Os agricultores do Canadá começaram a produzir culturas geneticamente modificadas assim que foram aprovadas, no final da década de 1990, e 25 anos depois os resultados estão à vista: maior produtividade e menor uso de fitofarmacêuticos. Situação bem diferente assiste-se na Europa, onde a resistência à adoção de tecnologias inovadoras na agricultura tem resultado em aumentos mínimos da produtividade.
A agricultura no Canadá adotou tecnologias e produtos inovadores. Os agricultores do Canadá adotaram os produtos geneticamente modificados logo após a sua aprovação no final da década de 1990. Vinte e cinco anos mais tarde, a adoção da canola e do milho geneticamente modificados (GM) representa praticamente toda a produção, enquanto a adoção da soja GM é superior a 80%. A redução da terra cultivada e da utilização de fitofarmacêuticos coloca os agricultores canadianos entre os mais sustentáveis do mundo.
Já a União Europeia (UE) assumiu uma abordagem totalmente oposta à do Canadá, implementando um sistema regulamentar que restringe e proíbe produtos e tecnologias agrícolas inovadores. A abordagem da UE baseada na precaução resultou na aprovação de apenas uma cultura geneticamente modificada neste século, enquanto o Canadá aprovou 107 utilizando um quadro regulamentar baseado na ciência. A produção agrícola na UE mantém-se relativamente inalterada, apesar de várias décadas de inovação agrícola transformadora.
A transformação na sustentabilidade agrícola do Canadá
A principal prioridade para um rendimento superior das culturas é o controlo eficiente das ervas daninhas. As infestantes produzem maiores quantidades de sementes e utilizam recursos hídricos e nutrientes que não estão disponíveis para as culturas. Um controlo deficiente das ervas daninhas é uma das principais causas da diminuição do rendimento das culturas. Quando as culturas geneticamente modificadas tolerantes aos herbicidas foram comercializadas em meados da década de 1990, os agricultores canadianos adotaram-nas rapidamente, uma vez que a tecnologia melhorou consideravelmente o controlo das ervas daninhas. A adoção generalizada de culturas geneticamente modificadas tem impulsionado avanços significativos em termos de sustentabilidade na agricultura.
Ao longo dos últimos 25 anos, a eliminação da terra cultivada como principal forma de controlo de ervas daninhas resultou, adicionalmente, na passagem do solo de emissor líquido de carbono para sequestrador de carbono. Os solos de Saskatchewan sequestram anualmente 0,4 toneladas métricas de carbono por hectare. Noventa por cento dos agricultores indicaram que o controlo eficiente das ervas daninhas proporcionado pela utilização do glifosato lhes permitiu um controlo eficiente e contínuo das ervas daninhas e manter a lavoura fora das suas práticas de gestão dos solos. Alguns campos de cultivo em Saskatchewan têm estado sem mobilização do solo há 20 anos ou mesmo mais, reduzindo grandemente a erosão do solo e aumentando a conservação da humidade.
Os herbicidas desempenham um papel fundamental nas estratégias de controlo das infestantes. Os herbicidas anteriores tinham impactos ambientais superiores aos impactos dos herbicidas atualmente utilizados. Os dados a nível das explorações agrícolas sobre a utilização de herbicidas nas culturas de 2016 a 2019 indicam que o impacto ambiental destes herbicidas é 65% inferior ao impacto dos herbicidas utilizados entre 1991 e 1994. Este menor impacto ambiental também beneficia a biodiversidade, uma vez que os produtos químicos agrícolas têm atualmente um impacto mais fraco na biodiversidade do que nas décadas anteriores, uma vez que a utilização de herbicidas mais inofensivos em quantidades menores resulta numa menor transferência de resíduos de herbicidas para a bacia hidrográfica.
Os dados de Saskatchewan sobre a utilização de fertilizantes a nível das explorações agrícolas indicam um aumento de 102% no volume total de fertilizantes aplicados entre 1991-1994 e 2016-2019. Quarenta por cento deste aumento deve-se ao acréscimo de 7 milhões de hectares de culturas que já não são de verão. Os rendimentos aumentaram 28% entre estes dois períodos. Quando se examina a eficiência da utilização do azoto, os agricultores são muito mais eficientes, pois enquanto a utilização total de fertilizantes aumentou 102%, a utilização de azoto aumentou apenas 29%. Os agricultores estão a produzir mais alimentos por hectare e por libra de fertilizante aplicado do que anteriormente.
A aversão da Europa à sustentabilidade
Os agricultores europeus têm sido continuamente impedidos de adotar as inovações de que beneficiam os agricultores canadianos, sendo forçados a utilizar métodos de produção agrícola mais antigos. A terra cultivada continua a ser a principal forma de controlo das ervas daninhas em toda a Europa.
A não adoção de culturas geneticamente modificadas na maior parte da Europa resulta na libertação anual de 33 milhões de toneladas de emissões de gases com efeito de estufa, o que torna as emissões agrícolas de gases com efeito de estufa 7,5% mais elevadas do que se as culturas geneticamente modificadas tivessem sido adotadas em níveis semelhantes aos do Canadá. Embora o milho geneticamente modificado seja cultivado em Espanha e Portugal, os agricultores do resto da Europa não têm acesso a esta inovação sustentável. O fracasso da UE em adotar culturas GM de maior rendimento resultou em aumentos mínimos de produtividade, uma vez que, entre 1995 e 2019, os dados da FAO mostram que o índice de produção agrícola para os 27 países da UE aumentou apenas 7%, enquanto a produção agrícola nos Estados Unidos aumentou 38%.
O atual quadro da política agrícola da UE, a Estratégia do Prado ao Prato (F2F), exige uma redução de 20% na utilização de fertilizantes, uma redução de 50% na utilização de pesticidas, uma redução de 50% no impacto ambiental dos pesticidas e uma triplicação da produção em modo biológico. A aplicação do F2F resultará numa diminuição da produção alimentar: -26% para os cereais, -27% para as oleaginosas, -10% para as frutas e legumes, -14% para a carne de bovino e -9% para os lacticínios. A UE está a abandonar os compromissos assumidos para alcançar os três principais Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas: erradicar a pobreza, erradicar a fome e melhorar a saúde.
Benefícios da adoção da inovação
Devido à proibição de tecnologias e produtos inovadores, os agricultores europeus estão a renunciar aos benefícios de que beneficiam os agricultores canadianos. O quadro regulamentar canadiano, de base científica, avaliou os riscos dos produtos inovadores, determinando que não são mais arriscados do que os produtos existentes. Esta decisão provou ser a mais correta, dada a evidência de impactos reduzidos no ambiente e na biodiversidade. Os agricultores canadianos melhoraram consideravelmente a sustentabilidade da produção alimentar graças às inovações e à garantia de que a sustentabilidade económica é a prioridade na tomada de decisões.
A adoção, na Europa, de um regulamento com uma abordagem baseada na precaução impede a comercialização de produtos e tecnologias vitais que estão a contribuir para uma maior sustentabilidade. As atuais políticas estão a garantir que a Europa está, na realidade, a garantir que a produção alimentar será menos sustentável do que foi no passado ou em comparação com a produção noutros países que adoptam a inovação.
Leia o artigo original, da autoria de Stuart J. Smyth, publicado na Agricultural Science & Technology.
O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.