O movimento proTEJO entregou hoje um memorando ao Governo onde apresenta alternativas à construção de mais açudes e barragens no rio Tejo, defendida no Projeto Tejo, para tentar combater os impactos ecológicos negativos criado por “uma espécie de ‘greenwashing’”.
Em declarações hoje à agência Lusa, o porta-voz do movimento ambientalista com sede em Vila Nova da Barquinha, Paulo Constantino, explicou que o documento apresentado ao Ministério da Agricultura serve para desmistificar o que o “Projeto Tejo diz defender”.
Paulo Constantino falava hoje em Lisboa junto ao Ministério da Agricultura, no Terreiro do Paço, depois de ter entregado um memorando no qual, além de apresentar alternativas, aponta vários aspetos negativos, nomeadamente, a nível ecológico e económico.
“Este memorando vem na continuação do surgimento de um Projeto Tejo que quer construir quatro novos açudes no rio Tejo e duas novas barragens desde Abrantes até Lisboa, criando barreiras nos últimos 120 quilómetros de rio Tejo livre”, salientou.
De acordo com Paulo Constantino, o Projeto Tejo cria “impactos ecológicos negativos” ao referir que “vai combater as alterações climáticas com os açudes e com as barragens”, o que, segundo o porta-voz, é “uma espécie de ‘greenwashing’”, em que pretende criar uma falsa sensação de sustentabilidade.
“É possível [encontrar] alternativas que não criem barreiras no rio, que não vão contra a estratégia da biodiversidade, que têm como um dos objetivos libertar 25 mil quilómetros de rios que tenham barreiras”, disse.
Segundo Paulo Constantino, existem várias alternativas às barragens e aos açudes, “quer em termos de procura da água […], culturas que exijam menos água, quer ao nível da oferta da água, com caudais ecológicos negociados com Espanha, nos planos de gestão hidrográfica e também captação de água direta do rio”.
“O Ministério da Agricultura lançou um estudo para a irrigação do Vale do Tejo, aproveitando o potencial hídrico, e esse projeto foi propalado pelo Projeto Tejo para o fundamentar. […] Pretende ser um estudo de aproveitamento do potencial hídrico do Vale do Tejo para o regadio e também irá fazer uma avaliação ambiental estratégica, que nós também defendemos no nosso memorando”, adiantou o porta-voz do movimento proTEJO.
Paulo Constantino recordou que o estudo já se encontra em desenvolvimento e que deverá ficar concluído em 2022.
À Lusa, o presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), João Dias Coelho, que acompanhou hoje o movimento proTEJO, disse que o importante é “mudar o paradigma” depois da pandemia da covid-19.
“É altura destas plataformas, onde nos integramos com cidadãos e outras organizações, de ponderar e levar a quem decide a consciência e a necessidade da perceção dos ecossistemas naturais e da biodiversidade”, afirmou João Dias Coelho.
Alertando para a importância da sustentabilidade ambiental, o presidente da GEOTA indicou que Portugal tem de “rever” o que pretende para o seu desenvolvimento.
“Estamos aqui defender uma solução em que o caminho seja bastante diferente, seja menos mediático e mais transparente e sustentável, mais ligado à terra e à necessidade de valorizar a terra e o património natural, a paisagem, os valores naturais do país e dar-lhe um valor económico”, acrescentou.
João Dias Coelho aproveitou ainda para criticar a atuação do Governo nas políticas ambientais, lembrando que os fundos comunitários “não têm em conta a desertificação, não têm em conta as populações locais e o interesse económico”.
“Há uma riqueza brutal no país e parece que quem governa não vê isso. Vê os campeonatos de futebol, vê as finais da ‘Champions’ [Liga dos Campeões] e vê turismo como vimos no Porto”, sustentou.
De acordo com um dos mentores do Projeto Tejo, Jorge Froes, aquele projeto prevê um investimento 4,5 mil milhões de euros para fornecer água a 300 mil hectares das regiões do Ribatejo, Oeste e Setúbal nos próximos 30 anos.
O objetivo é criar um “espelho de água contínuo através da construção de seis açudes até quatro metros de altura entre Abrantes e Lisboa, com escada passa-peixes, que vão tornar o Tejo navegável, e com estações elevatórias que vão permitir bombar a água para as encostas da Lezíria e também da zona Oeste”, indicou Jorge Froes, para quem esta é “a solução” para resolver o problema da falta de água.
O movimento ambientalista, por sua vez, defende a “realização de uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) pelo Ministério do Ambiente que integre o desenvolvimento de estudos de projetos alternativos com base nas metas da Estratégia para a Biodiversidade 2030 e das Diretivas Quadro da Água, Aves e Habitats”.