O movimento Aliança pela Floresta Autóctone (AFA) defendeu hoje um “pacto nacional” de reflorestação em que as grandes áreas de eucaliptal e pinhal sejam substituídas por espécies autóctones, que são mais resistentes ao fogo.
“Precisamos de um modelo de gestão racional dos recursos, que faça convergir a alteração das espécies arbóreas mais problemáticas em relação ao fogo por espécies autóctones, a promoção de áreas destinadas à agricultura de elevado valor alimentar e ambiental e o incentivo da pastorícia como forma de controlo natural da vegetação”, afirmou a AFA num comunicado enviado à agência Lusa.
Fundada em 2017, quando grandes incêndios causaram a morte de mais de 100 pessoas, na região Centro, a organização “vem, novamente, chamar a atenção das autoridades e da sociedade civil para a necessidade e urgência de um pacto nacional” para as zonas florestais.
“A nossa posição (…) é bem explícita sobre o que o Governo parece ainda não ter pensado, ou seja, o papel positivo das autóctones e negativo de certas pirófilas, amigas do fogo, como o eucalipto e o pinheiro-bravo”, salientou.
Para a Aliança pela Floresta Autóctone, “não são os incendiários que explicam a dimensão, a severidade e a gravidade dos incêndios” dos últimos anos.
“A causa profunda desses incêndios não vai a tribunal nem irá para a cadeia, pois reside no caos do coberto arbóreo que se instalou no país ao longo já de muitas décadas. Mas, acima de tudo, há que responsabilizar os que lucram com este caos e os diversos governos que nada de fundamental fizeram para reverter este cenário, ou que continuam a pactuar com políticas de proliferação de vastas áreas de espécies como o eucalipto e o pinheiro-bravo”, criticou.
A AFA lamentou ainda que a gestão dos espaços florestais seja efetuada por “entidades sem vocação para o fazer, como as autarquias, recorrendo frequentemente a práticas de corte raso, sem acompanhamento posterior”, o que origina “a proliferação de espécies exóticas oportunistas que se espalham rapidamente e que são muitíssimo inflamáveis, como é o caso das acácias”.
Em seu entender, é necessário reconstituir “ecossistemas autóctones e biodiversos, num mosaico que interrompa e introduza a descontinuidade da matéria vegetal facilmente inflamável”.
Caso contrário, “a gravidade dos incêndios manter-se-á mesmo que se prendam muitos incendiários”, advertiu.
“É preciso, a curto, médio e longo prazo, incentivar e apoiar decididamente a retirada de manchas arbóreas das espécies pirófilas atrás referenciadas e plantar aí, gradual e progressivamente, segundo um plano cuidadoso e persistente, árvores autóctones, fundamentalmente carvalhos, azinheiras, sobreiros e espécies associadas”, preconizou o movimento.
Por outro lado, importa “criar ou recriar economias em conexão com estas florestas de ‘quercus’, que podem ser complementadas com outras espécies”, como a nogueira e o castanheiro.
As áreas de eucalipto e pinheiro-bravo “devem diminuir de dimensão e ficar sujeitas a regras exigentes de ordenamento da paisagem e a taxas ambientais adequadas, dando lugar a vastas áreas envolventes de descontinuidade de matéria vegetal inflamável”, acentuou.
Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais de grande dimensão desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro.
Os fogos provocaram quatro mortos, incluindo um bombeiro, e vários feridos, alguns com gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.
Segundo dados oficiais provisórios, até 23 de agosto arderam cerca de 250 mil hectares no país, mais de 57 mil dos quais só no incêndio iniciado em Arganil, no interior do distrito de Coimbra.