O incêndio que deflagrou na sexta-feira em Freixo de Espada à Cinta deixou um rasto de destruição ambiental na área protegida do Douro Internacional e avultados prejuízos em várias culturas agrícolas como olival, amendoal e floresta.
Localidades como Lagoaça, Fornos, Mazouco, Poiares e Freixo de Espada à Cinta, no concelho como mesmo nome, a que se juntam Carviçais e Mós, no concelho de Torre de Moncorvo, e Estevais, Meirinhos e Quintas das Quebras, já no concelho de Mogadouro, viram os seus territórios pintados de negro por um incêndio que galgou terreno a alta velocidade, empurrado pelos fortes ventos que se fizeram sentir, o que dificultou o controlo das chamas por parte dos bombeiros.
Abílio Cordeiro, da aldeia de Lagoaça, apontou a paisagem desoladora vista do miradouro do Carrascalinho, um verdadeiro santuários para a avifauna rupícola na área protegida do Douro Internacional, em Freixo de Espada à Cinta, e disse à Lusa que há muitos prejuízos em olival, amendoal, vinha e laranjal.
“O fogo deixou muitos prejuízos, mas muitos mesmo. Foi no amendoal, no olival, na vinha, no laranjal e na floresta. Isto é uma miséria”, indicou enquanto olhava para a paisagem desoladora que via à frente dos olhos.
Já Fernanda Alves acrescentou que “tudo isto é uma tristeza”.
“A gente vê o campo todo negro. Aqui a este miradouro do Carrascalinh, vem aqui muita gente para ver a paisagem e agora veem a escuridão ”, vincou
Saindo do Carrascalinho, em direção a Mazouco, os cenários eram idênticos e desoladores, com o coração da área protegida do Douro Internacional atingido de morte pela devastação do seu ecossistema, num parque que é o segundo maior em Portugal.
Arménio Vilaça disse que as chamas na aldeia de Mazouco chegaram a ter mais de 50 metros de altura, levando tudo à frente, mas por sorte o vento soprava para o lado contrário desta povoação do Parque Natural do Douro Internacional.
“De um lado e de outro, o fogo galgou e só parou no rio Douro, destruindo muitas culturas como a vinha e laranjal. A floresta foi toda. O vento era muito forte”, disse.
Quem circular na Estrada Nacional (EN221) e Estrada Nacional (EN220) entre os concelhos de Freixo de espada à Cinta, Torre de Moncorvo e Mogadouro, no distrito de Bragança, depressa se apercebe do rasto de destruição com postes de comunicações e eletricidade calcinados e cabos derretidos, o que obrigou a intervenção dos técnicos para repor a normalidade possível.
Este incêndio chegou a ter três grandes frentes ativas, o que assustou e pôs em sobressalto várias populações destes três concelhos do Douro Superior, onde é visível um rasto de destruição e terra queimada que ultrapassa os 10 mil hectares
Na aldeia de Mós, em Torre e Moncorvo, a população que se juntava num largo desta localidade foi dizendo à Lusa que o ano foi de muita chuva e fez crescer a vegetação que não deu tempo para limpar e que foi essa mesma vegetação que alimentou este incêndio rural.
Já em Carviçais, no concelho de Torre de Moncorvo, a conversa era levada para a questão da coordenação de meios de combate ao fogo com um grupo de homens que debatia o tema à sombra de uma das árvores junto à antiga linha de caminho-de-ferro.
“Estão ali viaturas da zona do Porto, e estão paradas. Lá mais abaixo está a arder, não se percebe muito bem porquê. Lá vão andando as máquinas de rasto que têm sido uma grande ajuda nas proximidades da aldeia”, opinaram.
No teatro de operações chegaram a estar perto de 400 bombeiros apoiados por mais de 140 veículos e oito máquinas de rasto.
No terreno, os bombeiros depararam-se com outro problema, o fumo e as poeiras que se levantaram praticamente durante os três dias que durou o incêndio e que não deixaram operar os meios aéreos o que requereu uma mudanças de estratégia dos operacionais no terreno, com colocação meios de terrestres de combate e uma aposta nas máquinas de rasto.
De acordo com a página oficial na Internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), às 16:30 ainda se mantinham no terreno 208 operacionais, apoiados por 68 veículos.
Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro, num contexto de temperaturas elevadas que motivou a declaração do estado de alerta desde 02 de agosto.
Os fogos provocaram dois mortos, incluindo um bombeiro, e vários feridos, na maioria sem gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.
Segundo dados oficiais provisórios, até 17 de agosto arderam 172 mil hectares no país, mais do que a área ardida em todo o ano de 2024.