Um grupo formado por oito instituições académicas está a investigar a utilização da micro e da nanotecnologia em produtos de proteção de plantas para reduzir o uso de agroquímicos convencionais. O estudo avalia as potencialidades desses sistemas no controle de pragas em agricultura a partir da avaliação da atividade biológica dos alvos, dos destinos e ainda o potencial de toxicidade para o meio ambiente e seres humanos.
Na pesquisa são utilizadas diferentes técnicas para ‘encapsular’ agentes de controlo, tais como agroquímicos sintéticos e inseticidas ou repelentes de origem natural ou botânica. Também está a ser estudado o uso de fungos e bactérias como agentes biológicos de controlo – todos ‘embalados’ em micropartículas.
O grupo, que inclui sete instituições brasileiras e uma mexicana, é coordenado pelo professor Leonardo Fraceto, do Instituto de Ciência e Tecnologia de Sorocaba, da Universidade Estadual Paulista (ICTS-Unesp). O projeto, batizado de “Agricultura, micro/nanotecnologia e ambiente: da avaliação dos mecanismos de ação a estudos de transporte e toxicidade”, recebe financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
De acordo com Fraceto, o projeto tem uma grande importância pois “congrega pesquisadores altamente qualificados em diferentes temas de atuação que contribuirão em muito para o desenvolvimento de alternativas mais seguras, já que a equipa propõe alternativas mais sustentáveis para o controle de pragas”. Isso é possível, explica ele, porque o uso de sistemas micro/nanoestruturados aumenta a eficácia biológica de agentes de controlo ao mesmo tempo que minimiza os impactos ambientais ocasionados pelo uso de agrotóxicos.
“A agricultura moderna não pode continuar a basear-se no uso intensivo de fatores de produção que afetam o ambiente. Dessa maneira, investigadores, agricultores e consumidores devem evoluir em prol de uma produção ecológica e economicamente satisfatória. Novas tecnologias devem ser adotadas com o intuito de otimizar a produtividade e paralelamente manter uma base ecológica sustentável. Neste sentido, existe uma busca por práticas mais sustentáveis para atender as premissas do manejo integrado de pragas e doenças na agricultura”, justifica o pesquisador.
Estão a ser estudados diferentes organismos e tipos de sistemas de micro e nanopartículas, entre eles os poliméricos, os lipídicos e os metálicos. Também são analisados diferentes agentes de controlo, tais como compostos sintéticos, naturais e microrganismos.
10 vezes mais eficiente
Um caso de sucesso já comprovado pelo grupo é o sistema de nanopartículas poliméricas transportadoras de atrazina, um herbicida utilizado em milho. Essas formulações alternativas mostraram-se mais eficientes no controle de plantas daninhas do que a convencional, sendo possível reduzir em 10 vezes a dosagem do herbicida sem afetar sua atividade biológica, o que resultou em menor contaminação ambiental.
As formulações com nanopartículas não deixaram resíduos no milho e ainda reduziram a toxicidade da atrazina em células humanas. Esses ensaios foram realizados em ambientes controlados, as chamadas “casas de vegetação”. Por isso agora o próximo passo é a avaliação da eficiência desse produto em condições de campo.
O mercado do controlo biológico cresce em média 15% ao ano em todo o mundo. O desafio, ressalta Leonardo Fraceto, é diminuir a suscetibilidade desses organismos a fatores abióticos quando comparados aos inseticidas convencionais: “A micro (estruturas com tamanho entre 1 e 1000 nm) e mais recentemente a nanotecnologia (estruturas com pelo menos uma dimensão entre 1 e 1.000 nm – 1 nanômetro equivale a 1 bilionésimo do metro) tem apresentado grande potencial para o desenvolvimento de novas formulações com compostos ativos de interesse agrícola”.
Participam do projeto, além da Unesp Sorocaba, a Unesp Jaboticabal, Unicamp, Unesp Ilha Solteira, Uniso, Embrapa Meio Ambiente, Unam (México), UFLA, UEL e Unipampa.