Não podemos fazer contas simples para problemas complexos: a bioenergia utilizada numa óptica extractivista, ignorando impactos nos solos, na água, na fixação de populações rurais, nos avanços da desertificação e da desflorestação e em plena crise climática, não serve.
Há dias, teve lugar em Lisboa um evento europeu sobre bioenergia (EUBCE 2019). Dias antes, Maria da Graça Carvalho, eurodeputada e responsável pelo evento, veio a público defender o potencial de Portugal neste domínio. Estará de volta a saga do “petróleo verde”?
No decurso do evento, o ministro do Ambiente anunciou a intenção do Governo em alterar a estratégia da utilização da biomassa florestal, da produção de energia eléctrica para uma aposta que poderá agora passar pela produção de energia térmica. É um passo em frente. Em consequência da política europeia que favorece o uso massivo de bioenergia, têm-se registado verdadeiros atentados, o principal dos quais a perda de vastas áreas territoriais de florestas (nos Estados Unidos, Canadá e Rússia, e em Estados-membros, incluindo em áreas da Rede Natura 2000), mas também o retrocesso civilizacional associado à substituição do carvão pela queima de árvores para produzir electricidade.
Em Portugal prolifera o licenciamento de centrais a biomassa para produção de electricidade, em unidades de média e grande escala. A par destas unidades, prolifera a produção de pellets de madeira, quase exclusivamente para exportação. Num país em descontrolada desflorestação, com solos empobrecidos, o corte de arvoredo e a extracção abusiva de sobrantes (fertilizante orgânico) são um entrave ao equilíbrio ambiental e social. Esta tendência reforça a desflorestação, a desertificação e priva-nos de ferramentas de combate às alterações climáticas. […]