As autoridades moçambicanas admitiram hoje dificuldades para mobilizar os 78,3 milhões de meticais (um milhão de euros) necessários para mitigar, em Cabo Delgado, os estragos na atual época chuvosa, uma das províncias habitualmente mais afetadas.
“É uma previsão. Nós não temos, mas sim, estamos a mobilizar recursos para responder a este cenário”, disse o delegado do Instituto de Gestão e Redução do Risco de Desastres em Cabo Delgado, Marques Tamadune Naba, falando aos jornalistas, em Pemba, no final de apresentação do plano de contingência da época chuvosa.
Durante a realização do Comité Operativo de Emergência, que juntou membros do governo provincial e parceiros, o responsável admitiu que a instituição não tem disponível o valor necessário, estando neste momento a mobilizar apoios de diversos intervenientes, sendo aquele valor necessário para apoiar mais de 200 mil pessoas das zonas rurais e urbanas ameaçadas pela época das chuvas em toda a província de Cabo Delgado, no cenário em cima da mesa pela proteção civil.
“Cerca de 200 mil pessoas estão em risco, estamos a falar de ventos fortes, chuvas e também inundações nas vilas e algumas zonas que nós mapeámos e achamos que são zonas de risco”, disse Marques Tamadune Naba.
As autoridades moçambicanas alertaram em 12 de setembro para cheias de “grande magnitude” no país e inundações em pelo menos quatro milhões de hectares agrícolas durante a época chuvosa, que se iniciou em outubro.
“Nesse segundo período [da época chuvosa], que é janeiro, fevereiro e março, nós achamos que vamos ter chuvas, vamos ter cheias de grande magnitude, classificamos de um regime alto, sobretudo na bacia do Incomáti, Maputo e Limpopo”, disse Agostinho Vilankulos, diretor nacional de Gestão de Recursos Hídricos, à margem do Fórum Nacional de Antevisão Climática para a época chuvosa 2025/2026, em Maputo.
Segundo o responsável, as barragens de países vizinhos de Moçambique, entre os quais África do Sul e Essuatíni, estão a 99% do nível de armazenamento e, por isso, com pouca capacidade de encaixe, situação que obrigará ao escoamento e consequentes inundações no país.
“Se as barragens estão cheias, então, não tem capacidade de encaixar, então, qualquer chuva que caia nos países vizinhos, transforma-se em escoamento e vem para o nosso país”, alertou Vilankulos, apontando os municípios da Matola, Maputo, Beira e Quelimane como de “elevado risco de ocorrência de inundações”.
Avançou que se prevê que o setor agrícola seja também afetado pelas chuvas, com pelo menos quatro milhões de hectares em risco.
No mesmo evento, Isaías Raiva, climatologista do Instituto Nacional de Meteorologia, referiu que se vão registar chuvas em todo o país entre os meses de janeiro e março, com grande impacto na zona sul de Moçambique, além de “alguns períodos secos”.
Já Américo José, do Instituto Nacional de Saúde moçambicano, prevê uma maior incidência de malária e diarreias nas províncias de Nampula, no norte, Zambézia e Tete, no centro do país, durante a época das chuvas, considerando que as mudanças climáticas representam uma “ameaça direta e indireta para o setor da saúde”.
Hiten Jantilal, diretor nacional da Agricultura, por sua vez, anunciou medidas preventivas face à aproximação das chuvas, entre as quais recomendações aos agricultores sobre “quando devem iniciar as sementeiras e como minimizar riscos de pragas e doenças”