A crescente procura por soluções sustentáveis no setor agrícola tem colocado em evidência uma transição para sistemas de produção de baixo carbono. Nesse cenário, as tecnologias digitais surgem como aliadas estratégicas, permitindo não apenas a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), mas também o aumento da eficiência produtiva e a promoção de uma agricultura mais resiliente.
Neste artigo tento explorar o papel transformador dessas tecnologias e destacar os seus benefícios, desafios e perspetivas. Conforme relatórios da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o setor agrícola é responsável por aproximadamente 19% das emissões globais de GEE.
Práticas agrícolas inadequadas, contribuem de forma significativa, para esse impacto ambiental. Assim, a adoção de tecnologias digitais, pode transformar positivamente esse panorama, otimizando processos e promovendo uma gestão mais inteligente e eficiente dos recursos naturais.
A agricultura de precisão utiliza sensores, drones e sistemas de georreferenciação para monitorizar e gerir variáveis como a humidade do solo, estado nutricional das plantas e necessidades de aplicação de fatores de produção. Essa abordagem minimiza assim, o consumo quer de fertilizantes, quer de produtos fitofármacos, reduzindo significativamente as emissões associadas. A também utilização associada de dispositivos conectados permitem o controlo em tempo real de estufas e sistemas de irrigação. Esses dados auxiliam na tomada de decisão, mais precisa e na identificação de oportunidades para capturar carbono no solo. Sistemas de inteligência artificial (IA), que conseguem analisar grandes volumes de dados para prever colheitas, identificar padrões climáticos e recomendar práticas agronómicas sustentáveis. O uso da IA, também permite simular cenários futuros e testar a eficácia de estratégias em relação ao sequestro de carbono. A tecnologia blockchain oferece rastreabilidade completa para as cadeias de produção agrícolas, dando assim a garantia aos consumidores, que esses produtos são oriundos de práticas de baixo carbono.
Essa transparência é valorizada por mercados consumidores e pode gerar incentivos financeiros aos agricultores. A integração de tecnologias digitais oferece uma série de benefícios, incluindo redução de emissões, minimização do uso de produtos de síntese química e uma maior eficiência na gestão dos sistemas produtivos, aumento da produtividade, melhoria no rendimento das colheitas por meio da tomada de decisão, baseada em dados, resiliência climática, adaptação às condições climáticas variáveis, reduzindo vulnerabilidades, e acesso a mercados, com produtos rastreados e certificados como sustentáveis encontrando uma maior aceitação em mercados que valorizem e paguem essa diferenciação.
Apesar de seu potencial, a adoção de tecnologias digitais enfrenta desafios, como por mim já foi abordado em artigos anteriores, como a acessibilidade financeira, pois muitos dos pequenos agricultores, não possuem recursos para investir em tecnologias, também ao nível das infraestruturas uma vez que regiões rurais frequentemente carecem de conectividade adequada, (e assim devem continuar, uma vez que a Estratégia Digital nacional, publicada há dias, aponta para uma meta dos 100% das áreas povoadas abrangidas por redes de alta velocidade 5G, esquecendo as partes rurais, onde se pratica agricultura…) e finalmente a capacitação, pois é essencial educar e formar os agricultores sobre o uso e os benefícios das tecnologias.
Os mercados de créditos de carbono representam uma oportunidade promissora para incentivar a transição para sistemas de baixo carbono. As tecnologias digitais desempenham um papel crucial na transição para uma agricultura de baixa emissão de carbono, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e o fortalecimento económico do setor. Ao superar desafios estruturais e promover a adoção dessas soluções, certamente que estaremos a dar passos decisivos, rumo a um futuro agrícola mais sustentável e eficiente.
Agricultor | Professor no IPVC