A fundação de Graça Machel pediu hoje desculpa ao ministro da Agricultura moçambicano, Celso Correia, depois de o ter acusado de minimizar a insegurança alimentar no país.
“Espero que com esta nossa aparição aqui consigamos pedir desculpas, se o ofendemos”, referiu Joaquim Oliveira, diretor da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), criada e liderada pela ativista social, antiga primeira-dama de Moçambique e África do Sul.
Aquele responsável falava hoje num evento público de apresentação de um relatório sobre segurança alimentar em Moçambique.
“A nossa carta tem diversas incongruências”, acrescentou, acerca do documento público que há duas semanas contrariou um anúncio feito por Celso Correia de que “90% da população [moçambicana] tem alimentação segura, ou seja, já consegue ter três refeições por dia”.
Na altura, a FDC reagiu em comunicado, dizendo que “a informação prestada pelo ministro contrasta com a realidade vivida por milhões de cidadãos em Moçambique”.
“Morre-se de fome no nosso país”, mencionou a organização.
O governante apresentou hoje um relatório juntamente com parceiros, reiterando que a percentagem de população em insegurança alimentar aguda é de 10% e, sobre a referência às três refeições, disse que falava de uma possibilidade que se abre.
“Não [quer dizer] que tem. Vamos ver se consegue” ter essas refeições, disse.
“Aqui na sala, muitos têm rendimento suficiente para ter três refeições e não têm por causa dos seus hábitos alimentares”, acrescentou.
“Eu, provavelmente, até talvez não tenha: acordo de manhã e já estou a voar. Mas devia ter” e por isso referiu na altura que em Moçambique era preciso “melhorar a dieta”, justificou-se Celso Correia.
O relatório hoje apresentado indica que não há população na classificação formal de ‘fome’ segundo os indicadores internacionais – a mais grave classificação de todas, mais que a insegurança alimentar, segundo o IPC (sigla a partir da designação inglesa: Integrated Food Security Phase Classification).
“Tecnicamente, acho que a FDC tem de trabalhar”, referiu, apontando falhas na informação divulgada e salientando que “foi a crítica da FDC que sustentou 90% do debate e que gerou indignação” nas últimas semanas em Moçambique.
Celso Correia insurgiu-se contra a expressão usada pela organização – ao referir “morre-se de fome” em Moçambique -, considerando que alimenta uma “indústria de miséria”, sem que o país tenha população na classificação de ‘fome’ dos indicadores internacionais.
O ministro disse que a afirmação serve para “projetar um país de miséria, para mobilizar recursos”, só que depois há “o custo de administração, 30%, que fica no gabinete, depois tem ‘workshop’” e o dinheiro “não chega às tais pessoas” que dele necessitam.
“São biliões de dólares para ciclos de apoio que depois não têm sequência. É dar alimento e depois não sabemos como a família fica. Não contem comigo para perpetuar a indústria da pobreza e da miséria”, referiu o governante, sendo aplaudido pela plateia.
“Chega de usar o sofrimento do povo para mobilizar recursos para meia-dúzia”, acrescentou, questionando depois se “o governo não pode dar resultados positivos” por causa da referida “indústria”.
Na resposta, Joaquim Oliveira referiu que a FDC não quer “fazer parte daquela indústria”.
“Nós queremos fazer parte deste paradigma novo” de capacitação de produtores, anunciado pelo governante, concluiu.
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