Um grupo de moradores alertou hoje para a existência de problemas de poluição no troço do rio Almansor junto a Montemor-o-Novo, no distrito de Évora, devido a “sucessivas descargas ilegais”, alegadamente provocadas por entidades públicas e privadas.
“Todos os anos, este rio sofre sucessivas descargas ilegais, tanto da parte de privados (indústria, pecuária e domicílios), como da Câmara de Montemor-o-Novo e da empresa Águas Públicas do Alentejo (AgdA)”, referiram , num comunicado enviado à agência Lusa.
Contactado pela Lusa, o município, numa resposta por correio eletrónico, reconheceu a existência dos problemas, que “assenta em várias causas”, e sublinhou que a situação “não é de agora” e que é “bastante complexa e de difícil e morosa resolução”.
Os moradores, que estão a constituir uma associação, alegaram que as descargas no rio devem-se a problemas estruturais nas estações elevatórias de águas residuais e no sistema de esgotos da cidade e à falta de infraestruturas na zona industrial.
“Os efluentes domésticos e pluviais correm juntos” e, na Zona Industrial da Adua, “canil municipal e empresas veem os seus esgotos despejados diretamente e sem qualquer tratamento para o rio”, apontaram os moradores como causas das descargas.
Em declarações à Lusa, Guilherme Serôdio, um dos moradores e membro do grupo que está a constituir a associação, considerou que “o estado do rio é lastimável”, afiançando que “os primeiros relatos de poluição no rio Almansor são de há mais de 20 anos”.
“Hoje em dia, continuam a aparecer imensos pontos de poluição, porque continuam as suiniculturas e a Zona Industrial da Adua descarrega diretamente no rio”, já que “nunca foi feita uma estação elevatória”, referiu.
Também ocorrem descargas, adiantou Guilherme Serôdio, por a cidade ter um sistema em que “o esgoto doméstico corre paralelamente ao pluvial”, pois, quando chove muito, “as estações elevatórias não têm capacidade para o caudal”.
“Há dois anos, a estação elevatória n.º 4 avariou, ligou o ‘bypass’ e, durante quase quatro semanas teve a descarregar todos os esgotos diretamente no rio, porque é a última elevatória antes da ETAR [Estação de Tratamento de Águas Residuais]”, assinalou.
Segundo o morador, o rio ficou então com “uma maré negra” e o grupo exigiu uma ação de limpeza à câmara e à AgdA, que acabou por ser feita este mês, após uma indicação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
“Mas, no final do segundo dia de limpeza, acabaram-se os trabalhos e foram-se embora”, lamentou Guilherme Serôdio, advertindo que foi retirada menos quantidade de lamas do rio do que a que estava orçamentada.
O responsável disse ainda que os moradores exigem da câmara municipal “vontade política para colocar o ambiente como prioridade” e pedem maior abertura do município para trabalhar com a população na definição de estratégias para o rio.
Na resposta à Lusa, a autarquia admitiu que “ninguém, minimamente conhecedor da realidade local, poderá estar satisfeito com o estado em que se encontra o ecossistema Almansor” e recusou estar conformada com a situação.
Enunciando os planos previstos para o Almansor, com a descrição das respetivas ações, a Câmara de Montemor-o-Novo garantiu que nas mais recentes obras de requalificação urbana tem promovido a separação da rede residual doméstica da rede pluvial.
Quanto às descargas a partir da zona industrial, o município limitou-se a adiantar que “a solução existe, faltando somente a sua implementação no terreno”, que ainda não se concretizou por constrangimentos, aos quais “são alheios” o município e a Agda.
Sobre a operação de limpeza, sublinhou, a abertura de um açude permitiu baixar o nível da água retida e constatou-se que “o nível de acumulação de sedimentos era menor do que se supunha”, o que, tendo em conta as condições, deu para retirar 130 toneladas.
A recolha e a análise de sedimentos, em agosto de 2022 e setembro de 2023, demonstrou “não existir, em qualquer dos casos, a presença de resíduos perigosos” e que a matéria retirada “é constituída, essencialmente, por areia e matéria orgânica”, vincou.
No comunicado, o grupo de moradores também se queixa de que não está a ser respeitado o caudal mínimo para o rio a partir da barragem dos Minutos, tendo a autarquia indicado que “estão a ser considerados os passos a dar” para ultrapassar o problema que tem impedido a monitorização do caudal.