O secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou hoje a disponibilidade da Rússia para oferecer toneladas de cereais a seis países africanos, alertando que esta ação não irá contribuir para baixar os preços dos alimentos no mundo.
O Presidente russo Vladimir Putin anunciou hoje, na sessão de abertura da cimeira Rússia-África, em São Petersburgo, que Moscovo poderá enviar gratuitamente entre 25.000 e 50.000 toneladas de cereais a seis países africanos nos próximos quatro meses: Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana (RCA) e Eritreia.
“Não é com um punhado de donativos que vamos corrigir o impacto dramático [da subida dos preços dos cereais] que afeta toda a gente em todo o lado”, sublinhou Guterres, lamentando a saída da Rússia dos chamados acordos do mar Negro, que paralisou as exportações ucranianas de cereais.
“A remoção de milhões e milhões de dólares em cereais do mercado leva a preços mais altos do que ocorreria com o acesso normal dos cereais ucranianos ao mercado internacional. Esse impacto será pago pelo mundo inteiro e, especificamente, pelos países em desenvolvimento e pelas populações mais pobres e vulneráveis”, alertou o diplomata português.
O porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, também criticou hoje a oferta russa a seis países africanos: “Vai ser bom para esses países, mas não substitui os milhões e milhões de cereais ucranianos e o impacto negativo que isso está a ter no mercado global de alimentos”.
Moscovo suspendeu em 17 de julho o acordo para exportação de cereais da Ucrânia através do mar Negro, que estava a vigorar há quase um ano, justificando a decisão com o bloqueio das sanções ocidentais às exportações dos seus produtos e fertilizantes agrícolas.
A Ucrânia é origem de percentagem significativa dos cereais que chegam, por exemplo, a países em África, e a União Europeia e a NATO acusam Moscovo de colocar em causa a segurança alimentar em grande parte do mundo.