A floresta europeia estende-se por quase 40% do território do “velho continente” e traz aos 27 países da União Europeia mais de 3 milhões de empregos e um valor bruto anual superior a 200 mil milhões de euros. Mas quais os países com mais floresta na Europa? Serão eles os que mais contribuem para o emprego e valor criado por este sector?
A floresta cobre cerca de 39% do território da União Europeia (excluindo lagos e grandes rios). Em 2022, a floresta europeia totaliza cerca de 160 milhões de hectares, um aumento de cerca de cerca de 500 mil hectares relativamente a 2020.
Estes são alguns indicadores divulgados pelo Eurostat, em Forests, forestry and logging, uma edição que reúne e dá a conhecer os grandes números da floresta europeia e que permite traçar um breve retrato das florestas e do seu valor nos 27 estados membros da União Europeia (EU-27).
Olhando para estes países, é desde logo percetível uma grande variação na extensão das suas florestas, como ilustram bem os mais de 60% de superfície terrestre que elas cobrem na Finlândia e Suécia, os dois países mais florestados da UE, face aos 1,5% de Malta, os 9,7% nos Países Baixos (Holanda) ou aos 11,6% na Irlanda.
Entre os dois extremos estão vários países mediterrânicos, como Espanha (37%), Portugal (36%), Itália (32%) e Grécia (30%).
Outra estatística divulgada pelo Eurostat – Area of Wooded Land (FAO, FE) – permite conhecer a evolução da floresta europeia até 2020 e revela que, desde 1990, a sua área na EU-27 tem vindo a aumentar. Embora tenham sido registadas ligeiras reduções na Suécia (-0,3%) e em Portugal (-2,56%), outros países, como Irlanda, Espanha, Malta e Itália, mais do que compensaram estas pequenas perdas, com crescimentos superiores a 20% na sua área florestada.
Se considerarmos a floresta de toda a Europa, incluindo os países que não integram a UE, ela representa 25% da floresta global, indica o Global Forest Resources Assessment 2020 (FRA 2020, da FAO), mas só a Rússia representa 20% da floresta no mundo. Recorde-se que globalmente (e de acordo com a mesma fonte), as florestas cobrem perto de um terço da área terrestre do planeta, 31%, que equivalem a 4,06 mil milhões de hectares.
Cerca de 93% da área florestal europeia (70%, se não considerarmos a Rússia) é considerada como área florestal de regeneração natural e os restantes 7% (30% excluindo a Rússia) como floresta plantada. Os 75,2 milhões de de hectares de floresta plantada europeia dividem-se em 4,5 milhões de hectares de plantações florestais e 70,7 milhões de hectares de outra floresta.
Focado na floresta europeia, o State of Europe’s Forests 2020 (SoEF 2020, do FE) indicava que cerca de 94% das florestas europeias eram seminaturais, 3,8% eram plantações florestais e apenas 2,2% florestas não perturbadas.
Madeira em crescimento: um indicador relevante do valor da floresta europeia
A área florestal não é, no entanto, a única medida a ter em consideração para conhecer a importância socioeconómica da floresta europeia, já que para o valor e o emprego por ela gerados contribuem vários outros fatores, entre os quais o número de árvores (densidade dos povoamentos) e a respetiva dimensão (altura e diâmetro), indicadores da quantidade de madeira disponível.
Assim, apesar de a Suécia, Finlândia e Espanha serem os três países da UE com mais área florestal em 2022, (perto de 28 milhões, mais de 22,4 milhões e quase 18,6 milhões de hectares, respetivamente), é a Alemanha que tem a maior quantidade de madeira em crescimento. Com uma área de floresta de 11,48 milhões de hectares, a Alemanha tem cerca de 3,79 mil milhões de m3 de volume de madeira em crescimento, um valor próximo dos 3,62 mil milhões de m3 da Suécia, que tem uma área de floresta quase 2,5 vezes superior.
Seguem-se a França, Polónia, Finlândia e Roménia, com valores acima dos 2 mil milhões de m3 de madeira em crescimento em 2022 em áreas de floresta que variam entre os 22,4 milhões de hectares na Finlândia e os 6,99 milhões na Roménia.
Portugal, com 3,3 milhões de hectares de florestas, dispunha, em 2022, de cerca de 181 milhões de m3 de madeira em crescimento, o que o colocava na 21ª posição no conjunto dos países da União Europeia. Apesar da nossa área e potencial de produtividade ser considerável no contexto da floresta europeia, temos uma posição modesta em termos de volume de madeira em crescimento.
À semelhança do aumento da área florestal, o volume de madeira nas florestas na EU-27 também tem vindo a crescer desde 2000. Em países como a França, Itália, Espanha, Bulgária ou Irlanda, o crescimento mais significativo deste volume resulta de um aumento mais pronunciado da área florestal.
Embora esteja longe de ser a única matéria-prima proveniente da floresta europeia, é a madeira disponível que dita parte significativa do valor da silvicultura e exploração florestal, assim como do valor gerado pelas indústrias de base florestal. Estas duas áreas de atividade têm importância no desenvolvimento económico e social de muitas regiões dos estados-membros, nomeadamente as rurais.
Silvicultura: VAB acima dos 27 mil milhões de euros e cerca de 500 mil empregos
Silvicultura e exploração florestal foram avaliadas na União Europeia em 50,53 mil milhões de euros e criaram um VAB – Valor Acrescentado Bruto de 27,88 mil milhões de euros, em 2020, o último ano com valores apurados em todos os países da UE-27.
Os cinco países com maior volume de madeira em crescimento – Alemanha, Suécia, França, Polónia e Finlândia – não foram, contudo, aqueles com maior rendimento das atividades florestais e os que mais contribuíram para o VAB da silvicultura e exploração florestal. Os maiores contributos vieram, respetivamente, da Finlândia, França, Suécia, Itália e Polónia. O contributo da Alemanha foi inferior ao destes países e da Roménia. Luxemburgo apresentou um VAB negativo, pois os valores de venda não conseguiram cobrir os custos de produção.
Em termos do contributo económico da Silvicultura e atividades relacionadas, a área florestal da Suécia rendeu quase 9 milhões de euros em 2020, seguindo-se os perto de 6 milhões da França, 5,5 milhões da Finlândia e os cerca de 5 milhões da Alemanha e da Polónia.
Já o emprego associado à floresta europeia gerava cerca de 511 mil postos de trabalho em 2020. Um dos fatores principais é a capacidade de aplicação de maquinaria, que reflete não só as características das florestas, mas também das espécies e da topografia de cada país. Isto ajuda a explicar porque países com maior área florestal, mas com uma maior tradição de silvicultura e maquinaria florestal, como a Alemanha (40 mil trabalhadores), tenham menos pessoas ao serviço do que, por exemplo, a Polónia (73,5 mil trabalhadores), a Suécia (61 mil) ou a Roménia (52,4 mil trabalhadores).
A Europa tem florestas diferentes, que refletem as condições climáticas, tipos de solo, topografia e altitude dos diversos países. Das florestas boreais de coníferas do Norte, passando pelas florestas mistas e de folhosas até regiões de transição com arbustos, a diversidade de recursos reflete-se no rendimento e tecnologias disponíveis no território rural.
Madeira é matéria-prima central para o valor da floresta europeia
O rendimento das áreas florestadas resulta das árvores em crescimento em áreas geridas e da madeira em bruto (rolaria ou madeira em troncos), mas também dos produtos não lenhosos, como a cortiça por exemplo, e de vários outros produtos e serviços, muitos deles tipicamente não contabilizados, como é o caso dos serviços do ecossistema.
Sendo o principal produtor de cortiça na União Europeia, Portugal é um dos que mais valor gera com os produtos não lenhosos, com 19,2% do rendimento da silvicultura e exploração florestal a eles associado: 287,77 milhões de euros, de um total de 1498,4 milhões de euros em 2022.
Mas a grande parte dos rendimentos da floresta europeia vem da madeira e dos seus principais produtos primários: a rolaria industrial (madeira em troncos), e a lenha. A primeira é um recurso base para as indústrias de derivados de madeira (madeira serrada, folheados, papel e polpa) e a segunda, onde se inclui também a madeira para carvão, é fonte de energia renovável por toda a Europa.
A produção estimada de madeira em bruto na UE chegou perto dos 510 milhões de m3 de madeira (volumes com casca), em 2022. Cerca de 75% tem um destino industrial, fornecendo as várias indústrias do sector. Os restantes 25% são usados para a produção de combustível.
Existem, no entanto, alguns países onde a produção de lenha tem um maior peso, como é o caso do Chipre e da Holanda, onde cerca de 80% da produção de madeira de rolaria dá origem a lenha. No extremo oposto temos países como a Eslováquia e a Suécia em que apenas 8% da madeira em bruto é usada para lenha e carvão.
Na Europa, a grande família de espécies florestais que mais contribui para rolaria e lenha é a das coníferas, onde se incluem pinheiros, abetos, piceas e espruces, que representa quase 70% do volume de madeira explorado. Os restantes 30% são provenientes de espécies folhosas, como como carvalhos, eucaliptos, faias e bétulas.
Há duas áreas principais na utilização da rolaria industrial: uma é a madeira serrada e folheados, e a outra a pasta. Em termos relativos, cerca de 90% da rolaria industrial do Chipre e da Croácia é usada para madeira serrada e folheados. Seguem-se países como a Alemanha, Áustria, Eslovénia e Roménia que usam cerca de 75% da rolaria industrial para este fim. No outro extremo temos países como Portugal, que usa 80% da rolaria para fazer pasta, Holanda (61%), Espanha (57%), Finlândia (54%), Bulgária (52%) e Polónia (50%).
Indústria florestal: 175,4 mil milhões de euros de VAB e 3 milhões de empregos
Parte importante do sector transformador da União Europeia, as indústrias de base florestal dividem-se em quatro categorias – produtos de madeira e cortiça, produtos de papel (incluindo pasta), mobiliário e impressão e serviços relacionados – que englobavam, em 2022, cerca de 410 mil empresas, quase 20% do tecido empresarial no sector transformador da Europa a 27 (que totalizava 2,145 milhões de indústrias).
Juntas empregavam cerca de 3 milhões de pessoas (de um total de pouco mais de 30 milhões de pessoas empregadas nas indústrias da UE) e geraram um VAB de cerca de 175,4 mil milhões de euros, o equivalente a 7,2% do VAB da indústria transformadora da EU-27 (que totalizou 2420 mil milhões de euros em 2022).
Se observarmos as quatro categorias de atividade, concluímos que o sector dos produtos de madeira e cortiça é o que tem mais empresas, 39%, mas não é o que gera maior valor: 31% do VAB.
O mobiliário, com 32% das empresas, cria percentagem inferior de VAB, 21%, e o mesmo acontece com a impressão e serviços relacionados que, apesar de terem 24% das empresas, trazem o contributo mais modesto para o VAB, de 14%.
Madeira e cortiça e mobiliário, com mão-de-obra mais intensiva, trazem os maiores contributos para o emprego – cada um deles é responsável por 31% dos postos de trabalho.
As empresas de papel e pasta, embora em menor número – apenas cerca de 5% do total do sector – são as que mais valor geram: responsáveis por 34% do VAB, num reflexo da sua dimensão e produtividade.
Considerando o ranking por quantidade de madeira de rolaria industrial produzida (quantidade de matéria-prima que vai alimentar as indústrias), a análise destes mesmos indicadores por país revela variações de acordo com o indicador considerado.
Suécia e Finlândia, os países com maior volume de rolaria industrial além da Alemanha, são ultrapassados por outros como a Itália e França, que geram os valores mais elevados de VAB (a seguir à Alemanha).
Em número de empresas, as diferenças são ainda mais significativas. Por exemplo, Suécia e Finlândia apresentam números baixos, o que pode ser traduzido por menos empresas de grande dimensão e elevada produtividade.
Outros países com contributo inferior para o VAB, como Itália, Polónia, Alemanha, França, República Checa ou Espanha, têm elevado número de empresas.
Grandes números da floresta europeia (UE 27) Grandes números da floresta portuguesa
• 160 milhões de hectares de áreas florestais, 39% do território da União Europeia (excluindo lagos e grandes rios); • 3,34 milhões de hectares de áreas florestais, 36% da área terrestre nacional (excluindo lagos e grandes rios);
• 27,88 mil milhões de euros de VAB gerado pela Silvicultura e exploração florestal (2020); • 870 milhões de euros de VAB gerados pela silvicultura e exploração florestal (2020);
• 75% da produção de madeira em bruto (troncos) alimentou indústrias florestais (deste total, 44% foi para indústrias de madeira serrada e folheados e 30% para indústrias de polpa/pasta e 1% para outras aplicações). Restantes 25% geraram lenha e carvão; • 81,3% da produção de madeira em bruto (troncos) alimentou as indústrias florestais (deste total, 65% para polpa/pasta e 14% para madeira serrada e folheados 2% para outras aplicações industriais). Restantes 19% foram para lenha e carvão;
• 175,4 mil milhões de euros de VAB gerado pelas indústrias de base florestal (2022). Pasta e papel é a que mais contribui, com 34,3%, embora tenha só 4,5% das empresas no sector; • 4,1 mil milhões de euros de VAB gerados pelas indústrias de base florestal (2022). Maiores contributos vêm da indústria da pasta e papel, responsável por 43% deste valor;
• 3 milhões de empregos na indústria florestal, o que equivale a 10% do emprego na indústria transformadora europeia (2022). Indústria do mobiliário e dos produtos de madeira são os maiores empregadores, cada uma a gerar cerca de 31% dos postos de trabalho. • 13% do total do emprego na indústria transformadora assegurado pelas empresas de base florestal (2022). Maiores contributos vêm do mobiliário (38%) e dos produtos de madeira e cortiça (32%).
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.
