Os protestos dos agricultores portugueses nas estradas, bloqueando o acesso a vários locais do país, vêm demonstrar a revolta que há muito grassa na classe agrícola em Portugal.
De facto os últimos anos de governação do partido socialista foram um desastre para o sector agrícola, como agora se constata.
Uma governação que destruíu o ministério da agricultura retirando-lhe competências e entregando-as a outros que só têm como objectivo diminuir a agricultura e os rendimentos dos agricultores.
De há muito que sei que António Costa não tem consideração e respeito pela agricultura e pelos agricultores.
Demonstrou-o abundantemente quando fez parte de outros governos do partido socialista e lutou, tanto em Portugal como na União Europeia, para reduzir os orçamentos do país e da UE para os agricultores, querendo libertar essas verbas nacionais e da PAC para outros sectores.
Logo que tomou o poder traçou um caminho para reduzir a sua importância, desmantelando o ministério e reforçando com essas suas competências o ministério do ambiente que, como sabemos, tem como matriz acabar com a agricultura e promover um país selvagem e abandonado, para gerir a seu belo prazer a fauna e a flora autóctones.
Como golpe final nomeou uma ministra , para cumprir a quota feminina dentro do governo, politicamente irrelevante, incompetente, que só se interessa pela sua imagem, que mente aos agricultores e que tem como único objetivo fazer carreira política no partido.
Não duvido que como prémio faça parte das próximas listas do PS, em lugar elegível ao parlamento Europeu, para desfrutar da cadeira dourada, bem paga, ambicionada por todos os políticos , depois de cumprir zelosamente o desígnio que lhe atribuíram.
Há muitos anos que era fácil perceber que orçamento após de orçamento a agricultura ficava mais pobre e para trás e que mesmo ao nível da UE, quando houve a oportunidade de negociar um novo quadro comunitário, nenhuns esforços foram feitos para salvaguardar a manutenção do rendimento dos agricultores portugueses, como agora se constata.
Esta situação a que chegámos não é pois de espantar pois ela foi traçada há anos atrás e está agora a apresentar os seus resultados mais negativos para os agricultores.
A saída dos agricultores à rua é pois preocupante porque demonstra o seu desespero, mas é ainda mais relevante por não ser acompanhada pelas suas organizações agrícolas, nomeadamente as confederações, que assim deixam à sua sorte e sem liderança os protestos legítimos dos agricultores.
Aqui também o governo foi muito hábil envolvendo os parceiros sociais em negociações de acordos de concertação social em momentos críticos da política nacional, tirando daí proveito pressionando os partidos da oposição e querendo mostrar um governo dialogante apesar da sua maioria absoluta, mas sem nunca resolver os problemas dos vários sectores da economia ou mesmo cumprir os compromissos assumidos nesses acordos.
Pelo facto dos agricultores não aguentarem mais e os seus representantes preferirem negociar com este governo em vez de liderarem os seus protestos, o movimento veio para rua, de maneira inorgânica, desordenada, sem coordenação, sem um caderno reivindicativo pensado e sustentado de modo a que os compromissos assumidos pelo governo pudessem ser efectivos , imediatos e verificáveis por entidades credíveis.
Temo que o protesto não leve a ganhos significativos para o sector agrícola, até porque o governo está de saída daqui a pouco tempo e por isso é fácil prometer sem nada cumprir.
Há no entanto uma reivindicação que os agricultores deveriam exigir à partida que é simbólica mas muito relevante em termos políticos, é a saída imediata da ministra da agricultura, que não pode de modo algum ser interlocutora das negociações a terem lugar, pela sua falta de credibilidade para o efeito e por ser ela própria uma das maiores razões de queixa dos agricultores.
Por mim desejo os maiores sucessos à contestação dos agricultores na defesa dos seus justos interesses, até porque sempre defendi, na minha experiência de muitos anos de liderança da CAP , que quando se impõe, como é o caso, a contestação dos agricultores na defesa das políticas certas para o sector, esta deve ser a coluna vertebral do nosso movimento associativo e tem de ser apoiada e liderada pela sua principal confederação, a CAP.
Ex- Presidente da CAP