A Liga dos Bombeiros Portugueses acusou hoje a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) de querer impor aos bombeiros um modelo de coordenação e combate aos incêndios florestais que é “retrógrado e desfasado do ordenamento territorial”.
“Há resistências, naturalmente que há resistências. Qualquer mudança tem sempre um fator de resistência e quando os bombeiros se sentem injustiçados como se sentem atualmente em que são o único agente de proteção civil que não tem um comando próprio dos seus homens é por de mais evidente que quando querem introduzir qualquer tipo de mudança ou colocar um engenheiro florestal a comandar bombeiros num fogo florestal, que os bombeiros dizem não pode ser assim”, disse o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), numa audiência no parlamento.
Aos deputados, António Nunes disse que a LBP tem “uma grande diferença” com o presidente da AGIF, Tiago Oliveira.
“O presidente da AGIF quer que os incêndios florestais sejam comandados por engenheiros florestais com autonomia total sob os bombeiros e quer que os bombeiros façam as tarefas que eles entendem que devem fazer e, por isso, quer dividir os bombeiros em bombeiros florestais e urbanos. Veja-se o resultado daquilo que se passou no Chile e no Canadá”, frisou, precisando que “este modelo não existe”.
O responsável referiu que os bombeiros aceitam que um engenheiro florestal seja o técnico que deve acompanhar os bombeiros no sentido do aconselhamento técnico das missões que devem ser feitas para a supressão dos incêndios, mas não comandá-los.
António Nunes explicou que a AGIF quer ”impor ao país um sistema de coordenação e de combate aos incêndios florestais que considere a divisão dos bombeiros em dois grupos distintos: os bombeiros sapadores florestais para combate nos espaços florestais e rurais e os bombeiros urbanos para defesa das infraestruturas e bens em aglomerados populacionais.
“Tremendo erro, caso os políticos portugueses aceitem um modelo retrógrado, desfasado do nosso ordenamento territorial e que não conseguiu provar nos grandes incêndios florestais no corrente ano no Canadá”, disse.
Segundo o presidente da LBP, em Portugal não existe essa capacidade, uma vez que há pontos no país que cinco minutos depois da eclosão de um incêndio há uma casa pela frente, sendo por isso necessário ter um regime de capacidade de mobilização de meios que permita imediatamente que se faça a supressão.
Nesse sentido, partilhou da decisão do Governo de ter mobilizado este ano para o combate aos fogos 72 meios aéreos, uma medida contrária à do presidente da AGIF, que defendeu menos aeronaves.
António Nunes frisou que os bombeiros manifestam resistência ao sistema que a AGIF quer impor, uma vez que este “modelo não está consciencializado”.
“Não estamos contra a AGIF, não estamos contra o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), não queremos é ter concorrência desleal”, sublinhou ao reconhecer o papel dos sapadores florestais.
O presidente da LBP considerou ainda que “a AGIF está num limbo que não se sabe muito bem se é um organismo técnico ou um organismo de instrumento político em termos de política florestal e de ordenamento”.
Segundo António Nunes, os bombeiros “foram ostracizados da AGIF” e não se sentem representados nesta agência criada após os incêndios de 2017 e está na tutela do primeiro-ministro.
O presidente da LBP disse ainda que a AGIF “não resulta de um decisão puramente política de uma organização”, mas “de um relatório de uma comissão técnica de 12 peritos”. Este relatório foi encomendado pelo Governo a um grupo de peritos após os fogos de 2017 que provocaram mais de 100 mortos.
António Nunes foi hoje à tarde ouvido na Comissão de Agricultura e Pescas da Assembleia da República, numa audiência pedida pela Liga na sequência das declarações do presidente da AGIF na mesma comissão em julho, em que afirmou que os “corpos de bombeiros receberem em função da área ardida”, considerando um “objetivo perverso”.
A LBP apresentou hoje uma queixa-crime contra Tiago Oliveira, por alegadas ofensas aos bombeiros.