A água disponível nas bacias hidrográficas do Sado, Mira e Guadiana já não é suficiente para garantir a recarga das albufeiras e aquíferos. Pressente-se mais um ano seco no sul do país.
Nos campos do Alentejo vive-se um paradoxo desde que Alqueva se tornou uma realidade. Sobressai uma agricultura de regadio tecnologicamente avançada com água garantida a tempo e horas, junto a explorações pecuárias ou de culturas de sequeiro onde a falta de água se tornou um drama sobretudo quando as secas se tornaram prolongadas no tempo e mais curtas entre si.
Carlos Cerqueira, agricultor na zona do Campo Branco em Castro Verde, desabafou ao PÚBLICO em Fevereiro de 2018, no meio de uma nuvem de pó e da secura extrema que marcava o campo onde semeou aveia, o seu inconformismo: “As áreas de regadio que Alqueva sustenta são uma espécie de condomínio de luxo ao lado de um bairro de lata que as culturas de sequeiro representam.”
Foi assim em 2018 quando se registaram défices significativos da precipitação de inverno. Teme-se que o mesmo cenário venha a repetir-se em 2022. No mês de Dezembro de 2018 registou-se tempo muito seco com a temperatura média e máxima do ar superior ao normal com o 3º valor mais alto desde 1931 e uma quantidade de precipitação que correspondeu a 38% do valor normal.
Três anos volvidos, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) volta publicar no Boletim Climatológico de Dezembro um cenário quase idêntico ao de 2018. O valor médio da temperatura máxima do ar foi muito superior ao normal, o 2º mais alto desde 1931 (o mais alto foi registado em 2015). O mês foi caracterizado por valores diários de temperatura máxima e mínima do ar quase sempre superiores ao valor médio mensal, em particular a temperatura máxima. E o valor médio da quantidade de precipitação correspondeu a 65 % do valor normal.
Nos anos de 2019 e 2020, as condições meteorológicas foram um pouco mitigadas nos níveis de precipitação, mas o tempo seco e quente voltou a acentuar-se, a comprovar uma realidade que “infelizmente veio para ficar”, referiu ao PÚBLICO, o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa, Filipe Duarte Santos, dando conta que os fenómenos associados à seca “afectam toda a região mediterrânica onde se tem registado um decréscimo da precipitação anual.”
Um estudo publicado pela Agência Portuguesa do Ambiente é muito concreto: as disponibilidades hídricas em Portugal sofreram uma redução de 20%. A precipitação diminui de norte para sul e do litoral para o interior.
Referindo-se aos caudais dos principais rios portugueses, Duarte Santos enumera: o rio Minho regista uma quebra de 16%; o Douro 18%: Tejo 25% e Guadiana 21%. A água disponível nas bacias hidrográficas do Sado, Mira e Guadiana […]
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