Em Odemira, a análise dos solos e práticas silvícolas que melhoram o terreno e a retenção de água, permitem produzir com sucesso.
A sul, junto ao mar, no concelho de Odemira, a The Navigator Company encontrou um desafio em termos de clima e solo, a que respondeu com uma gestão florestal adaptada à região, que permite produzir de forma eficiente eucalipto, onde outras espécies têm mais dificuldade em conseguir obter rentabilidade.
Manuel Patrício, dá disso testemunho. Na Caniveta, propriedade que arrendou à Navigator, há oito anos, em Odemira, e que a companhia rearborizou com planta clonal em 27 hectares, espera “uma produtividade de 12 a 14 metros cúbicos de madeira por hectare e por ano.” Noutra área, que o próprio gere com uma plantação antiga, a rentabilidade não ultrapassa os 6 a 8 metros cúbicos.
Na propriedade Vale de Beja, da Navigator, existem mais de 20 tipos de solo, o que faz variar muito as produtividades quando não existe um trabalho científico de escolha de plantas como aquele que é realizado pela companhia a partir da análise inicial de Zonagem realizada pelo RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, um laboratório de R&D detido pela Navigator, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia. Só nesta propriedade foram identificadas 36 Zonas Homogéneas, que resultam da combinação de dois tipos de clima com 27 tipos de solos (ou associações de solos) diferentes. “É este conhecimento prévio que nos permite adequar a preparação do terreno, escolher o adubo mais adequado e o clone mais adaptado. Nas zonas mais produtivas, plantamos clones que produzam mais, e nas zonas menos produtivas escolhemos clones que, ainda que produzam menos, são mais rústicos e mais resistentes à seca e às pragas, minimizando, assim, a perda de produtividade”, explica António Aires, coordenador da Zona Sul do Departamento de Produção e Exploração Florestal da Navigator.
Na Caniveta, propriedade arrendada à Navigator, e que a companhia rearborizou com planta clonal, o dono, Manuel Patrício, espera “uma produtividade de 12 a 14 metros cúbicos de madeira por hectare e por ano.” Noutra área, que o próprio gere com uma plantação antiga, a rentabilidade não ultrapassa os 6 a 8 metros cúbicos.
A escavar numa área rica em areias e arenitos – o que dá origem a solos mais inertes, com pouca fertilidade e baixa retenção de água –, Filipe Sousa, do RAIZ, observa o solo e afirma que tem sido feita “uma mobilização adequada, com base num anterior estudo de Zonagem. Com isso foi conseguido criar um bom volume de terra para as raízes, com mais matéria orgânica e maior volume de água, o que está visível na boa distribuição radicular das plantas”. Num solo mais compactado, as raízes não conseguiriam furar e ficariam limitadas se não houvesse disponibilidade de água. Agora, “diria que já estamos perante um solo que poderá ter um potencial 4”, explica o técnico. Cláudio Teixeira, coordenador dos Serviços de Apoio Técnico Florestal do RAIZ, acrescenta: “O solo torna-se mais evoluído, mais fértil, e a diferença pode tornar-se visível ao fim de uma rotação de 12 anos.”
Parte da tomada de decisão para potenciar, de forma sustentável, a produtividade, passa também pela escolha da planta de eucalipto. A diversidade de solos existente no concelho de Odemira, onde a Navigator gere 15.464 hectares, exigiu a utilização de 14 clones diferentes. Além disso, e sempre que se justifique pelas condições encontradas, a companhia tem muitas outras espécies plantadas, destacando-se mais de 1.150 hectares de sobreiro e 107 hectares de medronheiro.
Dinamização da economia
Na Zona Sul, a Direção de Gestão Florestal da Navigator gere mais de 34 mil hectares em 445 propriedades distribuídas por 19 concelhos e 47 freguesias, sendo 62% área própria. Na campanha de 2022 foram plantados cerca de 1.700 hectares. Esta atividade florestal “mexe com a economia local”, confirma Manuel Campos, presidente da Junta de São Luís, a maior freguesia do concelho de Odemira. “Dá trabalho a centenas de pessoas e aos restaurantes, o que é muito importante. As atividades de lazer na floresta, como os percursos pedestres da Rota Vicentina, também atraem muitos turistas, portugueses e estrangeiros”, refere.
Muitos trilhos, percorridos quase diariamente por visitantes, atravessam as propriedades da Navigator, que não estão vedadas. Cerca de 10 quilómetros desses percursos fazem parte da Rota Vicentina. Um deles, na propriedade de Vale de Beja, passa muito próximo do antigo posto de vigia florestal do pico de São Domingos, onde é possível contemplar uma vista de 360°, do mar até ao interior. A pedido do Município de Odemira, a Navigator estabeleceu em torno da torre uma área não produtiva. As duas entidades estão em contacto no sentido de estabelecer uma parceria para a recuperação do espaço, que pode tornar-se um miradouro emblemático da região.
O autarca de São Luís, Manuel Campos, concorda que este dinamismo só é possível porque “a floresta da indústria está muito bem gerida, com os caminhos limpos”. O proprietário Manuel Patrício refere que “enquanto grande empresa, a Navigator trata muito melhor das áreas florestadas do que os pequenos proprietários, além de andar sempre em cima da prevenção dos incêndios”. Relativamente a este último ponto, António Aires destaca que “neste tipo de solo e de clima o nível de crescimento do eucalipto não é muito elevado, mas ainda assim permite atingir uma produtividade anual por hectare que é rentável. São poucas as espécies que conseguem aqui rentabilidade, por forma a permitir fazer gestão e diminuir o risco de fogo”. Nos últimos anos, a Navigator implementou mais de 524 hectares de Faixas de Gestão de Combustível na Zona Sul.
Para o comandante dos Bombeiros Voluntários de Odemira, Luís Oliveira, a gestão florestal é mesmo a questão mais importante, porque, em caso de incêndio, “também evita que a propagação se torne cada vez maior, independentemente da espécie”. No teatro das operações, a sua corporação de bombeiros conta com o apoio dos meios da Afocelca, a empresa de proteção florestal financiada pela indústria da pasta e papel. Além disso, lembra o presidente da Junta de São Luís, “as equipas da Afocelca também ficam aqui alojadas na zona, o que tem mais um impacto económico positivo”.
Nota: Excerto do texto originalmente publicado na revista Produtores Florestais nº 10, de maio de 2023, que pode descarregar aqui, para ler na íntegra.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.