A Freshfel Europe (Associação Europeia de Hortofrutícolas Frescos) divulgou recentemente a nova edição do seu “Monitor de Consumo” (“Consumption Monitor”), relatório anual que analisa as tendências de produção, comércio, fornecimento e consumo de frutas e legumes frescos na União Europeia (UE-27), com base em estatísticas do Eurostat e da FAOStat. Segundo o documento, relativo a 2022, o consumo médio de frutas e de legumes frescos na UE-27 foi de 350 gramas per capita por dia (g/capita/dia), o que representa uma descida de 5% face ao ano anterior e de quase 3% relativamente à média dos cinco anos anteriores.
Este número também fica mais de 12% abaixo do valor mínimo de consumo de frutas e de legumes frescos recomendado pela Organização Mundial de Saúde: 400 g/capita/dia. Em 2019, este número foi de 349,19 g/capita/dia e, neste contexto, a Freshfel Europe sublinha que «a tendência positiva que começou durante a pandemia de covid-19 foi limitada pela crise económica, devido ao impacto no poder de compra dos consumidores».
O documento indica que, em 2022, apenas seis países (onde se inclui Portugal) na UE-27 atingiram o número recomendado de pelo menos 400 g/capita/dia, o que deixa uma «grande margem» para melhorar e estimular o consumo. Quanto ao mercado de frutas e legumes frescos na UE-27, em 2022 este diminuiu em relação a 2021, para 71.350.965 toneladas.
«Esta redução terminou a tendência positiva que começou em 2020 com a pandemia de covid-19, a qual tinha alterado o estilo de vida dos europeus no sentido de uma abordagem saudável, além de ter melhorado a sua atitude em relação a causas ambientais e às alterações climáticas. Contudo, a partir de 2022, o consumo de frutas e legumes ficou sobre pressão na União Europeia devido ao impacto da crise económica, da subida dos preços e da inflação generalizada no poder de compra dos consumidores, limitando volumes e levando à procura pela opção mais amigável em termos de preço», afirma a Freshfel Europe. «Em tempos de incertezas económicas, os consumidores tendem a ir para uma dieta menos saudável, a qual é percebida como sendo mais satisfatória a nível energético e uma opção alimentar mais barata do que frutas e legumes. Além dos dados do Monitor de 2022, os dados preliminares de 2023 e 2024 confirmam as tendências em curso de declínio, as quais atingiram, em muitos casos, mais do que 10%, o que significa que o crescimento do consumo pós-pandemia foi agora totalmente perdido», assinala Philippe Binard, delegado geral da Freshfel Europe.
A entidade identifica, entre os seus membros, vários vectores comuns que guiam as tendências de consumo mais recentes: «o declínio das compras das famílias; as famílias de rendimentos mais baixos são as que estão a sofrer mais impacto deste declínio; os produtos premium e biológicos estão sob pressão; maior frequência de compras, mas com quantidades mais reduzidas; menor volume de vendas parcialmente compensado por preços mais altos». A Freshfel Europe defende que as estratégias, políticas e medidas da União Europeia não tiveram sucesso na ambição de «uma transição para uma dieta mais saudável e mais amiga do ambiente», que «falhou a oportunidade para instaurar uma discriminação positiva das frutas e legumes frescos» e que «as frutas e os legumes devem ser considerados como bens públicos e como parte da solução para desafios societais e, como tal, classificados como produtos essenciais».
«As orientações nutricionais nacionais, as recomendações do Conselho Nórdico e os cientistas da EGEA concordam que a ambição e a meta de consumo precisam de ser aumentadas para 800 g/capita/dia. Embora exista consciência, muitos obstáculos ainda impedem o crescimento. Os benefícios das frutas e legumes devem ser melhor reconhecidos na política de promoção, mas também no debate futuro sobre taxonomia. Além disso, as percepções erradas sobre preços ou segurança devem ser abordadas para que os consumidores possam fazer escolhas informadas. Paralelamente, o sector deve continuar os seus esforços e inovação no sentido de mais conveniência, melhor sabor e textura, direccionar as acções de promoção para os mais jovens e procurar apoios para que a fruta e legumes frescos sejam acessíveis e estejam bem presentes nas famílias mais carenciadas e de menores rendimentos», refere Philippe Binard. «As frutas e os legumes têm muitos activos e são uma opção alimentar acessível para os consumidores europeus. O sector das frutas e legumes e as autoridades públicas devem unir forças para construir uma atitude de consumo sustentável baseada nos benefícios das frutas e legumes frescos para o planeta, o clima e a saúde dos próprios consumidores. Não pode haver compromisso quanto à urgência das acções necessárias para enfrentar o desafio do consumo, mais especificamente entre a geração mais jovem», realça a Freshfel Europe.
O artigo foi publicado originalmente em Revista Frutas Legumes e Flores.