios”.
“Não são dois desafios para amanhã, mas dois desafios de médio e […]