O investimento global em startups de edição genética na área agrícola cresceu de forma notável, aumentando 206% no primeiro semestre de 2024, conforme revela um relatório recente da Agfunder. Este significativo aumento demonstra um renovado otimismo no setor e sugere um novo impulso para a inovação agrícola. A tendência indica uma recuperação do investimento após um período de incertezas, com um foco crescente na utilização da edição genética para melhorar a produtividade e a sustentabilidade das culturas agrícolas.
Durante o primeiro semestre de 2024, as startups de edição genética agrícola captaram pouco mais de 161 milhões de dólares em seis transações, um valor consideravelmente superior aos 46 milhões de dólares arrecadados no mesmo período do ano passado. Mesmo excluindo um único investimento de 40 milhões de dólares, as startups ainda obtiveram um aumento de 206% em relação ao ano anterior.
A atividade de transações também está em alta, com o número de negócios no primeiro semestre de 2024 igualando o total registado ao longo de todo o ano de 2023. Estes dados são 140% superiores aos do primeiro semestre de 2022, embora só o tempo dirá se o total de 241 milhões de dólares arrecadados em 2022 será superado em 2024.
Apesar destes avanços, o investimento em startups de edição genética agrícola ainda está aquém dos níveis pré-pandemia de 2018. O ano de 2017, com 58 milhões de dólares arrecadados, teve um desempenho inferior ao atual, especialmente após o pico de 374 milhões de dólares em 2016.
Historicamente, as transações têm sido distribuídas de maneira relativamente uniforme ao longo do ano. Em 2022, o primeiro semestre foi responsável por metade das doze transações, enquanto em 2021 e 2020, o primeiro semestre abrangeu seis das catorze e sete das quinze transações, respetivamente. Esta distribuição sugere que a queda acentuada observada em 2023 é improvável de se repetir em 2024.
Desde 2012, o setor de edição genética agrícola levantou mais de 2,72 mil milhões de dólares, de acordo com dados da AgFunder. Muitos especialistas em biotecnologia agrícola acreditam que esta área pode ser uma das mais promissoras no campo tecnológico, devido aos recentes avanços na precisão e redução de custos que têm acelerado a investigação e aumentado a eficiência.
Exemplos notáveis incluem a tecnologia de “melhoramento genético” da Ohalo Genetics, que utiliza proteínas para desativar o mecanismo de divisão genética, e a Tropic, que aplica a sua plataforma de edição genética induzida por silenciamento de genes (GEiGS) para combater doenças e patógenos das culturas.
Vantagens da tecnologia
A edição genética tem o potencial de revolucionar a agricultura, permitindo o desenvolvimento de novas variedades de culturas que superam significativamente as existentes. Estas culturas podem ser modificadas para resistir a pragas e secas ou adaptadas a ambientes adversos, como arroz cultivado em água salgada. Além disso, a tecnologia pode melhorar o rendimento e a qualidade das colheitas.
A edição genética também oferece uma vantagem regulamentar, pois permite melhorar as culturas sem que sejam classificadas como “geneticamente modificadas” (GM), evitando assim regulamentações mais rígidas. No entanto, a União Europeia ainda trata os produtos de edição genética como OGM, o que cria um ambiente menos favorável na região.
Esta regulamentação pode explicar a predominância das Américas no setor, com 81,9% do financiamento (2,23 mil milhões de dólares), seguidas pela Ásia com 13% (354,31 milhões de dólares) e Europa com apenas 5% (136,69 milhões de dólares).
Embora a União Europeia enfrente desafios regulatórios, as instituições europeias estão a começar a reconhecer a importância da tecnologia e a apoiar projetos de pesquisa com subvenções e outras contribuições. Em julho, o projeto Ancient Environmental Genomics Initiative for Sustainability (AEGIS) recebeu 85 milhões de dólares, com 72 milhões vindos da Fundação Novo Nordisk e o restante do Wellcome Trust. Este projeto visa criar um mapa genómico global da biodiversidade usando fragmentos de DNA antigos, o que pode impulsionar o desenvolvimento de novas variedades com base em dados evolutivos.
Em termos de transações, as três maiores rondas de investimento na primeira metade de 2024 foram realizadas por empresas dos EUA. A Inari arrecadou 103 milhões de dólares numa ronda de estágio final em janeiro, enquanto a Ohalo Genetics levantou cerca de 40 milhões de dólares numa ronda da Série A. A BioConsortia obteve 15 milhões de dólares numa ronda final em abril, e a GeneNeer de Israel ficou em quarto lugar com um investimento inicial de 1 milhão de dólares em janeiro.
Em 2023, as principais transações ocorreram no primeiro semestre, com a Elo Life Systems a arrecadar 24,5 milhões de dólares e a Inscripta, 4,4 milhões de dólares numa ronda tardia. A startup brasileira Symbiomics e a Sanmi Biotechnology, da China, também receberam investimentos significativos.
O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.