As produções de gado e soja são as principais responsáveis pela devastação e desflorestação ambiental na Amazónia brasileira, disse à Lusa o gerente de projetos de agricultura sustentável na Amazónia e no Cerrado da Earthworm Foundation Brasil.
“A conversão de áreas naturais para produção de gado e soja” são os dois principais fatores que levam ao desmatamento, frisou João Carlos Barbosa da Silva, que falou à Lusa à margem da Chocolat Amazónia e Flor Pará, que aconteceu entre os dias 26 e 29 de setembro, em Belém, estado do Pará, com a presença de centenas de pequenos produtores de cacau da região, que procuram o balanço entre a sustentabilidade da maior floresta tropical do mundo e o cultivo desta espécie originária do Brasil e da Amazónia.
O avanço dos produtos primários, produzidos em grande escala, comercializados em mercados internacionais, está ”sem dúvida alguma” diretamente relacionado com a destruição ambiental, sublinhou o responsável brasileiro da organização sem fins lucrativos que promove as boas relações entre as pessoas e a natureza.
A procura por esse tipo de produto, insistiu, “é a oportunidade para produtores e fazendeiros expandirem as suas áreas” e gerarem mais riqueza.
Um levantamento inédito do MapBiomas, do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima e formado por organizações não-governamentais (ONG), universidades e empresas de tecnologia, divulgado na quinta-feira, demonstra que a pastagem foi a principal finalidade do desmatamento da Amazónia entre 1985 e 2023.
Em 39 anos, o crescimento da área de pastagem na Amazónia foi de mais de 363% (de 12,7 milhões de hectares para 59 milhões de hectares em 2023) . No ano passado, 14% da Amazónia brasileira já era pasto.
No estudo aponta-se ainda que a área agrícola cresceu 47 vezes na Amazónia entre 1985 e 2023, passando de 154 mil hectares para 7,3 milhões de hectares.
“A quase totalidade (97%) da área agrícola mapeada na Amazónia é de lavouras temporárias, com predomínio da soja, que responde por 80,5% do total”, lê-se.
João Carlos Barbosa da Silva, um dos palestrantes do evento que terá uma edição de 24 a 27 de outubro em Vila Nova de Gaia (Portugal), considerou ser “imperativo” regulamentar e implementar “ferramentas nacionais como o código florestal” para garantir que o “ciclo de desenvolvimento económico seja [um ciclo de] desenvolvimento socioambiental”.
Só assim serão respeitados aqueles “que vivem de bioeconomia, como a exploração do açaí, cacau, exploração da floresta plantada e produtos florestais não madeireiros”, disse.
A tónica terá de ser centrada em trabalhar para que não exista conflito entre ambos os grupos, “preservando aquilo que deve ser preservado, mas aproveitando também aquilo que deve ser aproveitado do ponto de vista legal”, salientou.
Até porque, justificou, é insustentável o “desenvolvimento desenfreado de extrair recursos naturais e convertê-los em recursos monetários”.