Visa, Microsoft e IBM são algumas das maiores empresas que estão à procura de especialistas em Blockchain. Esta tecnologia está a trazer grandes alterações causadas por necessidades de controlo cada vez maiores no que respeita a cada etapa da produção, transformação, distribuição e informação sobre a qualidade e características de um dado produto. A tecnologia Blockchain já não está apenas ligado à utilização de bitcoin e criptomoedas. Irá ter um impacto cada vez mais generalizado nas nossas vidas. As pessoas estão começando a utilizá-la em casa, para melhor gerir aplicações domóticas e as grandes empresas do sector da energia estão a começar a utilizar a tecnologia Blockchain para um melhor controlo sobre a faturação do consumo energético.
Paralelamente, no sector agroalimentar, a tecnologia Blockchain pode ser uma grande oportunidade para a indústria criar novas formas para o estabelecimento de políticas de diferenciação e para os consumidores poderem melhor entender o que está na origem de um produto.
Mas antes de mais, quando nos referimos ao Blockchain, do que estamos a falar? Como funciona?
Blockchain: o que é e como funciona?
Resumidamente, o Blockchain é um sistema de blocos ligados entre si, tendo como grandes mais-valias a transparência e a integridade, ou seja, a não corrupção do sistema graças à sua natureza descentralizada e distribuída.
Transparência porque todas as atividades que acontecem dentro de cada bloco são públicas e periodicamente registadas em todos os nós interligados do sistema. Cada grupo de informação que é gravada corresponde a um bloco.
Estes blocos são distribuídos e compartilhados entre todos os nós da cadeia, como que ligados por uma corrente. É por isso que o sistema é considerado íntegro, ou incorruptível: para manipular a informação nela contida, teria de se entrar em cada um dos seus nós, estando a falar de centenas de milhões, ou mesmo de biliões de dispositivos como sejam computadores e smartphones.
O Blockchain aplicado a bens de consumo
A tecnologia relacionada com a Internet das Coisas, que permite que um objeto se ligue à Internet para obter informação ou exercer uma função, é a base na qual um produto físico poderá ser ligado ao Blockchain.
Abaixo é apresentada uma descrição de uma das fórmulas de rastreabilidade desenvolvidas pela 1trueid para o sector agroalimentar: a etiqueta NFC.
Como funciona a etiqueta NFC da 1trueid?
A etiqueta é um chip que é aplicado ao objeto para ser monitorizado ou “lido” e é associado a um número de série que identifica o objeto de forma única. Uma vez digitalizada a etiqueta do produto, os seus conteúdos e a sua informação poderão ser desencriptados e lidos utilizando a aplicação Web da 1trueid, fornecendo uma forma inequívoca de aceder à autenticidade do produto.
Benefícios para o fabricante e para o consumidor
O chip fornece informação diferenciada, dependendo de como esta foi registada na aplicação e do tipo de acesso. O fabricante pode aceder a toda a informação sobre o produto, processos e distribuição (ajudando a minimizar a ocorrência de mercados não autorizados para a venda do seu produto).
Por outro lado, os consumidores podem aceder a informações do produto como sejam, características e funcionalidades, fotografias, vídeos, etc., às quais conferem grande importância, possibilitando a avaliação da autenticidade e qualidade do produto.
Numa eventual interrupção na comunicação entre o chip e o dispositivo, ou se o produto não está equipado com um chip, o mesmo será classificado como contrafeito e não correspondendo ao declarado no rótulo.
Benefícios diretos para o marketing
Quando um consumidor digitaliza uma etiqueta que está no produto, o departamento de marketing do fabricante pode obter alguns dos seus dados tais como, nome, apelido, endereço de correio eletrónico, género, idade e localização geográfica no momento em que a etiqueta foi digitalizada.
Adicionalmente, o consumidor pode declarar a propriedade de um produto na aplicação, com a opção de partilhar esta informação nas redes sociais. Em termos de marketing, isto leva a análise da experiência de consumidor para além do momento de consumo do produto, integrando as atividades de marketing realizadas anteriormente e percecionando o processo pelo qual o consumidor passou para a tomada de decisão de compra do produto.
Devido à ligação estreita entre o objeto e o seu proprietário, os conteúdos lidos através da etiqueta podem ser customizados com o nome do comprador e serem propostos outros produtos que potencialmente poderão ir ao encontro das suas preferências, aplicando técnicas de venda-cruzada e venda-adicional.
Aplicação do Blockchain no sector agroalimentar: diferenciação e padrões de saúde.
A grande variedade de produtos agroalimentares e a aplicação do Blockchain permitem explorar estratégias de marketing que se focam nas características intrínsecas do produto associadas à sua matéria-prima, ao território e ao artesanato, ao contrário de explorar estratégias baseadas principalmente em políticas de preço.
Para além de questões relacionadas com o marketing, a aplicação de etiquetas ligadas ao Blockchain torna possível resolver problemas relacionados com a observação de padrões de qualidade e de saúde.
Por exemplo, pequenos produtores de trigo e da indústria de massas alimentícias em Itália tiveram de endereçar o problema do uso de glifosato no trigo importado de outros países.
No mercado de carne americano, foi desenvolvido um portal que utiliza o sistema Blockchain para rastrear a origem de carne de peru, prevenindo questões de saúde para explorações intensivas, mas acima de tudo, permitiu destacar produtores mais pequenos, dando-lhes a oportunidade de mostrar a diferenciação e qualidade do seu produto.
No Japão, para resolver uma questão levantada pelo excesso de populações de animais selvagens que causam danos consideráveis às pequenas comunidades locais, foi decidido, em conjunto com o Ministério da Agricultura, o uso do sistema Blockchain para monitorizar os padrões de saúde da carne de caça. Eles transformaram simultaneamente uma ameaça para a economia local em um bem.
Muito espaço para a imaginação…
A adoção desta tecnologia no sector agroalimentar traz tantos benefícios que será difícil listá-los todos em tão curto texto. No entanto, é evidente que o Blockchain pode ajudar as empresas a alcançarem maiores eficiências, economizando recursos graças a um maior controlo de processos e maiores eficácias, através da capacidade de explorar as qualidades intrínsecas dos produtos e as suas origens como fator de diferenciação.
Cada vez mais, teremos de nos recordar que estas vantagens terão o maior impacto particularmente nas pequenas indústrias e nas PMEs agroalimentares. A utilização da tecnologia Blockchain por parte destas empresas através do uso de etiquetas NFC e outras aplicações irá permitir-lhes gerir de forma mais adequada cada etapa da produção, transformação e distribuição e, em particular, explorar o sector premium com base no tipo de produto, suas características e tantos outros fatores que contribuem para alcançar tal resultado de produção. Para além dos benefícios para a logística e as eficiências que daí derivam, esta tecnologia irá levar a uma diminuição progressiva do valor e preço das estratégias de marca como fatores de diferenciação.
Empresas vitivinícolas, produtoras de azeite, queijarias, agricultores em geral e empreendedores agroalimentares deverão aproveitar esta oportunidade: graças à integração entre as esferas digital/online e offline, será a melhor forma de amplificar o valor do território, da variedade agroalimentar e, acima de tudo, do valor do trabalho.
Tommaso Cattivelli
Fundador da Cru Agency e especialista em marketing alimentar na 1trueid
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