O jornal Público publicou no dia 5 de agosto, um artigo do jornalista Carlos Dias, com o título “Produtores responsabilizam Ministério da Agricultura por possível ruptura nos cereais”.
Dou os parabéns públicos à Sra. Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes por dar indícios de enfrentar este importante lóbi setorial que faz crer à opinião pública de Portugal que sem haver subsídios diretos à produção de cereais que poderá haver falhas no abastecimento de cereais para o consumo dos portugueses.
Lembro que caso os objetivos da famosa Estratégia Nacional para a Promoção dos Cereais fossem cumpridos, com forte alocação de fundos financeiros públicos, a produção de Portugal não conseguiria abastecer metade das necessidades de Portugal.
Não há, nem haverá qualquer risco de abastecimento de cerais porque Portugal está integrado na União Europeia e tem acesso à compra destas matérias primas alimentares a valores muito inferiores do que fossem produzidos em Portugal porque o pais não tem condições de solos e climas para o efeito.
A política agrícola portuguesa deve privilegiar as culturas que Portugal pode produzir com maior sustentabilidade, económica, social e ambiental, como sejam as produções no modo de produção biológico. frutas e hortícolas, vinho, azeite, produtos endógenos de qualidade DOP e IGP.
O que está em causa é onde se devem colocar prioritariamente os fundos financeiros da Política Agrícola Comum de 2023 a 2027, quais as decisões de política agrícola que mais acautelam os superiores interesses de Portugal e dos Portugueses. O dinheiro é escasso e não chega para apoiar tudo e todos.
A decisão política de apoiar as produções agrícolas mais sustentáveis, onde Portugal possui maior aptidão de solos e climas, irá gerar fluxos financeiros de valor acrescentado, os quais, irão servir para o aprovisionamento dos cereais e outros alimentos, sem qualquer risco de falha de abastecimento.
Lembro que o défice da balança alimentar portuguesa em 2020 foi negativa em 3400M€, défice estrutural, este e outros défices do mesmo tipo, são responsáveis pelo alto nível de impostos, taxas e taxinhas que os portugueses pagam todos os anos e sem a respetiva anulação e posterior, superavit, não há margem de manobra, qualquer que seja o governo em funções, para reduzir as taxas e montantes dos impostos.
Como já assisti, ao longo dos meus 35 anos como agrónomo, a muitos episódios e números políticos, faço votos que a decisão tomada se mantenha até ao fim, desta vez a Sra. Ministra da Agricultura tenha a coragem política de mudar os objetivos, medidas, ações e regras dos apoios financeiros da Política Agrícola Comum para que até 2027 se elimine o défice alimentar de Portugal. Faço votos que o ditado popular “são 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha” não se aplique ao lóbi dos cereais.
Um novo paradigma para a agricultura portuguesa – José Martino