O setor agrícola europeu enfrenta um desafio silencioso, mas determinante para o seu futuro: o envelhecimento da sua força de trabalho. O dado de que apenas 12% das explorações agrícolas da União Europeia são geridas por agricultores com menos de 40 anos não é apenas uma estatística; é um alerta para a necessidade urgente de rejuvenescimento e renovação. Sem uma nova geração para tomar as rédeas, a segurança alimentar, a vitalidade das zonas rurais e a sustentabilidade ambiental do continente ficam em risco.
Neste contexto, a Política Agrícola Comum (PAC) assume um papel central, definindo como um dos seus objetivos específicos o incentivo ao emprego, crescimento e desenvolvimento local nas zonas rurais. A meta é clara: tornar estes territórios novamente atrativos para os jovens, criando condições de vida e de trabalho que não só travem o êxodo rural, mas que o consigam reverter.
Se o panorama europeu é preocupante, em Portugal a questão do envelhecimento no setor agrícola é ainda mais pronunciada. De acordo com os dados do Recenseamento Agrícola de 2019 (RA19), a idade média dos produtores agrícolas em Portugal é de 65 anos. Apenas 3,9% dos gestores de explorações agrícolas têm menos de 40 anos, um valor significativamente abaixo da já baixa média europeia. Esta realidade demográfica sublinha a urgência de políticas eficazes que promovam a sucessão e a entrada de novos talentos no setor.
Contudo, nem tudo são más notícias. Nos últimos anos, observa-se um interesse crescente pela agricultura por parte dos jovens portugueses. Impulsionados por uma nova visão sobre o potencial do setor e por programas de apoio específicos, como o Plano Estratégico da PAC (PEPAC) para Portugal, muitos jovens entre os 18 e os 40 anos veem no campo uma oportunidade para construir uma carreira com propósito e, simultaneamente, combater a desertificação de vastas áreas do território.
A atração de jovens agricultores assenta numa estratégia multifacetada que visa mitigar os principais obstáculos à entrada na atividade:
O Apoio Financeiro e ao Investimento: Programas como o anterior PDR2020 e o atual PEPAC oferecem um “prémio à primeira instalação” e apoios ao investimento que podem atingir uma parte significativa do valor dos projetos. Este suporte é crucial para mitigar o elevado custo inicial de aquisição de instalação, melhoramentos fundiários, plantações, construções, maquinaria e tecnologia
Formação e Capacitação: A entrada de jovens no setor é cada vez mais qualificada. Muitos dos novos agricultores trazem formação superior em agronomia, gestão ou outras áreas, aplicando conhecimento técnico e de gestão moderno às suas explorações.
Foco na Agricultura Familiar e Sustentável: apoio direcionado para modelos de agricultura familiar, que são a espinha dorsal do tecido rural português. Ao promover a produção sustentável e a valorização de produtos locais e de qualidade, cria-se um nicho de mercado de maior valor acrescentado, mais atrativo para novos empreendedores.
São desafios complexos em que os jovens agricultores enfrentam um cenário de incertezas e desafios. E que, contudo, podem trazer sucesso.
Desenvolvimento Tecnológico: A transição para a agricultura 4.0 (precisão, digitalização, automação) é uma oportunidade para aumentar a eficiência e a sustentabilidade. No entanto, exige um elevado investimento e competências digitais, representando um desafio para muitos.
Agricultura Tradicional vs. Intensiva: Os jovens agricultores encontram-se no centro do debate sobre o modelo de produção a seguir. Muitos optam por um caminho intermédio, aliando práticas tradicionais e conhecimento local com inovação, focando-se em modelos de produção regenerativa, biológica ou integrada.
O Acordo Mercosul e a PAC: A potencial concorrência de produtos oriundos de mercados com normas ambientais e laborais menos exigentes, como o Mercosul, gera grande apreensão na pecuária. A forma como a PAC e as políticas comerciais europeias equilibrarem a competitividade global com a proteção dos agricultores europeus será decisiva para a confiança e viabilidade económica a longo prazo.
Se seguirmos este caminho teremos ganhos de sustentabilidade. A entrada de jovens agricultores é o motor essencial para a transformação do setor. A sua visão e energia são cruciais para alcançar a sustentabilidade nas suas três dimensões fundamentais:
Sustentabilidade Económica: Através da inovação, da gestão profissionalizada e da orientação para o mercado, os jovens garantem a viabilidade e a rentabilidade das explorações, assegurando a sua continuidade.
Sustentabilidade Ambiental: Mais recetivos a práticas agrícolas de baixo carbono, à conservação da biodiversidade e à gestão eficiente dos recursos hídricos, os jovens agricultores são os principais agentes da transição verde no campo.
Sustentabilidade Social: Ao fixarem-se nos territórios rurais, estes jovens constituem família, criam emprego, dinamizam as economias locais, rejuvenescem comunidades e ajudam a preservar a paisagem e o património cultural, combatendo o abandono e a desertificação.
Em suma, investir nos jovens agricultores não é apenas uma política setorial; é um investimento estratégico na coesão territorial, na segurança alimentar e no futuro sustentável de Portugal e da Europa. Eles são a semente indispensável para a agricultura que queremos colher amanhã.
Estou certo que “a informalidade que circula no ministério da agricultura que das 570 candidaturas do 1.º Aviso só há orçamento para apoiar 70, 13% das candidaturas submetidas serão financiadas”, estou certo que, apesar de nesta altura haverem especialistas que defendem que o número deve mais que duplicar e passar para as 150, o governo não aceitará incoerência política inaceitável, financiará a 1.ª instalação de todos os jovens que tiverem a respetiva candidatura aprovada!
Escritor e engenheiro do ambiente
Portugal entre dois mundos: a agricultura como chave para o futuro