A responsável pelo Centro Experimental de Erosão de Solos de Vale Formoso, organismo público instalado numa herdade do concelho de Mértola, considera que o olival intensivo e superintensivo e a criação de gado bovino são, de momento, as grandes ameaças à conservação do solo no Baixo Alentejo.
A expansão dos “olivais intensivos e superintensivos” na região do Baixo Alentejo apresenta-se, de momento, como a grande ameaça à conservação do solo. Por um lado, porque “é sempre muito mau quando um país ou uma região aposta em monoculturas, e nós já vimos isso no passado [com os cereais]”, afirma, ao “Diário do Alentejo”, Maria José Roxo, responsável pelo Centro Experimental de Erosão de Solos de Vale Formoso, organismo público afeto à Direção Regional de Agricultura do Alentejo instalado há seis décadas numa herdade do concelho de Mértola.
Por outro lado, “pela forma como são feitas as preparações do terreno para a instalação dos olivais intensivos”, continua a professora catedrática da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. “É arrasar, é nivelar, é destruir linhas de água naturais e passar a ter linhas de águas artificiais, é ter solos que vão ficar contaminados com pesticidas, herbicidas. E depois preocupa-nos a contaminação dos aquíferos, porque esses materiais entram para as águas subterrâneas”, especifica.
No que respeita à água, refere, “depende de como é que estão a regar”. Caso estejam a regar com águas superficiais, “estão ligadas à rede de expansão da barragem do Alqueva; se estão a regar com furos e com águas subterrâneas estamos a gastar mananciais que temos e que são difíceis de recuperar em função das mudanças que estamos a assistir no clima, e isso é preocupante”.
A especialista em desertificação reforça que “é preocupante termos uma paisagem que é apenas uma monocultura, o que não é bom para a biodiversidade”. Se houver uma praga “fica tudo aniquilado”. E questiona: “Quando estas monoculturas intensivas e superintensivas depois terminam, como é que fica a paisagem, o que é que se põe a seguir?”. Por isso considera “lastimável” que se permitam “hectares e hectares sucessivos, sem interrupção, do mesmo tipo de cultura”.
Não querendo ser pessimista, mas por aquilo que observa, Maria José Roxo “gostaria que a expansão dos olivais intensivos e superintensivos terminasse e que houvesse uma política concreta de gestão do território do ponto de vista agrícola, e isso não tem transparecido”.
Já no concelho de Mértola, onde desenvolve trabalhos de investigação desde finais da década de 80 do século passado, pelo que lhe é dado observar, é “seriamente” preocupante o “impacto” da criação de gado bovino. Embora não tenha dados atualizados, diz que é possível “observar na paisagem” um aumento desse tipo de criação, “verdadeiramente um problema do ponto de vista ambiental e de degradação de solos”.
Defende, por isso, que, onde não há solo para a agricultura, “deve apostar-se em pastagens naturais para ovelhas e cabras e não vacas”. Porque “os bovinos têm uma exigência muito maior em termos de alimentação, porque não temos pastagens de qualidade naqueles solos que permitam a exigência deste gado e porque tivemos o azar de ter em 2006, e nos anos seguintes, períodos de seca que verdadeiramente debilitaram todos os ecossistemas naquela região”, justifica.
Há registo, no entanto, “de muitas áreas [no concelho] que estão a dar indícios de recuperação”, o que é “muito reconfortante também”. Situação essa que se deve ao abandono dos solos, “porque a vegetação natural tende a recuperar o terreno”. A investigadora espera é que os agricultores não resolvam colocar novamente “aqueles terrenos em produção, não sei muito bem do quê”, “lavrando outra vez a terra e destruindo a vegetação”, se bem que é algo impossível de controlar, diz.
“CONHECIMENTO DO TERRENO É VERDADEIRAMENTE IMPORTANTE”
Segundo Maria José Roxo, o “objetivo crucial” do centro experimental, “o mais antigo da Europa em funcionamento” na área do estudo de erosão de solos, foi sempre trabalhar “esta componente da desertificação, que é a questão da erosão de solos, e que tem uma ligação muito grande às práticas agrícolas, aos tipos de agricultura, de cultura”. E, consequentemente, que o trabalho desenvolvido no centro pudesse ser divulgado.
Nesse sentido, relembra “os vários ‘workshops’, reuniões, dias abertos com os agricultores” realizados com vista a demonstrar os resultados que iam obtendo nas parcelas experimentais. E a recetividade “foi muito boa”. “Se eu mudar uma forma de trabalhar ou de conservar o solo, ou se um agricultor, em vez de
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