O Grupo Lobo manifestou hoje preocupação com um retrocesso na conservação dos lobos na Europa, após a Comissão Europeia ter defendido a necessidade de revisão do estatuto de proteção destes animais, alegando “um perigo real” do regresso de alcateias.
Para o Grupo Lobo, trata-se de desinformação, que demonstra “falta de conhecimento” e pode contribuir para gerar alarme social, desviando o foco da necessidade de se promover uma coexistência pacífica com a espécie.
Pode até “colocar em causa a sua recuperação”, afirmou o grupo, em comunicado.
No começo de setembro, a presidente do executivo comunitário, Úrsula von der Leyen, disse que “a concentração de alcateias de lobos em algumas regiões europeias tornou-se um perigo real para o gado e, potencialmente, também para os seres humanos”.
O Grupo Lobo considerou estas afirmações “inquietantes”, na medida em que “não se baseiam em dados científicos e tendem a exacerbar o antagonismo para com o lobo”.
“Na realidade, fazem-nos regredir como comunidade para um tempo em que vivíamos com medo das trevas e dos animais silvestres. Ao longo dos séculos, a carga histórica e mítica associada ao lobo, fez com que este animal fosse temido por muitos e conduziu, consequentemente, à sua perseguição. Hoje sabemos mais sobre esta espécie e que os relatos de ataques a seres humanos são raros, sendo atribuídos a animais doentes (com raiva) ou que se encontravam encurralados”, sustentou a organização, reconhecendo que os ataques a animais domésticos são uma realidade, em particular onde há menos presas silvestres, em consequência da “caça excessiva”.
O grupo defende que a melhoria da proteção, com a utilização de cães apropriados, o uso de vedações à prova de lobo e um maneio adequado do gado, resultam na diminuição dos danos causados não só pelo lobo, mas também por outros predadores, como as raposas e os cães vadios.
Em Portugal, o lobo está protegido por legislação específica desde 1988 (Lei n.º 90/88, de 13 de agosto), regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 54/2016 de 25 de agosto, e encontra-se circunscrito às zonas mais montanhosas do norte e centro do país, “ocupando apenas cerca de 20% da sua área de distribuição original, sem sinais de expansão nos últimos 30 anos”, lê-se no documento.
Segundo a mesma fonte, estima-se que existam apenas 300 lobos em território nacional. A espécie, diz o grupo, continua ameaçada pela “fragmentação do habitat e a perseguição direta pelo Homem”.
“O lobo tem um papel fundamental na manutenção e regulação das suas populações presa, muitas vezes consideradas como pragas na agricultura e na silvicultura, e vetores importantes na transmissão de doenças ao gado. Vários estudos revelam também que os predadores de topo, como os lobos, exercem uma forte influência na distribuição, abundância e comportamento de outros predadores. Por outro lado, o abate de lobos pode provocar a destabilização das alcateias, podendo até aumentar os danos ao gado, uma vez que alcateias desagregadas tendem a preferir presas mais vulneráveis”, sustentou o grupo.
Von der Leyen apelou “às autoridades locais e nacionais para que tomem medidas sempre que necessário”, em linha com a legislação europeia, que prevê, por exemplo, a construção de vedações.
Bruxelas lançou também um convite às autoridades locais e a todas as partes interessadas para que enviassem, até dia 22, dados atualizados sobre a população de lobos e o seu impacto.
Com base nos dados recolhidos, a Comissão irá decidir sobre a necessidade de apresentar uma nova proposta sobre o estatuto de proteção do lobo e atualizar o quadro legal.
Sete associações ambientalistas portuguesas haviam já manifestado preocupação com a possibilidade de revisão do estatuto de proteção do lobo, com os mesmos argumentos, “tom negativo” das declarações da Comissão Europeia e falta de base científica.
Atualmente, os lobos e outros grandes carnívoros são espécies protegidas na União Europeia, ao abrigo da Diretiva Habitats e da Convenção de Berna.