O concelho de Leiria tem 14 unidades locais de proteção civil, com quase 300 pessoas com formação nesta área, voluntários capacitados para ações de prevenção ou resposta a acidentes graves e catástrofes, incluindo incêndios, divulgou hoje a câmara.
À agência Lusa, o vereador Luís Lopes afirmou que se notou, nos territórios mais afetados pelos incêndios em 2022, que “as pessoas mobilizaram-se e quiseram ter uma posição diferente sobre aquilo que pode ser feito, principalmente em prevenção e preparação do território”.
Segundo Luís Lopes, o objetivo do município é ter estas unidades nas 18 freguesias, realçando o papel destes voluntários em matérias como a identificação dos proprietários dos terrenos, e a sensibilização para intervenções e gestão de combustível.
“Tem sido, sem dúvida, um passo muito importante para que consigamos tornar estes territórios mais resilientes”, garantiu, salientando “a capacidade de mobilizar e de juntar a população, e produzir algo de benéfico” na recuperação destes territórios como um “fator positivo no meio de todo este cenário”.
Os incêndios de julho de 2022, que começaram há precisamente dois anos na Caranguejeira, atingiram também as uniões de freguesias de Colmeias e Memória, e Souto da Carpalhosa e Ortigosa, além de Milagres e Boa Vista. Foram considerados extintos dois dias depois.
Arderam quase 3.400 hectares e os prejuízos foram estimados em 8,7 milhões de euros.
De acordo com informação enviada à Lusa, o investimento em ações de estabilização de emergência decorrentes destes fogos é na ordem dos 830 mi euros, parte financiado pelo Fundo Ambiental.
Entre os trabalhos feitos, em curso ou em fase de concretização está a recuperação da rede secundária de faixas de gestão de combustível, de pontos de água e da rede viária, e a aquisição ou corte e processamento de resíduos orgânicos/florestais.
A regularização do regime hidrológico das linhas de água, obras de correção torrencial de pequena dimensão, instalação de comedouros para a fauna selvagem ou controlo de espécies invasoras lenhosas são, entre outros, trabalhos desenvolvidos pelo município, sendo que a ideia chave é “promover a arborização ordenada com espécies autóctones e diversificadas”.
Luís Lopes adiantou que também foram promovidas “reuniões para que fossem feitas ações de reflorestação com os proprietários florestais, quer com projetos de sequestro de carbono, quer com o apoio através da cedência de espécies florestais para ser efetuada a replantação”, assim como o estímulo ao registo de terrenos no Balcão Único do Prédio.
Embora as intervenções permitam “recuperar praticamente toda esta área [pública]” devastada pelos fogos, Luís Lopes ressalvou que grande parte, ou a quase totalidade, do espaço florestal é privado, desconhecendo se os proprietários vão reinvestir ou se vai ocorrer uma regeneração natural, “como está a acontecer em praticamente a totalidade” da área afetada.
“Nós não vamos proceder à reflorestação destes quase 3.400 [hectares ardidos]”, declarou, reconhecendo que este prejuízo “não está a ser recuperado ou, pelo menos, não está a ser recuperado de forma organizada”, para se ter uma floresta ordenada, de produção ou não.
Para o vereador da Proteção Civil, “esse tem sido o maior desafio ano após ano” quando se aborda a recuperação de áreas ardidas em Portugal.
“Apesar de se ter tentado através das zonas de intervenção florestal e agora das áreas integradas de gestão da paisagem, a verdade é que nós continuamos a ter muita dificuldade em que os proprietários se agrupem ou criem associações ou até permitam que haja uma entidade terceira a fazer a gestão das suas próprias parcelas e isso coloca em causa estas ações de reflorestação que, no nosso caso, acabam por ser pontuais porque não temos escala”, acrescentou o autarca.
Para Luís Lopes, o foco deve ser como “conseguir gerir o território, mesmo ele sendo privado, com medidas concretas e objetivas”.