Numa altura em que a maior parte das instituições internacionais revê em baixa o crescimento de 2019, a Fitch acaba de contrariar essa tendência no que toca a Portugal. A agência de rating reviu em alta o PIB deste ano de 1,5% para 1,6% numa publicação sobre a economia portuguesa divulgada esta segunda-feira, 25 de fevereiro.
Apesar da revisão em alta, a projeção da Fitch é das mais pessimistas, aproximando-se apenas da previsão feita pela Comissão Europeia na atualização de fevereiro (1,7%). A justificar esta revisão em alta está a expectativa de que as subidas de juros do Banco Central Europeu (BCE) sejam adiadas para lá do verão deste ano, o que deverá impulsionar o consumo privado.
A agência assinala que a continuação do ambiente de baixos juros ajudará a baixar os custos com a dívida pública assim como os do setor privado. “Juros mais baixos durante mais tempo vão também ajudar a impulsionar o investimento, com a construção residencial a ser provavelmente o maior motor nos próximos trimestres”, antecipa a Fitch, referindo que o número de novas casas aprovadas para construção aumentou 40% em 2018 (até novembro).
Mas não é só a construção que vai dinamizar a economia. A agência de rating dá destaque ao setor da agricultura – que tem vindo a perder peso ao longo das últimas décadas – que deverá ter uma oportunidade para “brilhar” nos próximos trimestres uma vez que há investimento direto estrangeiro a chegar à zona do Alqueva, o que também poderá ajudar as exportações.
Em causa está a região do Alentejo – e o projeto do Alqueva, uma “fonte de água fidedigna” – que se tornou o “ambiente ideal para crescer uma série de plantações, incluindo azeitonas e amêndoas”. “Os investidores estrangeiros estão a derramar capital na produção de amêndoas em particular”, destaca a Fitch.
Para 2020 a agência continua a prever um crescimento de 1,3%.
PS ganha eleições, mas travagem económica traz problemas
Os analistas antecipam a vitória do Partido Socialista, mas sem maioria, o que deverá obrigar à formação de um Governo com uma coligação à esquerda.
“As hipóteses da atual aliança que lidera o país são reforçadas pela forte economia e a turbulência no maior partido de centro-direita da oposição [o PSD]”, refere a nota divulgada hoje, em linha com o que disse o diretor dos ratings soberanos da Fitch, Douglas Winslow, ao Negócios no final de janeiro.
Apesar de dar a vitória à esquerda, indicando continuidade face à política atual, a Fitch diz que há “espaço para alguma incerteza uma vez que a travagem da economia nos próximos anos irá afetar as receitas fiscais e vai testar o compromisso do Governo com a consolidação orçamental”. A agência recorda que a dinâmica económica tem permitido, até agora, baixar o défice e a dívida pública sem cortar despesa, mas tal poderá mudar.
“Com o crescimento da economia a caminho da desaceleração, o PS irá provavelmente confrontar-se com uma escolha entre manter a despesa e aumentar o défice orçamental e a dívida pública ou reduzir a despesa de forma a manter a consolidação orçamental”, resume a agência de rating, assinalando que a primeira opção irá “levantar tensões com a União Europeia” e a segunda irá “enfurecer os parceiros de coligação do PS e uma grande parte do eleitorado”.