A oposição acusou hoje o Governo de falhas na preparação da época de incêndios e questionou se todos os meios aéreos previstos estarão disponíveis, considerando que a realidade tem contrastado com o discurso do executivo.
No debate de atualidade, requerido pelo PSD, sobre incêndios rurais na Assembleia da República, apenas o PS se mostrou otimista, salientando que, apesar de este verão se prever “exigente do ponto de vista climático”, o Estado “reforçou todas as suas dimensões de investimento”.
“Apostámos não só no combate, como na prevenção estrutural. O senhor ministro da Administração Interna lançou o desafio que, para este tema, precisamos de consensos alargados e uma frente unida”, apelou a deputada socialista Susana Amador.
No entanto, não foi esse o tom da intervenção das restantes bancadas, com o PSD, pela deputada Cristiana Ferreira, a questionar o Governo se todos os 72 meios aéreos previstos estarão efetivamente disponíveis na época crítica de incêndios.
“Não seria prudente que houvesse um plano B com maior intervenção dos meios terrestres?”, perguntou, com a bancada social-democrata a pedir também garantias sobre “as plenas condições” de funcionamento da rede de comunicações SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal).
Pelo Chega, o deputado e líder André Ventura considerou que o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais para 2023 “está mal feito, mal enquadrado e não é eficiente”, acusando até o Governo de negligência na sua preparação.
André Ventura apontou que “a idade média dos veículos dos bombeiros é de 36 anos”, e que as dívidas do Governo às associações humanitárias de bombeiros “são gigantescas”, questionando onde estão os meios que o Governo anuncia e criticando que o Estado tenha alugado os helicópteros Kamov à Ucrânia, “um país em guerra”.
“Ainda me lembro de no ano passado quando disse que a área ardida foi inferior ao esperado, como pode dizer que podemos estar descansados?”, questionou, dirigindo-se à secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, que hoje deu a cara pelo Governo no debate.
Patrícia Gilvaz, pela IL, lamentou que ainda antes do início da época crítica de incêndios se tenham registado mais de dois mil fogos e haja 8 mil hectares de área ardida e que todos os aumentos se repitam “os mesmos problemas de ausência de planeamento”.
“Se os meios aéreos até 15 de maio deviam ser 34 e só eram 23, estarão mesmo garantidos 72 para a fase mais crítica? É legítimo pensarmos que não”, avisou.
A líder parlamentar do PCP, Paula Santos, considerou que “a realidade contrasta com o discurso” de mais verbas e mais meios do Governo, que acusou de preparar “tarde e a más horas” o concurso de meios aéreos e de continuar “apostado em contratos com privados que todos os anos têm dado problemas”.
Na mesma linha, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, considerou que desde 2017, quando morreram 116 pessoas em resultado dos incêndios, “nada foi cumprido” de todas as promessas feitas.
“A única coisa que aconteceu foi o proliferar de espécies invasoras como o eucalipto”, disse, numa crítica reiterada pela porta-voz do PAN, Inês Sousa Real.