Anunciado no encontro anual do Produtores Florestais, realizado no dia 21 de junho em Vendas Novas, o novo clube representa uma iniciativa inédita no setor.
Um clube “que abarca todos os programas da Navigator e representa uma porta de entrada única para o todo o nosso universo; um clube com foco no rendimento de todos os seus membros e na melhoria das suas atividades; um clube que dará acesso a uma caixa de ferramentas e a um conjunto de programas dedicados para apoiar a vossa atividade e o vosso negócio; um clube suportado em tecnologia e que pretende estimular a transformação digital das cadeias de valor da Floresta; um clube que distingue e valoriza quem sempre fez o caminho connosco” – foi desta forma que, perante uma audiência de mais de 200 agentes do setor, António Redondo, CEO da The Navigator Company, anunciou aquela que representa uma das iniciativas mais inovadoras dirigidas aos produtores de floresta em Portugal.
O Clube de Produtores Florestais, que começará a ser implementado ao longo dos próximos meses, dará acesso a programas de coinvestimento entre os produtores e a Navigator, assim como irá facultar fontes de conhecimento, no que diz respeito a todas as práticas florestais. Está também pensado para potenciar custos de produção sustentáveis para todos os intervenientes, apoiar na modernização dos equipamentos e na qualificação dos recursos humanos, disponibilizando benefícios exclusivos. “Na Navigator, continuaremos motivados e determinados a defender o mundo rural e os seus agentes na área florestal”, afirmou António Redondo, para sublinhar: “Acreditamos existir espaço para fortalecer este setor e o valor que podemos criar e partilhar, mas é crucial atuarmos em escala e de forma colaborativa, trabalhando na capacitação e desenvolvimento dos vários agentes, seja através da modernização dos meios mecânicos, seja através da atração, valorização e retenção de recursos humanos. É nesse sentido que queremos reforçar a proximidade junto dos nossos parceiros e fazer crescer esta relação”.
Encontro debateu incentivos e produtividade florestal
Ao longo do encontro, o terceiro desde que, em 2020, a Navigator lançou a comunidade Produtores Florestais, a valorização da floresta foi um tema recorrente, em ligação estreita com o tema do evento: “Incentivos e produtividade florestal”. A ação, que decorreu em Vendas Novas, contou com a presença de cerca de 200 agentes do setor, tendo também sido acompanhado externamente, via streaming.
“Os incentivos financeiros e técnicos são essenciais para aumentar a produtividade florestal”, lembrou João Lé, administrador executivo da The Navigator Company na abertura do encontro.
“O Clube de Produtores Florestais da The Navigator Company “dará acesso a uma caixa de ferramentas e a um conjunto de programas dedicados a apoiar a vossa atividade e o vosso negócio”, anunciou o CEO da Empresa
Apoiar a floresta, com incentivos financeiros e técnicos, tem sido um dos compromissos da Navigator ao longo dos anos, como ficou patente nas primeiras apresentações da manhã. Francisco Vaz, responsável de angariação da empresa, afirmou que o arrendamento e a compra de terra em Portugal e Espanha (Galiza) é um “propósito core” para a Companhia, que desta forma contribui para “uma melhor gestão florestal, por contrapartida de um rendimento a dar ao proprietário, entre outros benefícios de elevado valor acrescentado”. Francisco Vaz destacou o programa Winwood, cujo enfoque é a reconversão dos eucaliptos e a rearborização. Este projeto envolve também incentivos financeiros, sendo que a madeira retirada destas parcelas, em todos os cortes, tem como destino final a Navigator.
O programa Premium é mais um exemplo do trabalho desenvolvido no apoio aos produtores florestais e, consequentemente, à floresta nacional. Susana Morais, do Programa de Fomento da Produtividade e Certificação da Navigator, relembrou que este projeto partiu dos próprios produtores florestais, que procuraram respostas para as dúvidas que surgiam na sua atividade. “É um programa estrutural, que dá apoio técnico aos produtores de forma individual, personalizada e gratuita”. A mesma responsável salientou que o programa Premium é “para todos, desde o pequeno ao grande proprietário”.
O Encontro Produtores Florestais foi também uma oportunidade para conhecer a Agenda Mobilizadora Transform, que junta 58 entidades, entre elas a Navigator. José Luís Carvalho, responsável de Inovação e Desenvolvimento Florestal da Navigator, destacou que “colaboração é a palavra-chave” deste programa que “vai impulsionar transformações na competitividade, trazendo soluções ao setor florestal”, desenvolvendo iniciativas na área da gestão, valorização do território, economia circular, novas tecnologias, reforço de mercados e consumidores e capacitação. O Transform é composto por 28 projetos colaborativos, dos quais a Navigator participa em 18.
“É importante aumentar a capacidade de armazenamento de água no solo, aumentando o índice de biomassa do mesmo e reduzindo as perdas”.
Conhecidos os projetos de incentivo e apoio florestal da Navigator, foi tempo de perceber como é possível tornar o solo mais saudável, recorrendo a práticas mais sustentáveis. O consultor e professor aposentado da Universidade de Évora, Mário Carvalho, disse ser importante “a capacidade de armazenamento de água no solo, aumentando o índice de biomassa do mesmo e reduzindo as perdas”. Partindo do exemplo do montado, o especialista afirmou que a utilização de biofertilizantes é o caminho para a sustentabilidade, aliada a outras medidas como a eliminação das mobilizações tradicionais (gradagens). A incorporação de lamas e cinzas tem obtido bons resultados no que respeita ao aumento de matéria orgânica no solo e, por isso, o futuro pode passar por esta reutilização de subprodutos do processo industrial da indústria papeleira, ainda que, por enquanto, apresente desafios ao nível do custo de transporte, da aplicação e da legislação.
João Caço, diretor executivo da Hubel Verde, referiu a adubação orgânica como aposta de futuro para solos mais saudáveis. Com a aplicação de produtos mais sustentáveis como foco, o especialista anunciou dois bioestimulantes desenvolvidos na empresa – um que permite captar e fixar azoto e o outro que aumenta os parâmetros de vigor da planta.
A tecnologia com Inteligência Artificial está cada vez mais presente no nosso quotidiano e também na floresta é uma realidade. Mário Caetano, subdiretor-geral da Direção-Geral do Território, apresentou os vários processos de monitorização remota a decorrer em Portugal, que contribuem para maior conhecimento e gestão da floresta.
O responsável centrou a sua apresentação no recente SMOS (Sistema de Monitorização de Ocupação do Solo), lançado em setembro do ano passado, que constitui uma mudança de paradigma na produção de cartografia, utilizando os mais recentes desenvolvimentos das tecnologias do espaço e Inteligência Artificial para criar produtos com mais detalhe, qualidade e rapidez. No caso das florestas, por exemplo, o SMOS permite identificar as áreas cortadas, incluindo a data em que o corte foi realizado. Os dados recolhidos são públicos e estão acessíveis online.
Tornar a produção florestal num negócio maior e mais sustentável
A conclusão dos intervenientes da mesa-redonda intitulada “Que caminhos para a concretização da estratégia florestal nacional?”, aponta para a necessidade de valorizar a produção florestal e observar a sua rentabilidade. Marta Souto Barreiros, diretora-geral da APFC – Associação de Produtores Florestais de Coruche, afirmou serem precisas “novas formas de rentabilizar a floresta”, referindo que, relativamente à remuneração do mercado de carbono, há que “olhar para a floresta que já existe, certificada e com boas práticas” e não apenas para os novos projetos.
Pedro Santos, diretor-geral da Consulai, disse “não reconhecer nenhuma estratégia para a floresta”, sendo urgente tornar o setor mais atrativo. “O caminho tem de ser o negócio, encontrando mecanismos que permitam ganhar escala”, defendeu. O mesmo responsável comentou o entrave da “desvalorização social da floresta”, referindo que “estamos a trazer nova ciência para o setor, e isso é um enquadramento muito interessante, mas que não passa para fora”.
A expressão “tornar a produção florestal num negócio” foi repetida pelos vários interlocutores da mesa-redonda, de que foi exemplo Carlos Elavai. O partner na Boston Consulting Group defendeu que “temos de conseguir transformar a produção florestal num negócio maior e mais sustentável”, o que implica “sermos mais ágeis em colocar a terra nas mãos de quem a possa gerir”.
Miguel Freitas, professor na Universidade do Algarve, considerou que as Zonas de Intervenção Florestal (ZIP) devem ser utilizadas para fazer uma melhor gestão da floresta, porque “gerir é a chave para resolver muitos dos problemas”. O ex-secretário de Estado das Florestas alertou ainda para a questão sociodemográfica, referindo que “as alterações profundas no nosso modo de vida alteraram a nossa relação com a floresta e com os espaços rurais”. E terminou alertando para o facto de o país não ter “uma política séria sobre a questão da desertificação”.
No encerramento, o CEO da The Navigator Company, António Redondo, destacou o trabalho da empresa em prol do desenvolvimento da floresta, lembrando que esta gere atualmente perto de 106.000 hectares e que “globalmente, só em 2022, o investimento da The Navigator Company na cadeia de valor da produção florestal ascendeu a 210 milhões de euros”. Sublinhou, como exemplo, o Programa Premium, que consiste em apoio técnico “à medida” e gratuito, dirigido aos proprietários, sobre dúvidas ou problemas na sua exploração.
O mesmo responsável afirmou que “Portugal tem tudo para conquistar as oportunidades da bioeconomia de base florestal, mas para que esta seja uma realidade é necessário introduzir melhorias claras na produtividade da nossa floresta”. Nesse sentido, considerou ser urgente empreender ações como “promover a gestão florestal ativa, de forma a atingir os objetivos nacionais da descarbonização, da biodiversidade, da produção de bens e serviços para a bioeconomia”. A gestão ativa “é determinante para a proteção da floresta face aos riscos das alterações climáticas”, sublinhou.
Para o CEO da The Navigator Company é ainda importante “promover a recuperação da floresta com reflorestação equilibrada, para produção de fibra renovável e de conservação para a biodiversidade”, bem como “apoiar as empresas prestadoras de serviços florestais no reequipamento, na transformação digital e na formação de operadores e técnicos florestais”. O mesmo responsável defendeu ainda o apoio de “iniciativas da sociedade civil que configurem gestão conjunta de proprietários privados, em especial de pequena dimensão, que conduzam a intervenções de silvicultura coordenadas e em escala”.
António Redondo considerou também fundamental “reformular os mecanismos de aprovação de projetos, agilizando os projetos de rearborização, com mecanismos mais céleres e digitais de relacionamento com os proponentes, com prazo adequadamente curto”.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.