Podemos aceitar, em nome da liberdade de opinião, essa visão ecológico-museológica do mundo rural e das suas atividades produtivas primárias. O que já não podemos aceitar é que nos tentem impingir essa visão como sendo o paradigma do futuro.
Com mais de dois terços da população portuguesa a residir em áreas urbanas, as cidades tornaram-se os grandes centros de criação de riqueza e de emprego, onde o poder económico anda de braço dado com o poder político, o poder do conhecimento e o poder da comunicação. Porém, esse mundo poderoso seria um pesadelo sem o mundo rural que lhes dá os alimentos e a água que o mantém vivo, o ar que respira ou as paisagens para o seu lazer.
Nunca como hoje o espaço rural foi tão vital para a qualidade de vida dos centros urbanos. E, no entanto, nunca como hoje este mundo rural – com a sua agricultura, a sua pecuária, a sua floresta, os seus agricultores e produtores florestais – foi tão desconsiderado. Basta para isso ler ou ouvir certos sábios da cidade, grupos ecologistas, ou mentores das chamadas novas esquerdas, para quem o espaço rural deveria ser uma espécie de Rede Natura 2000 ou um museu ao ar livre, onde as atividades agrícolas deveriam ter um caráter excecional e sempre muito verde.
Um primeiro exemplo desta visão fashion e sexy tem a ver com a sustentabilidade no setor agroalimentar. Como todas as atividades, a agricultura tem externalidades positivas e negativas, sabendo que o que temos a fazer é potenciar aquelas e minimizar estas, mediante uma utilização eficiente no uso dos fatores de produção, especialmente a água e o solo. Contudo, nesta visão não há lugar para o regadio e sistemas intensivos, fertilizantes químicos, pesticidas, fungicidas, herbicidas, ou espécies florestais de crescimento rápido, para citar alguns
Arlindo Cunha
Ex-ministro da Agricultura e viticultor no Dão