Os horticultores da Póvoa de Varzim, no distrito do Porto, alertam que a seca que faz sentir na região Norte já está a ter impactos na sua atividade, mas que pode ganhar contornos “ainda mais preocupantes”
“Estamos numa região de minifúndio, com parcelas pequenas e muito juntas, todas elas com o seu próprio poço. Se os lençóis freáticos continuarem a não ser renovados será ainda mais preocupante chegar ao verão e sem ter água”, partilhou à Lusa Manuel Silva, presidente da Horpozim.
O dirigente desta associação empresarial hortícola, com mais cerca de 850 associados no Litoral Norte, que fornecem uma considerável parte de produtos como alfaces, tomates, cebolas ou cenouras, consumidos no país, aponta já um aumento nos custos de produção derivados da seca.
“Sendo um ano com menos chuva, temos de regar as culturas mais vezes com a água dos poços. Mas, para a retirar, temos de usar os motores, tanto elétricos como a combustível. Ora, com o preço da energia a subir consideravelmente, os custos da produção são cada vez maiores. A médio prazo será impraticável”, disse Manuel Silva
Além desse custo extra na produção, os horticultores do Litoral Norte também estão também sentir menos encomendas para exportação, sobretudo de países do norte e centro da Europa, que, estando a sentir temperaturas mais amenas nas suas geografias, conseguem produzir os seus próprios produtos hortícolas.
“No inverno costumamos ter mais uma janela de oportunidade de exportação para o norte e centro da Europa, mas este ano, como não há tanto frio e gelo nos campos dessas regiões, não tem havido tantas encomendas e as que há são com preços mais baixos, porque há mais oferta. Tem sido mais difícil escoar produtos e com mais-valias”, partilhou o líder da Horpozim.
Manuel Silva reiterou a “preocupação” que a falta de chuva se prolongue até ao verão, instando os governantes a pensarem em novas soluções para o regadio, lembrando que grande parte das produções hortícolas da região estão entre o rio Ave e o rio Cávado.
“Se nada for feito, não só a qualidade dos produtos pode ser afetada, como também os preços de produção continuarão a aumentar. Num setor onde tem havido pouca renovação etária e cada vez mais desinvestimento, sendo difícil captar jovens, isso pode criar problemas sério às empresas e à autonomia agrícola do país”, concluiu o líder da Horpozim.